
Confabolando
Nos primeiros dias deste ano viajei com minha família para Buenos Aires. Fomos curtir uma parrilla, tango, os setores históricos da cidade e arquitetura que sempre me deixa de queixo caído, não importando quantas vezes eu vá para lá.
Mas uma das coisas que me deixa boquiaberto é a forma como os argentinos gostam, respeitam e conhecem nosso futebol. Naturalmente que meu pai e eu andamos, em diversos momentos, com nosso manto pelas ruas portenhas. Sobretudo no Caminito, região turística do Bairro de La Boca, muito próxima ao estádio do Boca Júniors, a lendária La Bombonera.
A experiência é bem bacana. Andar na rua e ouvir gritos com sotaques portenhos “Coxa”, “Coritiba” e “Coxa Blanca” são extremamente comuns, assim como propostas para trocar as camisas que usamos por outras que estão nas lojas à venda. A nossa rivalidade, o AtleTiba, também é bem conhecida por lá.
Em determinado momento um argentino olhou para mim e disse em tom de indagação: “Furacon”? Antes que eu pudesse responder qualquer coisa ele mesmo completou: “Furacon passa batom”. Meu pai e eu caímos na risada junto com ele, que simpatissímo nos cumprimentou e seguiu sua caminhada.
Imediatamente me veio na cabeça as cenas de comemorações de times de fora do Paraná em nossa capital. O futebol, como não poderia deixar de ser, já tornou-se uma representação cultural de cidades, estados, regiões e países. Valorizar nossas coisas, como o AtleTiba, é uma obrigação cidadã de todo curitibano e todo paranaense.
Há, hoje em curso no Brasil, uma polarização das forças do futebol. Muito discutida pela imprensa especializada. As verbas orçamentárias que privilegiam principalmente dois clubes, bem como as transmissões de televisão, tem como objetivo vender produtos já rentáveis.
Inserir novos atores, valorizando as culturas regionais, não faz parte do plano. Ao contrário de outros locais, como a própria Inglaterra, onde torcer é parte de um processo cultural, de sentir-se parte daquilo e os títulos não são o que é de mais fundamental. Mas sim pertencer a algo maior, fazer parte, ajudar a construir e identificar-se com um símbolo, um escudo, uma tradição que faz parte da história da sua localidade e também da sua família.
Já no Brasil, parece, que o futebol é o espaço destinado para curar frustrações do dia-a-dia. Torcer para um time é projetar a vitória que não ocorre no cotidiano. Xingar os jogadores quando algo dá errado é colocar para fora os fantasmas do que não ocorre de forma certa, afinal de contas, no Brasil, estádio é lugar para extravasar.
Precisamos, cada vez mais, valorizar nossas coisas. Coisas paranaenses e sem dúvida o AtleTiba é um de nossos principais patrimônios. Na Argentina, ninguém me falou da Ópera de Arame, das Cataratas do Iguaçu ou do Cânion do Guartelá. Mas sim do nosso Coxa e do nosso AtleTiba. Como disse nosso amigo argentino: “Furacon passa batom”.
Está dito.
Ruidiaz
Outro ponto que me chamou a atenção na viagem foi um argentino, que no mesmo Caminito, perguntou-me sobre o motivo de Ruidiaz não ser titular do Coritiba. Sim, eles realmente conhecem e interessam-se sobre nosso futebol.
Eu respondi que ele ainda passava por um período de adaptação. Ele, sem pestanejar, disse que tratava-se de um ótimo jogador e que traria alegrias para nossa torcida.
Confesso, que o interesse perdido em Raúl Ruidiaz foi resgatado após esta conversa e segurei nosso peruano mais de perto durante este ano. Nem mesmo o pênalti perdido, na primeira partida do ano, me tira esta curiosidade positiva a respeito do peruano.
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