Confabolando
Começou a última rodada da primeira fase da Copa do Mundo. Os dois principais personagens desta Copa até o momento têm semelhanças e diferenças históricas e recentes. Podem também se resumir em órgãos, que segundo estudos recentes e também na própria cultura popular, representam emoções.
De um lado um verdadeiro camisa 10. Fora de série, Maradona foi o maior jogador de futebol de todos os tempos. Inegavelmente El Pibe merece este título. Pelé, um degrau acima, figura acima dos mortais. Mas voltando ao personagem argentino, ele brilhou na Copa de 1986 e fez um torneio memorável. Gol de placa, de mão e como fosse preciso. Com os braços acima da cabeça levantou a taça com a propriedade de quem carregou uma seleção nas costas.
O outro personagem, de uma Copa por enquanto dos latinos, também é sul-americano e meio-campista. Levantou a Copa do Mundo oito anos após Maradona, com méritos diferentes. Destacou-se com liderança e uma vontade furiosa de vencer. De símbolo do fracasso, Dunga passou a ser a cara da seriedade e da raça. Imagem, inclusive, alimentada pela crônica esportiva em sua maioria. Haja visto os comentários quando contratado por Ricardo Teixeira após a farra de 2006. No intervalo entre uma taça e outra para os sul-americanos se enfrentaram, em 1990, quando Maradona levou a melhor e deixou Canniggia na cara de Taffarel, desclassificando o Brasil.
De lados opostos nas chaves e longes de um confronto que só é possível em uma final de proporções épicas, Dunga e Maradona voltam a estar próximos com certas semelhanças. Desta vez do lado de fora, comandam suas seleções. Têm relações complicadas com a imprensa local e procuraram (e parecem ter conseguido) grupos fechados e com objetivos bem definidos. Ambos têm dois sentimentos, que simbolizados em órgãos, parecem sair pelos olhos.
Dunga o cérebro. É excelente estrategista. O seu retrospecto na seleção comprova isso. Futebol organizado e burocrático, salvo as jogadas individuais dos craques brasileiros que resolvem. Dunga sabe disso e organiza a defesa e deixa para o talento, de forma organizada, decidir. Parece fomentar conflitos externos à seleção para que desta forma unir ainda mais o grupo, aumentando a grana por vitórias. O espírito lutador e sistemático do Sul do País. Mas tem se perdido no outro órgão.
Maradona tem o coração. Ele é venal e impulsivo. Ama, odeia, grita, gargalha e chora. A tragédia, o tango, o drama e o exagero argentino. Ele é a perfeita tradução do espírito dos hermanos, habilidade, raça, deboche com certo tom de arrogância, muito amor e as emoções superlativas. Desta forma uniu jogadores, torcida, imprensa, enfim, todo um País. Uma troca de corações em busca de um objetivo em comum, levantar a Copa do Mundo 24 anos depois com o mesmo personagem que tinha tudo para ser música de Gardel. Mas Maradona tem usado pouco o outro órgão que se destaca.
A relação com o fígado é uma das principais semelhanças entre Maradona e Dunga. Ambos têm raiva, a usam, abusam e ao longo de sua história mostraram isso, mesmo que em momentos e formas diferentes.Mas agora, Maradona tem sido um líder mais coração que fígado. Este parece ser o tom da seleção argentina. Já Dunga parecer usar bem mais o fígado que cérebro, até achando que trata-se do coração. Mas há que se tomar cuidado para não misturar as emoções e confundir um órgão com o outro.
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