Confabolando
Felizmente meus pais sempre me incentivaram a ler, desde pequeno. Não eram raros, muito pelo contrário, os momentos em que era presenteado com livros. Na noite desta segunda-feira, em um singular momento de tranquilidade nestes últimos dias, fui buscar uma destas publicações. O objetivo era um momento de lazer, limpar um pouco a cabeça com boas lembranças. Ao mirar na "seção" onde estas pequenas preciosidades descansam, vi uma capa marrom dando sopa. Não tive dúvidas e peguei "As Fábulas de Esopo". Eu devia ter aproximadamente 10 anos quando o li pela primeira vez.
Esopo, segundo contam, foi um grego, escravo e grande contador de estórias. As lendas envolvendo sua figura revelam que ele tinha uma série de problemas físicos o que o auxiliou na compreensão da essência do ser humano. Suas fraquezas e qualidades, mesquinharias e compaixão, nada escapava de Esopo. Os animais foram a maneira que ele encontrou para falar dos problemas de conduta dos seres humanos sem sofrer represálias. Contudo, certa vez teria desopilado seu fígado sem metáforas e, segundo reza a lenda, desagradou aos moradores de uma cidade antes de ser jogado de um penhasco e descer ao chão e subir ao céu como Ismália.
Pois bem, voltando a minha leitura, se o objetivo era desligar não deu muito certo. Abri, aleatoriamente, o livro em busca de uma fábula simples, sem compromisso, e encontrei a história das cotovias. O resumo do conto de Esopo é o seguinte:
Uma família de cotovias encontrou um lar em um milharal. Uma grande plantação que lhes dava comida, calor do sol e a proteção do alto capim que impedia que predadores pudessem lhe encontrar. Assim, a mamãe cuidava tranquilamente de seus filhotes, que cresciam felizes e sadios. O único alerta que lhes foi passado era de que caso vissem ou ouvissem qualquer coisa diferente avisassem sua mãe imediatamente. Um dia, enquanto brincavam, perceberam um homem chegando, que avisou ao filho que chegara a hora da colheita e que pediria auxílio aos vizinhos.
Assustadas, as cotovias voaram rapidamente para contar o ocorrido. Aflitas, descreveram a cena e pediram para rapidamente trocarem o seu lar por um lugar mais seguro. Contudo, elas foram tranquilizadas pela mãe, quando ouviram que aquele ainda não era o momento já que, se os humanos precisassem dos vizinhos para isso, a colheita ainda levaria algum tempo para ser realizada. Tempo depois voltaram e o pai exclamou ao filho a necessidade da colheita e que não poderiam esperar mais pelos vizinhos, desta forma os primos e tios seriam os escolhidos.
Novamente a apreensão tomou conta das pequenas cotovias que voltaram rapidamente para contarem a sua mãe a conversa que haviam acabado de ouvir. Outra vez sua mãe os tranquilizou, lembrando que os primos e tios também tinham suas colheitas e não poderiam abdicar do seu ganha pão para ajudar. Portanto, teriam mais tempo. Mas alertou aos filhos que continuassem de olho e prestassem atenção na próxima vinda dos humanos. Tempo depois, eles voltaram. Com claro ar de preocupação o pai disse que não tinham mais como sustentar aquela situação e avisou ao filho que eles mesmos, no dia seguinte, fariam toda a colheita sozinhos, e então naquele mesmo dia as cotovias voaram em busca de um novo lar. Em baixo da página do livro uma frase, que acompanha cada fábula e resume uma a uma as estórias. Neste caso o rodapé dizia "Quem quer, faz; quem não quer, manda".
O cenário Coxa-Branca se assemelha a fábula do Esopo. Parece que nos perdemos um pouco em nosso centenário. Com um público crescente nos últimos anos, a que nunca abandona se tornava cada vez mais forte. Contudo, o aumento no preço dos ingressos fez com que pela primeira vez nos últimos anos houvesse uma disputa mais acirrada nos públicos entre times paranaenses. O Coxa, antes líder com folga, viu seu público cair razoavelmente.
O time, que pareceu em alguns momentos que poderia engrenar no Campeonato Paranaense, terminou com um melancólico terceiro lugar. Apenas um jogo em todo o campeonato atuou com um estilo que esperávamos ver durante todo o torneio. A direção, em vários momentos, transparecendo insegurança, sem a certeza de que o planejamento estaria dando certo e quais seriam as correções de rumo necessárias. Aos jogadores, muitas vezes, faltou vontade e comprometimento, que em outros momentos, bem mais raros, sobraram.
Vejam bem: se a torcida se comprometer a lotar o estádio e fazer lindas festas como vimos nos jogos contra o Internacional, Flamengo e até como no jogo contra o A. Paranaense no Joaquim Américo, certamente teremos uma força que poucos têm a seu favor. Se os jogadores tiverem a mesma vontade que demonstraram nestes mesmos jogos, a postura será diferente e teremos mais um ponto jogando a nosso favor. E se, por último, a diretoria acertar mais como nas contratações de Marcelinho Paraíba e Cleiton e errar menos como nas de Vicente e Rodrigo Pontes teremos um elenco bem mais qualificado.
Para alegrar ainda mais a torcida, os jogadores podem e devem demonstrar raça e comprometimento. A direção poderia cumprir uma de suas promessas e rever o estatuto do clube e, em uma grande iniciativa, possibilitar que estes mesmos torcedores tenham o direito e o dever de participar mais diretamente da vida do clube, promovendo a manifestação máxima da democracia moderna: o direito ao voto e consequentemente premiar com a manutenção o que está agradando e desaprovar o que não lhe parece ser o melhor naquele momento.
A questão é que todos podem dar mais ao Coritiba.
Afinal, quem quer, faz; quem não quer, manda.
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