Bola de Couro
No dia 03 de abril último, após a conquista da Copa Sul-americana pelos nossos rivais, escrevi um texto misto de realidade com depressão.
Vou adaptá-lo hoje, diante da história que se repete e se agrava, e do sentimento de inferioridade de que devemos estar acometidos, o qual só nega quem não quer ver. Dei àquela coluna o título de “Ultrapassados”, e agora, fazendo uma analogia com corridas de automóveis, sinto que se fomos superados pelo rival naquela volta do circuito, ontem ele deu mais uma volta na corrida e nos mantém a diversos pelotões de distância.
Ontem, assistindo ao jogo da decisão da Copa do Brasil, o que fiz tanto por curiosidade como para tentar “secar” o nosso rival, a certa altura da partida bateu-me um sentimento de depressão.
Senti naquele momento, mais uma vez, o que aos poucos vem me amargurando e o que certamente grande parte da torcida vem sentindo há algum tempo. A verdade é que não somos mais o maior clube de futebol do Paraná. Fomos no século passado, mas este século está sendo do rival. E pior, nem nos mantivemos no mesmo lugar, estamos caindo aos poucos.
Dói dizer isso, mas os fatos não permitem afirmar de modo diferente.
Talvez alguns atirem pedras em mim, comportando-se como a avestruz que diante do perigo esconde a cabeça sob a terra, mas não podemos mais nos manter passivos como se as nossas glórias do passado cada vez mais remoto ainda estivessem presentes. A nossa história, que irá completar 110 anos no próximo mês é inapagável, temos que cultuá-la e honrá-la, mas, gostem ou não alguns, a verdade é que aos poucos fomos sendo ultrapassados pelo rival – que ontem faturou, além do título, R$ 52.000.000,00, mais do que toda a nossa receita no ano - e no atual quadro de distância qualquer revolução ou refundação do Coritiba só poderá nos igualar a ele depois de alguns – talvez muitos - anos de ações bem diferentes das que de modo conservador ou irresponsável têm sido praticadas.
Temos que reconstruir ou refundar o nosso clube sem medo de ousar, mudando o modo de administrar e sem ações deletérias entre os homens que podem fazer algo de positivo. Uma grande concertação deveria acontecer, de modo a fazer essa revolução ou refundação, insisto no termo. A nos mantermos como tem sido nos últimos anos, a cada dia a distância que nos separa do rival ficará maior e a gangorra nos manterá na parte de baixo.
O estatuto tem que ser modernizado para o clube ser gerido de modo eficaz, sem grandes e inoperantes conselhos, e sem adoção de políticas de gestão, mas sim de clube – refiro-me à manutenção de estratégias bem-sucedidas, quando elas existirem, claro, o que não se tem visto – e o comando do clube não pode ser alcançado com a participação decisiva, nas eleições, das torcidas organizadas que deveriam quando muito se limitar às arquibancadas. Não se trata de não deixar democrática a eleição, claro que todos os associados podem e devem votar, mas se trata de afastar que as torcidas organizadas, atuem como instituição - como tendo em si mesmo uma prioridade - fechando questão em torno de determinado candidato, o que ocorreu nas duas últimas eleições e o custo disso estamos pagando.
Eu temo muito que com a minha idade não consiga viver o suficiente para ver o Coritiba novamente grande e respeitado. Ser grande e respeitado não se limita a voltar para a primeira divisão e nela permanecer ou ganhar as desvalorizadas competições estaduais. Significa deixar de ser coadjuvante, quando não mero figurante dos grandes campeonatos, e ter protagonismo. Buscar títulos, se impor como instituição, sair das fronteiras do Estado e quiçá do país, saber criar meios para auferir receitas, ter um quadro social que não seja volátil, enfim, administrar o clube com um modo visionário/responsável.
Se isso não acontecer logo, se as ações no Coritiba continuarem limitadas ao pensamento pequeno desse grupo de jovens que assumiu a direção e que age tal e qual os jurássicos que já passaram por ela, se parte da torcida continuar se iludir e se satisfazer com o passado ou com a ideia de que só voltar à primeira divisão será uma redenção suficiente, se nomes de peso não se articularem em uma concertação em benefício do Coritiba, e só do Coritiba, é triste dizer, mas continuaremos sendo o segundo clube de futebol do Paraná.
Fico triste ao escrever essas linhas, mas é o desabafo de alguém que assistiu ao primeiro jogo do Coritiba em 1955 e que se recorda das escalações daquela década, que quando pré-adolescente certa vez “furou” para não pagar ingresso e poder ver um jogo, que frequentou todos os cantos do estádio, que chegou a viajar doze horas de carro para ver um jogo, que se mantém associado ainda que raras vezes possa ir ao estádio, e que mesmo fisicamente distante cultua e defende o clube. Não imaginava que estaria há tanto tempo vendo o Coritiba tão apequenado e sem perspectivas.
Perdoem o tom de depressão deste texto, mas é pura realidade e imagino que os coritibanos conscientes devem pensar como eu. Claro que jamais abandonarei o meu amor pelo Coritiba pois, como me disse certa vez o meu filho Alexandre ao me ver deprimido em face do clube, o que importa é o amor envolvido e a paixão que existe e não diminui mesmo nos piores momentos. Mas está difícil.
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