Bola de Couro
Continuando a abordagem sobre a possibilidade da construção de novo estádio para o Coritiba, passo a analisar, rapidamente e com visão de torcedor, as propostas a partir de alguns dados, imagens e a localização prevista para cada uma. Não chamo as propostas de “projetos”, pois estes dependem de muitos dados técnicos e o que está sendo mostrado são apenas maquetes em slides, sem especificações e maiores detalhes. E mais não fosse eu não tenho conhecimento para me atrever a falar sobre viabilidade técnica e arquitetônica, a respeito das quais me manifestarei apenas como um amador e torcedor fiel do Coritiba.
Pois bem, são seis as propostas, duas previstas para o local onde estão as ruínas do Pinheirão, uma na Cidade Industrial e três no local do atual Couto Pereira, apresentadas que estão nesta ordem no arquivo.
As duas primeiras são previstas para área em local que todos conhecem no bairro Tarumã, onde se encontra o que restou do Pinheirão. Segundo o Google Maps, a área dista 15 quilômetros do centro de Curitiba, com tempo de percurso em momento sem trânsito intenso, estimado em 16 minutos. A área do Pinheirão tem aproximadamente 120.000 metros quadrados.
Em uma das propostas para esse local a previsão é de área construída de 210.000 m2 com capacidade para abrigar 41.540 pessoas, e em outra de 380.000 m2, com público estimado em 40.000 pessoas. Não são apresentados detalhes específicos, mas certamente ambas devem conter os requisitos exigidos pelo Coritiba como mínimos para todos os projetos (padrão Fifa, capacidade mínima para 40.000 pessoas, possibilidade de shows e outros eventos, helipontos, estacionamento, restaurantes, comércio e outros). Também não é indicada qual a capacidade dos estacionamentos nestas proposições, quesito importante, mas que diante das dimensões da área certamente deverão ser amplos.
A terceira sugestão prevê o novo estádio na Cidade Industrial, em terreno localizado na Avenida JK (referência de proximidade: Cassol, Bosch e New Holand) com 220.000 m2, no qual se encontra encravado uma área da Prefeitura Municipal com 37.000 m2 que aparece também nesta proposta. O resumo não esclarece se este último terreno integraria o complexo, e em caso positivo nada refere sobre se a área pública seria cedida, onerosa ou gratuitamente. De acordo com o Google Maps, da Praça Tiradentes até as proximidades do local indicado, na Avenida JK, a distância é de 18,5 km e o percurso, sem trânsito intenso, seria de 25 minutos. Esta proposta prevê área construída de 256.000 m2, capacidade do estádio para 40.000 pessoas e construção de outras sete edificações, além do estádio propriamente dito, destinadas a lazer (ex. cinemas), outros esportes (ex. ginásio), saúde (ex. day hospital), eventos (ex. shows), educação (ex. biblioteca) e negócios (ex. hotel). Especifica previsão de estacionamento para 10.000 veículos.
Outras três propostas preveem a construção no novo estádio no local do atual, que seria demolido obviamente. O terreno tem 44.000 metros quadrados e a sua localização é bem conhecida de todos.
Uma delas prevê área construída de 134.000 m2, 3.000 vagas de estacionamento, lojas e restaurantes. A outra não indica dados como os últimos, mas somente que a área construída seria de 120.000 m2. E a terceira propõe a construção de 160.000 m2, contendo centros de gastronomia, convenção e comercial. Esta tem um visual ímpar, que me parece difere de qualquer estádio.
Pois bem, com esses dados, cujos detalhamentos certamente a diretoria tem e apresentou ao Conselho Deliberativo, atrevo-me a opinar sobre a conveniência de um ou outro, sempre, reafirmo, na visão de um simples torcedor e não de experto em arquitetura e técnicas afins.
Assim, por primeiro eu afastaria a proposta para construção na Cidade Industrial. Embora a distância do centro da cidade não seja tão grande assim, parece-me que em se tratando de área não residencial, e por isso pouco habitada em finais de semanas e feriados, os numerosos complexos comerciais (sete) previstos dificilmente terão sucesso e sua construção e conservação devem encarecer muito o projeto. Quanto ao terreno de propriedade do Município, a proposta não indica se será ele cedido para a possível construção do estádio, mas se o for certamente não será sem ônus, mais um fator então para aumentar o valor do empreendimento. A proposta é ambiciosa, mas sem dúvida exagerada. Afinal, queremos um novo e moderno estádio, mas nem tanto assim. Somos um clube de futebol e a exploração comercial deve ser um acessório para ajudar na manutenção da atividade fim e não foco principal.
Quanto ao local onde está o atual estádio, talvez a manutenção possa ser a vontade de maioria da torcida, ao que se colhe de manifestações em redes sociais, mas nenhuma pesquisa científica foi feita para se saber com segurança se é assim mesmo. O sentimento de amor ao local é inafastável, afinal estamos ali desde 1932, mas nem por isso devemos fechar os olhos para outras possibilidades que nos façam crescer. O atual Couto Pereira está em área central nobre, podendo ser facilmente atingido desde o centro da cidade, mas a mobilidade urbana é bastante reduzida, com as ruas no seu entorno não muito largas, e com pouquíssima área para estacionamento. Além do mais, se a previsão de construção é para três anos, ficaríamos sem casa por tempo muito longo, com consequente queda de arrecadações. Embora o amor pelo local que frequento há mais de cinquenta anos, do qual conheço cada canto e até o cheiro, eu deixaria de lado o sentimentalismo e colocaria como segunda opção o uso do local atual. E, importante, embora eu vá analisar o enfoque em coluna próxima, a obtenção dos recursos através de um fundo de investimento imobiliário não significa que é ele um “toque de Midas”, que de modo absoluto dará certo. Dependerá da participação majoritária do próprio Coritiba – fundamental – e especialmente de uma boa gestão. Assim, na eventualidade, talvez mínima, mas em tese possível, de má gestão que atrase ou que até impeça a conclusão do novo estádio, o atual Couto ficaria preservado. E até onde sei – mas vou estudar um pouco melhor – os fundos de investimento imobiliário não têm mecanismos de seguro ou garantidores que não os próprios recursos e gestão. Mas sobre isso falarei em próxima coluna.
Enfim, chegamos ao local que parece o melhor, não só para mim como para vários leitores que aqui se manifestaram, qual seja uma das propostas no Pinheirão. Está bem localizado, embora dependa de melhoria na mobilidade através da Prefeitura, e atende aos requisitos propostos pelo Coritiba, sem megalomania. E não nos submete a riscos, desde que, é fundamental, como o atual estádio será colocado como integralização das quotas do Coritiba no fundo, a entrega física e repasse da administração ocorram somente depois do recebimento do estádio novo.
Como sempre, estou aberto a ouvir argumentos em contrário e talvez ser convencido que outras opções ou modo de agir sejam melhores.
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