Bola de Couro
Consta que eu faleci no dia 01 de agosto de 1985, em razão de um infarto decorrente da emoção pela conquista do título de campeão brasileiro pelo Coritiba.
Como procurei ser sempre correto, dedicado à família e ajudava a quem precisasse, dentro das minhas possibilidades, fui mandado ao céu, mesmo não tendo sido um homem piedoso.
Em lá chegando e ficando, logo passei a ser considerado por alguns como chato, pois só falava das glórias do Coritiba, dos grandes times nos anos 1950/1980, da soma de títulos estaduais, de vitórias em atletibas, na conquista do Torneio do Povo (menosprezado por quem não conseguiu disputá-lo) e especialmente do título nacional que me levou a morrer.
No céu não é permitido acompanhar o futebol contemporâneo que se desenvolve na terra (uma falha de gestão que qualquer hora vou pedir a Deus que resolva). Então, eu só falava no passado, em Jairo, Abátia, Lela, Zé Roberto, Hidalgo e outros tantos, e nos jogos em que vi um time que era vitorioso ou ao menos sempre respeitado.
Passei, como disse, a ser considerado chato e repetitivo, e um dia os demais “viventes” do céu se reuniram e foram pedir ao Ser Supremo que desse um jeito.
Recebi, então, como castigo ser mandado de volta à Terra por alguns dias, tendo renascido em Curitiba no dia 18 último, véspera do jogo do Coritiba contra o FC Cascavel. Como esse time não era da minha época, procurei me informar e soube que seria um clube de pequeno a mediano, daqueles que, nos anos de glória, o Coritiba aplicava uma goleada mesmo fora de casa (lembrei de 7 x 0 lá em Cianorte). Fui para a frente da TV certo de que veria uma boa exibição, com vitória inconteste do Coritiba. Qual o quê, vocês sabem o que aconteceu.
Quis saber do elenco e fui informado de que contra todas as opiniões têm sido usado um tal de Bianchi, que não temos zagueiro para compor o elenco e que o nosso centroavante conseguiu a façanha de fazer um gol contra. É difícil firmar convicção sobre o time só vendo um jogo, mas o que os meus amigos disseram é que as atuações do time do Coritiba não são melhores do que a contra os cascavelenses.
Quis saber dos últimos anos, mas parei quando fui informado de que no ano passado fomos desclassificados na Copa do Brasil no primeiro jogo, para um time de interior com nome de escola de samba.
Por fim, indaguei quem seriam os atuais dirigentes do Coritiba e me informaram que o clube foi vendido e só um nome eleito pelos associados tem voz na gestão, sabendo então que este quase nada pode fazer e nem fez.
Desesperado, nem quis esperar o jogo desta noite contra o Maringá, quando formaremos o time só com meninos para “poupar” os titulares para o atletiba, como se os três pontos a serem disputados não fossem iguais em um ou outro jogo.
Pedi minha volta ao céu e, em lá chegando, o Senhor me disse “aprendestes que o teu Coritiba, tal como o conhecestes, não existe mais”?
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Para que a minha glória a ti cante louvores, e não se cale. Senhor, meu Deus, eu te louvarei para sempre. (Salmos 30:12)