Confabolando
Paulo e Grasiela eram casal normal, harmonioso. Convergiam nos pensamentos em muita coisa. Um dos poucos motivos de atritos do casal era a organização da casa. Paulo era neurótico. Gostava de tudo muito bem colocado. Na estante, os livros, cds e dvds ficavam separados por ordem alfabética. Um eventual amigo perguntava: “Paulo, você tem algum dvd do Toquinho?”. Sem pestanejar ele respondia de pronto: “Na estante, terceiro andar o quarto disco da esquerda para a direita”. Este era Paulo, mas que contudo, não gostava de organizar e reorganizar suas coisas.
Já Grasiela, embora gostasse da organização, não era muito fã da prática propriamente dita. Deixava as coisas ali, largadas, não se empenhando muito nos afazeres sistemáticos que Paulo tanto prezava.
Certo dia, Paulo chegou em casa do trabalho. A sala estava revirada. Dvds espalhados e desorganizados, os cds empilhados de forma desordenada e os livros todos bagunçados. Ficou extremamente irritado. Mas resolveu ficar calado para ver por quanto tempo Grasiela agüentaria aquela bagunça.
Ela, tampouco tocou no assunto. Ambos conversavam, passavam pela sala com as pernas arqueadas desviando a bagunça que tomava conta até do chão. Mas o assunto não entrava em pauta. Assim foi durante quatro dias.
Em um determinado momento, Grasiela já revoltada com a situação, foi cobrar de Paulo uma explicação: “Escuta, você que fala tanto em organização não vai arrumar esta bagunça?”.
A resposta de Paulo veio na lata: “Você só pode estar maluca. Não falei nada porque gostaria de ver quanto tempo você demoraria para arrumar esta bagunça”.
Ambos se olharam com expressão curiosa e miraram, sem combinar, em direção a pilha de jornais que estava no meio da sala. A manchete era: “Polícia segue em busca do homem aranha”.
O homem aranha, em Curitiba, foi um assaltante pé de chinelo que ganhou notoriedade pela audácia que cometia seus crimes. Apartamentos com janelas abertas e com cabos de televisão eram as vítimas do meliante. Ele subia, levava o pouco que conseguia colocar em suas costas de forma que fosse possível descer, mas não sem antes fazer um rango na geladeira das vítimas.
Paulo e Grasiela então correram automaticamente para área de serviço do apartamento, viram a janela aberta e algumas coisas como um rádio de pilha caído. Ao abrirem a geladeira notaram a falta de alguns alimentos, bem como de alguns dvds e cds de sua coleção.
A situação foi tão constrangedora e ao mesmo tempo inusitada que não sobrou tempo para lamentações. O assalto à casa deles transformou-se em uma grande piada. A ausência de comunicação entre o casal fez com que eles demorassem quatro dias para descobrirem o furto.
Mas e daí? Daí gostaria de saber a quantas anda a comunicação entre jogadores, departamento de futebol e direção do Coritiba.
Está tudo bem? Há algum problema financeiro que esteja atrapalhando o time dentro de campo? Jogadores novos chegando com bons salários e que sequer estão atuando?
Precisará de um jornal atirado no meio da sala para descobrirem o problema? Melhor que não. Por isso é melhor sentar, conversar e colocar a casa em ordem.
Ainda mais que no caso do Coxa não haverá senso de humor capaz de fazer rir nem os mais otimistas e pacatos torcedores.
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