Bola de Couro
Hoje não vou falar sobre o futebol em campo e a boa vitória contra a Ponte Preta, assunto importante momentâneo, mas sobre enfoque que diz respeito ao futuro do Coritiba.
Tive acesso aos seis projetos propostos para um nosso novo estádio, bem como a fórmula pensada para o investimento.
Sei que projetos e maquetes apresentados através de recursos visuais modernos podem nos levar a entusiasmo precipitado e irreal. Assim também quanto aos requisitos e benfeitorias propostos e o modo de investimento previsto. Porém, mesmo com precauções, ditadas por consciência de maturidade e de responsabilidade, eu fiquei bem impressionado com o que está sendo pensado para o futuro patrimonial do Coritiba e, em consequência, o crescimento real do clube.
Antes de falar sobre as propostas e a visão que tive delas, vou me manifestar sobre considerações feitas por torcedores e jornalistas a respeito do anúncio da construção de um novo estádio.
Primeiro, há opiniões no sentido de que o Coritiba não poderia estar pensando em novo estádio quando o que preocupa é o time em campo, o qual nos últimos quatro anos nada mais fez do que lutar para se manter como mero coadjuvante da elite do futebol. Ora, sem dúvida todos queremos ter time melhor e competitivo em todas as disputas das quais participemos. Dizer diferente soa quase absurdo. Mas, amigos, uma coisa não tem a ver com a outra, até porque a ideia não é fazer um novo estádio com os parcos recursos do clube, mas sim através de um fundo de investimento imobiliário. Então, o andamento da construção de um novo estádio não vai influir, por si só, na evolução ou involução do time. Isso dependerá da administração do futebol. Depois de concluído e entregue um moderno estádio, aí sim penso que vários fatores concorrerão para crescimento seguro no futebol pelas maiores receitas decorrentes do aumento do número de sócios e da exploração inteligente do local, o que gerará um círculo virtuoso (mais receitas, melhores contratações, melhores times e títulos).
E sobre momento para construir um novo estádio, esperar o quê? Será que daqui a dez anos, mesmo que o time melhore, as condições de mercado e de potencial de crescimento serão favoráveis? E se esperarmos até lá outros não terão nos ultrapassado inapelavelmente? Como disse em texto anterior, Curitiba não é mais a cidade do futuro, é o futuro. E o Coritiba, tradicionalmente o clube de futebol que melhor representa a cidade e o Estado, não pode ficar assistindo inerte à visão e crescimento do rival, sendo levado aos poucos para lugar menor. É atribuído a Buda um pensamento: “Só há um tempo em que é fundamental despertar. Esse tempo é agora”.
Alguns também afirmaram que grandes clubes como os cariocas e os mineiros foram campeões brasileiros e internacionais sem ter estádios, o que levaria à conclusão de ser ele secundário para o sucesso. A premissa é equivocada e não leva a conclusão lógica favorável. Acontece que aqueles clubes têm em suas cidades excelentes estádios públicos, dos melhores do Brasil, o Maracanã e o Mineirão, daí não necessitarem dos privados.
Mas, perguntam outros, o que assegura que contando com um novo e moderno estádio o Coritiba irá crescer? Bem, exercício de futurologia nós não podemos fazer, o crescimento muito dependerá das administrações que se sucederem. Mas a história é farta de exemplos de clubes de futebol que cresceram muito a partir de um novo estádio. Aqui no Brasil, caso emblemático é o do São Paulo F.C., que depois da construção do Morumbi se tornou o clube brasileiro mais vezes vencedor de competições internacionais, dentre elas três vezes o campeonato mundial. Na esfera nacional também podemos buscar a situação do Internacional, que a partir da construção do estádio Beira-Rio, em 1969, conquistou a hegemonia do futebol gaúcho, sendo octacampeão, e no mesmo período foi tricampeão brasileiro e posteriormente da América e do mundo.
E no próprio Coritiba assim ocorreu. O atual estádio, ainda com o nome de Belfort Duarte, ficou concluído aos poucos no final dos anos 1960, sendo então o terceiro melhor estádio do país, À sua conclusão se seguiu o período de ouro do clube, que de 1968 a 1979 foi campeão estadual por 11 vezes, campeão do Torneio do Povo e logo depois do campeão do Brasil.
Disseram outros: “Ah, mas isso está sendo feito para que alguns ganhem dinheiro”. Mas claro que sim, não há almoço grátis, na expressão popularizada pelo economista Milton Friedman. Ou vamos pensar candidamente que tudo estaria sendo feito sem um dos móveis do mundo, o lucro? E é bom que seja assim, pois os que têm em vista ganhar dinheiro com a construção certamente tudo darão para o sucesso do empreendimento e o lucro consequente. Os irmãos Cornelsen, que iniciaram a construção do atual estádio com o “bolão esportivo”, e os irmãos Mauad, que o concluíram, trabalharam para o clube, como bons coritibanos que eram, mas sem dúvida visavam lucros para si próprios. Isso é natural. O importante é que os envolvidos no projeto ajam corretamente, dentro das normas relativas aos fundos de investimento, do qual os torcedores poderão ser quotistas.
Bem, por hoje já me alonguei demais. O projeto é muito importante, se bem sucedido poderá ser uma espécie de refundação do Coritiba. Se mal sucedido talvez não seja uma catástrofe, mas ficaremos a manter o mesmo passo, distantes do pelotão de frente, inclusive e especialmente no âmbito doméstico. Em outra oportunidade voltarei a tratar do assunto, mais precisamente sobre os projetos arquitetônicos e o fundo de investimento imobiliário.
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