Confabolando
"O homem de bem exige tudo de si próprio; o homem medíocre espera tudo dos outros." Confúcio
Lá em Pato Branco, com meu pai, aprendi a torcer pelo Coritiba. De maneira pouco usual, é verdade. Sem ver, apenas ouvindo e vendo as reações do meu velho. Era rádio sendo abraçado a cada gol do Coxa, lágrimas de alegria após um título, o chá de cidreira no fogão para acalmar o espírito dele nos lances agudos, o mesmo rádio depois sendo xingado e por vezes até agredido. Aprendi mais do que torcer pelo Coxa, aprendi a amar meu clube do coração.
Mas também aprendi algumas outras lições com ele. Ainda pequeno, ele me ensinou que não podemos, de forma alguma, agredir uma mulher. Seja da forma que for. Agressão não é apenas física. É também verbal e pode ser manifestada de diversas outras formas. Mas o meu pai também me ensinou que quem está na chuva é para se molhar.
Se eu tomo uma decisão, sou livre para fazê-lo. Ele me ensinou que o livre-arbítrio é uma das coisas mais belas que nós, simples humanos, temos. Podemos escolher o que fazer da nossa vida a todo momento. Mas precisamos saber que da mais simples até a mais complexa decisão podemos mudar o rumo da nossas vidas. Todo reflexo de nossas ações são frutos de nossas escolhas e, portanto, ninguém mais é responsável senão nós mesmos.
Estas três lições, lá de Pato Branco, resumem todos os fatos que aconteceram no último domingo (27). O sempre equilibrado presidente do Coritiba, Vilson Ribeiro de Andrade, vindo lá de Peabiru, provavelmente é da mesma escola do velho Mendelau, o meu pai. Não admite, sob hipótese alguma, agressões a uma mulher. No que tem toda razão, diga-se de passagem. Contudo, a forma e o tom de suas declarações ultrapassaram as barreiras do que esperava. Depois, explicou que não generalizou e falava, sim, de um grupo de torcedores que ofendeu a mulher de Jonas. Ao chamar estes torcedores de imbecis, foi além do que costuma ir e abriu a guarda para golpes dos adversários. Não precisava. Acertou na medida, mas errou no tom.
Da mesma forma em que errou a mulher de Jonas, o lateral direito que foi apontado como responsável pela derrota contra o Botafogo. Sem ritmo de jogo, entrou na fogueira e acabou sendo queimado, involuntariamente, pelo técnico Marcelo Oliveira. Jonas, ao meu ver, tem como grande trunfo sua regularidade e proteção à defesa, uma vez que quando ataca não é efetivo. Esta regularidade o fez ser procurado por clubes como Santos e Palmeiras. Mas Jonas ficou no Coritiba e agora merece o apoio da torcida e também bom senso do técnico, que se tem um promissor jogador na mesma posição - Airton - poderia ter utilizado de outras formas para coloca-lo em campo para obter ritmo de jogo.
Mas voltemos a mulher de Jonas. Ao ir até o campo ver seu marido jogar deveria entender que estava em um campo de futebol, não em uma quadra de um grand slam de tênis. Palavrões, xingamentos e outras referências nada positivas sobre os atores do espetáculo são comuns e, em sua maioria, não refletem um pensamento final, mas um desabafo sobre a situação. O amor da torcida do Coritiba é passional, assim como é passional o amor da mulher do Jonas pelo seu marido.
Contudo, quem está na chuva é para se molhar. Ao revidar as ofensas que o marido sofria por parte de alguns torcedores, a mulher de Jonas criou uma crise que não existia no Coritiba. Jogou parte da torcida contra seu próprio marido e pior: jogou uma pessoa que também é referência pelas declarações equilibriadas, o presidente Vilson Ribeiro de Andrade, em uma sinuca de bico. Se lá em Pato Branco aprendi que mulheres não podem ser ofendidas, acredito que a mesma lição exista lá em Peabiru. Mas em ambos os locais o ditado da chuva também deve existir.
Difícil dizer quem está certo e quem está errado nesta história, se é que isso é possível. Mas o fato é que as declarações ganharam um vulto maior do que o esperado. De positivo apenas a possibilidade de fechar o grupo e a torcida com relação a este episódio e concentrar forças nas próximas partidas. Protestar contra o time no decorrer do jogo em nada vai ajudar. O que precisamos, no Brasileirão, é sair da incômoda posição da tabela e na Copa do Brasil para, quem sabe, enfim dar um título que a torcida do Coritiba tanto sonha. Aí sim, deixar declarações e erros no passado e enfim encher de alegria Coxas em Pato Branco, Peabiru, Londrina e de norte a sul deste País.
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