Confabolando
A torcida do Coritiba parece começar a sair do estado de choque e recolhimento em que se colocou, involuntariamente, após os acontecimentos do trágico seis de dezembro de 2009. Camisas voltam a ser vistas com mais frequência nas ruas, o tema que antes era um tabu ou simplesmente motivo de desânimo, passou a ser discutido com fervor. Defesas, críticas e projeções. Tudo o que não ocorreu durante o período de luto, praticamente três meses. Agora a torcida do Coritiba volta acordar.
Mas não adianta simplesmente apontarmos o dedo para o lado procurando culpados, sem antes, assumirmos cada um a nossa própria responsabilidade na queda, resultado direto de tudo que aconteceu nos últimos noventa dias.
Sem dúvida alguma há culpados que estão muitos bem definidos. Isto ninguém nunca vai tirar. O primeiro deles? Não há dúvida. O presidente do clube, Jair Cirino dos Santos, que comandou o Coritiba no pior ano de sua história, contrastando com as promessas de que o centenário seria um ano fantástico para o clube. Acabou sendo um ano inesquecível, que ficou marcado na memória dos torcedores, diferentemente do que se imaginava.
A foto de Jair Cirino ao lado de Marcelinho Paraíba é emblemática. Talvez seja o melhor instrumento para resumir o que aconteceu com o Coxa nos últimos dois anos. Festas, fotos e promessas. De concreto apenas o endividamento do clube sem resultados dentro de campo e fora dele, além de muitas decepções.
Mas ele é o único culpado? Certamente não. Outros oito integrantes do G9 foram abandando o barco aos poucos, mas também são totalmente culpados. Marcos Hauer, Gomyde, Homero Halila, Eduardo Jaime, Francisco Araújo, por exemplo, assinam a pior gestão da história do Coritiba. Estes são os fatos e é o que a história contará daqui a 20 ou 30 anos. Ninguém muda.
Então, o leitor me perguntaria, são eles os culpados? Sim, sem dúvida. Mas não são os únicos. O Conselho Deliberativo pouco se manifestou durante estes dois anos, sobretudo para falar das contas do Coritiba, do plano de fidelização, das festas e também do futebol. Até consigo lembrar da ameaça de criar uma comissão para "auxiliar" na gestão do futebol, ideia que acabou morrendo na casca após uma vitória.
A torcida do Coritiba apoiou o time o ano inteiro, fez festas maravilhosas e virou destaque nacional com o Green Hell. Jogadores e torcedores de time adversário falavam sobre a força da torcida que nunca abandona e de seus espetáculos nas arquibancadas. Então a torcida não errou. Engano nosso. A torcida, coletiva e individualmente, errou. Erramos ao não cobrar. Ao nos apegarmos ao receio de prejudicarmos ainda mais o ambiente já conturbado pelo fantasma do rebaixamento, fofocas sobre salários atrasados, churrascos nas vésperas de jogos importantes, contrato que não foi assinado, agravamento da já delicada situação financeira do clube, entre vários outros assuntos.
Eu, Gibran, tenho minha parcela de culpa por não ter cobrado mais incisivamente quando tive a oportunidade. Pensei, por exemplo, em escrever ainda no primeiro turno um post criticando duramente Carlinhos Paraíba, quando ele ainda não tinha caído em desgraça com toda a torcida. Era nítida a falta de comprometimento. Prometi para mim mesmo que faria isso, tão logo o Coxa estivesse longe da degola. O resultado foi que este texto até hoje não foi escrito. Errei também quando dei apoio incondicional ao Marcelinho Paraíba, nossa estrela que depois transformou-se no buraco negro que ajudou o time a cair para a segunda divisão.
Enfim, não vamos nos enganar e nos permitir errar novamente. Ao invés de apenas apontarmos o dedo na cara dos outros apontando culpados, vamos fazer uma avaliação mais criteriosa a respeito de nossas atitudes. Se a torcida do Coritiba passou por uma transformação maravilhosa nos últimos 10 anos, vamos continuar esta transição também fazendo uma autocrítica e aprendendo a hora de apoiar, o momento de cobrar e quem cobrar. Ser sócio do clube e ter direito a voto para escolher quem comanda o clube é o melhor caminho para isso.
O apoio ao Coritiba Foot Ball Club é irrestrito. A instituição é eterna. Ela fica e nós passamos. Mas aos jogadores e direção do clube, com responsabilidade, a cobrança será feita sempre. Mas com responsabilidade, sabendo observar em nós mesmos nossos erros.
Desta forma não corremos o risco de nos transformarmos em Homer Simpson ao dizer: "A culpa é minha e eu a coloco em quem eu quiser".
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