Bola de Couro
O fluminense, que hoje nos roubou dois pontos, talvez pudesse dizer que mereceu o empate, pois jogou melhor do que nós. Mas não menos verdade é que muito provavelmente não teria saído de Curitiba com um ponto ganho e dois roubados não fosse a gritante proteção que recebeu da arbitragem quando da expulsão do Kleber depois de dois minutos de atuação, fato que certamente concorreu para o resultado.
As imagens do lance são claras, não houve qualquer falta, tanto que quando o apitador ergueu o cartão vermelho o jogador do fluminense que disputara a bola com o Kléber aparentou ter pensado que a punição era para ele. A leitura labial mostra que realmente o Kléber mandou alguém para aquele lugar, mas daí a concluir que se dirigia ao fantoche, vai uma boa distância e no mínimo a dúvida deveria ser tida em seu favor. As imagens do conflito que se instaurou logo mostram o João Paulo dizendo que a ofensa fora para ele. E a rigor nem se pode chamar de ofensa uma expressão comum no futebol, que os boleiros usam corriqueiramente, como um desabafo. Só quem não vive o futebol não sabe que é assim.
Mas era o fluminense, o amigo do rei.
No fim dos anos 90, o fluminense foi rebaixado três vezes seguidas. Em 1996, caiu para a Série B. Depois de um escândalo de manipulação de resultados envolvendo Atlético-PR e Corinthians, o rebaixamento daquela edição do Campeonato Brasileiro foi cancelado. Em 1997, o fluminense caiu novamente. Disputou a Série B no ano seguinte e amargou a queda para a Série C.
Em 1999 o fluminense venceu a Série C e se classificou para disputar a Segunda Divisão. Mas o Campeonato Brasileiro de 2000 não foi realizado. Naquele ano, o rebaixamento era definido pela média dos pontos obtidos nos dois últimos campeonatos e o clube carioca conseguiu ganhar no STJD os três pontos da partida na qual foi goleado por 6 a 1 pelo São Paulo, alegando que o atacante Sandro Hiroshi atuou de forma irregular.
E mais recentemente, em 2013, o fluminense terminou o campeonato com pontuação de rebaixado, mas uma muito estranha história envolvendo a escalação pela Portuguesa de um jogador suspenso fez com que a lusa perdesse quatro pontos de modo a que o clube carioca pudesse se manter na série A. Lembre-se que o jogador dito irregular participou dos minutos finais do jogo entre a Portuguesa e o Grêmio, quando ambos se satisfaziam com o empate, não havendo nenhuma necessidade e razão técnica para participar da partida, salvo a de dar ao fluminense argumento para pedir a perda dos pontos da lusa. Tempos depois dirigentes da Portuguesa denunciaram conduta dolosa do fluminense e do seu patrocinador, mas o fato aos poucos caiu no esquecimento.
Parece que ganhar só em campo e de acordo com as regras do jogo não é ponto forte na história do tricolor carioca.
Enquanto isso, desde 1989 o Coritiba não tem força nenhuma junto à CBF, sofre castigos excessivos e frequentemente é prejudicado por arbitragens. Não chego ao ponto de dizer que se trata de uma perseguição sistemática, mas lembro de apenas três fatos que mostram que não temos força política: o rebaixamento de 1989 decorreu de uma “canetada” totalmente injurídica, a punição de 2009 foi exacerbada e o título da Copa do Brasil de 2012 nos foi tirado em razão de uma arbitragem claramente comprometida em favorecer o time da empresa que coincidentemente patrocinava o torneio.
O fato é que, desde a primeira fase da gestão do Evangelino Neves, nenhum dirigente do Coritiba soube se impor politicamente junto à CBF. Nos falta alguém com transito nos tapetes da entidade, da comissão de arbitragem e do STJD. Não, é claro, para que tenhamos alguma proteção – até porque isso está guardado para os ditos grandes – mas para que sejamos respeitados tal como todos os clubes deveriam ser independente de ter melhor trânsito nos gabinetes ou serem queridos pela mídia.
Ouvi a entrevista do presidente Bacellar após o jogo, na qual mostrou justa indignação, que é de todos nós, com a atuação do apitador e disse que tem mandado imagens dos erros de arbitragem (não entendi bem a quem), como se todos os clubes nunca fizessem isso e alguma vez houvesse resultado que não fosse, talvez, risadas nos gabinetes. Se for esta a providência que nossa direção tem tomado e se for só esta a que vai tomar em relação ao que ocorreu hoje, esqueçamos qualquer possibilidade de mudança e de afirmação do Coritiba junto aos donos do futebol brasileiro.
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