Bola de Couro
A trapalhada do Coritiba na sessão de julgamento de ontem no STJD vai ficar para o folclore da história jurídico-desportiva.
Não vou repetir o noticiário e nem o texto da nota oficial do Coritiba, mas basta comparar o que mostrou um meio de comunicação que acompanhou em tempo real o julgamento e o esclarecimento para concluir com facilidade que o clube foi ingênuo, senão arrogante e despreparado.
Diante de uma pena rigorosa e excessiva – embora a gravidade do fato – a Procuradoria do STJD (o dono da ação disciplinar) contra-ofertou sete jogos de suspensão e pena pecuniária de R$ 230 mil, em face da oferta do clube de redução para seis jogos e pagamento de R$ 200 mil. Um jogo a mais do que a proposta, ou oito a menos do que a pena, restando quatro por cumprir, e insignificantes R$ 30 mil recusados, para resultar na manutenção da condenação e o afastamento do segundo jogador mais importante do time por aproximadamente um terço do campeonato.
A explicação da nota oficial de que o clube posteriormente aceitou a proposta e que ela poderia ser feita a qualquer momento do julgamento, se juridicamente pode ser correta, em termos de estratégia jamais. Àquela altura o procurador já tinha votos pela confirmação da condenação e certamente estava contrariado, se não irritado, com a obstinação despropositada do clube em não aceitar uma transação bastante favorável (fique claro que ele podia recusar, não cabendo ao tribunal). Se o advogado do Coritiba não estava autorizado pelo clube a aceitar outra forma de transação e não tinha poder – como é comum em juízo – para decidir pelo que era melhor para o cliente, a esta altura dificilmente isso será esclarecido. Em um outro caso tratou-se de evidente erro de condução dos interesses do clube.
Não sou praticante de poker, mas gosto muito de truco, o paranaense (não me adaptei ao truco gaúcho). Jogo seguidamente com meus familiares, aqui e em Curitiba (a modéstia me impede dizer que jogo muito bem). No poker é da essência do jogo o “blefe” e no truco o “facão”. Mas dar facão no truco, assim como imagino seja blefar no poker, pressupõe que você tenha domínio da situação do jogo, não necessariamente das cartas, mas do que já ocorreu ou está por ocorrer, de suposição de que cartas tem o adversário e do seu ânimo naquele momento, do número de pontos que cada um tem e especialmente de sentir segurança e ao mesmo tempo possível fragilidade do adversário.
Pois o Coritiba ontem atuou no julgamento como um amador que joga truco pela primeira vez. Não tinha boas cartas e sabia que o adversário as tinha e já tinha feito a "primeira", mas mesmo assim bateu pé na proposta pensando que com ela assustaria o oponente (leia-se procurador). Trucou sem cartas contra o casal maior e depois que o adversário levantou para seis quis recuar. Assim não dá para jogar.
Em tempo. Para não dizer que não falei em futebol, excelente a vitória de ontem. Espero que não seja um fato isolado e que outras venham para apagar um pouco a fase negativa dos sete jogos sem vencer.
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