Bola de Couro
Através de um editorial publicado no último dia 13, o presidente do Coritiba se dirigiu aos associados para reclamar das manifestações de insatisfação da torcida, que reputa como prática de “terra arrasada”, e ao mesmo tempo para relatar as dificuldades para solução do passivo financeiro do clube, e, por fim, defender as contratações do elenco e o diretor de futebol, cuja atuação, diz, deve ser compartilhada com a dos observadores e comissão técnica do clube.
Não duvido das boas intenções do presidente e dos seus colegas de direção, certamente são coritibanos tanto quanto muitos de nós, mas certamente estão equivocados no modo de administrar e na forma da comunicação.
Na forma, porque se comunicar com a torcida por meio de editoriais herméticos,frios, distantes, dirigidos somente aos associados – quantos restam? – e não atingindo a toda a torcida, a qual não ouve a direção nem mesmo através de entrevistas nos meios de comunicação, é um erro gritante. Os dirigentes do Coritiba não são mandatários só dos associados que compõem o colégio eleitoral do clube, e não podem fugir do dever de dar satisfação também aos torcedores em geral, bem como aos que acompanham o futebol, ainda que não coritibanos. Imagine-se um governante eleito se pronunciando e dando esclarecimentos ao povo somente pelo Diário Oficial, sem permitir o contraditório de perguntas que jornalistas poderiam fazer e sem ouvir os que o elegeram. Certamente jamais poderia pretender que o povo se mostrasse satisfeito ou que possa um dia reelegê-lo. Guardadas as proporções, é o que a direção do Coritiba faz, não sei se por má avaliação ou por soberba que leve a não se sentir obrigada de dar satisfações a outros que não os associados.
E sobre o modo e administrar expressado no conteúdo da mensagem, algumas observações.
Primeiro, ninguém duvida da caótica situação financeira do Coritiba, que vem de muitas gestões. Todos sabemos. É saudável e elogiável que a gestão atual se preocupe com isso. Mas assim como a mensagem presidencial refere que o torcedor que é empresário ou o que cuida da sua economia doméstica deve saber do risco da acumulação de passivos, deveria a direção lembrar que eles jamais pagarão as dívidas se não tiverem receitas, e estas não terão se não investirem, e bem. (A única forma conhecida de quitar dívidas sem receitas é mediante a venda do patrimônio, vade retro). Pois o presidente, ao tempo em que expõe suas justas preocupações com o passivo financeiro, parece se orgulhar por ter contratado dezesseis atletas com salários totais de R$ 900.000,00, uma média baixa considerando os padrões do futebol brasileiro, embora alta considerando a qualidade dos jogadores, mas esquece que contratou mal (refere-se a “acertos” mas não os indica) e que com esse “estoque” é muito difícil ter receitas, e sem estas, é de uma obviedade gritante, não terá como quitar o passivo financeiro que tanto incomoda a todos nós.
Por outro lado, pelo editorial ficamos sabendo que não devemos fazer cobranças só do diretor de futebol, cuja responsabilidade “deve ser compartilhada com os observadores técnicos, gerente de futebol, toda a comissão técnica”, pois a sua atuação se limitaria às tratativas com empresários e dirigentes de outros clubes quando das contratações. Mas essa diluição – ou afastamento - das responsabilidades do diretor de futebol, se ocorre mesmo tal como o presidente disse, não o absolve e nem atenua os seus tantos erros. O diretor de futebol então não é “diretor”, mas sim despachante, conforme revelado no editorial? Ou, usando de analogia tal como a da “terra arrasada”, isso é uma manobra diversionista (estratégia usada para desviar o foco e dividir a culpa)?
Presidente Samir, talvez seja muita pretensão supor que poderá se dignar a ler este modesto cronista, tal como faziam e fazem alguns dirigentes das últimas gestões, de modo democrático e com respeito mútuo, ainda que nem sempre gostando do que escrevo. Mas talvez algum colega de direção possa ler e levar a reflexão sobre o que os torcedores pensam e não encontram ouvidos na direção. Eu desejo com todas as forças que a sua gestão seja bem-sucedida. O sucesso seu e dos seus diretores será o nosso. Fique certo de que anseio um dia escrever textos louvando o recrescimento do Coritiba e a sua gestão, se nela a recuperação se der. Mas não há como afastar que, passados sete meses de insucessos em campo, os rumos da sua administração devem mudar. No modo de administrar e na forma de se comunicar. A torcida do Coritiba tem sofrido muito, está gravemente ferida. E se não merece o time que tem atualmente, também não merece ser tratada com tanta indiferença e insensibilidade.
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