Confabolando
O jargão, apesar de batido, ainda é válido. Há coisas que só acontecem, ou pelo menos tão explicitamente, no futebol. Vejam vocês: na véspera de um jogo importante entre duas equipes que lutam por um mesmo objetivo - no caso Coritiba e Palmeiras pela manutenção na Série A - surge uma notícia forte. Que coincidência, não?
O Palmeiras já teria acertado com um dos destaques do Coxa neste segundo semestre, o contundido lateral Ayrton. A notícia do interesse do time paulista já era velha e requentada, contudo, a confirmação de um acerto entre duas das três partes envolvidas cai apenas para pilhar ainda mais os ânimos para um jogo de pura pressão.
Mas as coincidências não param por aí. O empresário do jogador com contrato em vigência com o Coxa é um velho conhecido de nossa torcida. Sérgio Malucelli, o Salada, aquele que já administrou o Iraty e agora mudou-se de mala e cuia para Londrina. Em 2005, todos devem lembrar, ele vendeu durante o Campeonato Brasileiro um dos destaques do Alviverde naquela temporada. Alexandre Bambu foi sem mais nem menos.
Este, sem dúvida, é um dos pontos que gera desconfiança de que tamanha falta de moralidade seja tornada pública por uma das partes envolvidas sem o menor pudor. Malucelli não tem credibilidade com a torcida e nem sei por qual motivo teve com a diretoria.
Mas por outro lado, o dirigente responsável pela declaração é o mesmo que segundo blogs esportivos tentou aproximar-se de Kia Joorabchian, aquele investigado por diversos crimes no Brasil e cujos aqueles que representa estão proibidos de entrar em seus países de origem. Ainda há a total ausência de práticas sadias, morais, cordiais e respeitosas no futebol.
Portanto, se há motivos de sobra para acreditar, também há motivos de sobra para duvidar. Então uma nova pergunta cabe: em que fiaram-se os jornalistas para comprar tal história? Imagino que tenham visto um documento assinado, uma espécie de pré-contato como teria assinado Carlinhos Paraíba em outubro de 2009 com o São Paulo. Aquele que reclamou de assédio sobre Oscar. Ou ainda tiveram a confirmação de outras fontes fidedignas.
O vazamento deste tipo de informação, seja verídica ou não sempre tem um interesse. É claro. Inevitavelmente que notícias vazam para a imprensa com um objetivo a ser cumprido. Cabe ao profissional checar com fontes alternativas e ser o fiador da informação. Mas ele também, deve analisar, a que interesses servem aquela informação e qual é o preço a ser pago pelo "furo".
Se aqueles cartolas, os 99% que falam em profissionalização do futebol, adotassem de fato instrumentos legais tão eficientes e bem amarrados quanto no mundo das multinacionais esta materia daria muito o que falar. Comissões de valores imobiliários, por exemplo, poderiam até iniciar uma investigação sobre o caso. Ações na bolsa de valores poderiam variar e causar perdas - ou ganhos - enormes para determinadas pessoas ou grupos financeiros.
Mas como falamos em futebol, não tem problema. A notícia foi dada e a intenção dela alcançada: pilhar o jogo desta quinta-feira. Se confirmada, ótimo. O jornalista terá um belo furo no currículo. Caso contrário, notícias hoje em dia, sobretudo no esporte, são efêmeras. Ninguém mais irá lembrar-se. Já o prejuízo, caso exista, será pago silenciosamente por torcedores que ajudam a manter todo o sistema. Desde os lucros em transferências consecutivas para empresários, passando pelo salário do jogador e culminando com a existência de grupos de comunicação voltados ao esporte.
A opinião dos colunistas não refletem, necessariamente, a opinião do site.
Cada colunista tem sua liberdade de expressão garantida e assinou um termo de uso desse espaço.
Para que a minha glória a ti cante louvores, e não se cale. Senhor, meu Deus, eu te louvarei para sempre. (Salmos 30:12)