Confabolando
No dia 7 de dezembro de 2009 explodi com uma pessoa em meu trabalho em virtude do rebaixamento do Coxa. Mas muito mais que o rebaixamento, o que machucava-me profundamente eram as cenas de violência que presenciei e fui exposto, bem como o futuro incerto do clube que amo. Perdi a linha e a cabeça, culpa minha e tão somente minha, embora uma história pregressa existisse naquele caso.
Pois bem, depois deste fato passei a ignorar algumas discussões, inclusive, deixei quieto durante algum tempo brincadeiras com a trágica selvageria que ocorreu no Couto Pereira naquele 6 de dezembro. Mas, embora o fato fosse sendo esquecido, volta e meia alguém lembrava do tema com tom jocoso. Passei, então, a responder de forma grosseira propositalmente. Não era possível que continuassem generalizando uma torcida, que durante 100 anos foi exemplo de festas pacíficas, como violenta por causa de uma dúzia. "Trata-se de má fé cínica ou burrice córnea", pensava, lembrando do senador Roberto Requião.
Agora, com críticas bem mais amenas da grande imprensa, o Corinthians, clube com segunda maior torcida e crescimento vertiginoso nos últimos anos, vê-se na mesma situações. Pessoas sem o menor entendimento da gravidade do fato, de suas conseqûencias e das responsabilidades dos envolvidos, continuam atuando como juízes, soberanos, do alto de suas togas fictícias. A exclusão do time do Parque São Jorge da competição, dizem, é o mínimo que pedem. Enquanto isso outros, que pediam o mesmo do Coritiba em 2009, sequer tocam no assunto da regra específica para competições da Comebol que poderia excluir o time paulista da Libertadores.
É óbvio que não torço para o Corinthians, muito pelo contrário. Mas querer impor para uma instituição centenária uma pena, da qual, ela é vítima só pode ser má fé cínica ou burrice córnea, assim como foi com o Coxa em 2009. O caminho, seja qual for o ator, é a investigação e punição das pessoas envolvidas, seja por não garantir segurança no campo de jogo ou por ser o autor do ato de violência.
Não acredito que uma punição deste patamar possa atingir o Corinthians. Inclusive torço para que isso não ocorra, pois quero vê-los perder na bola e não no tapetão. Mas torço, sim, para que os responsáveis sejam identificados e julgados pela justiça boliviana, de preferência, olho a olho com os pais de uma criança de 14 anos que perdeu sua vida sem direito a defesa num local que deveria ser de festa e amor, não de morte e violência.
Vale lembrar, que em ambos os casos, existem figuras mais poderosas envolvidas no episódio. No caso do Coxa, a ameaça informal de invasão que correu na boca de torcedores durante toda a semana que precedeu o jogo e resultou em um número muito abaixo do esperado de seguranças após as ameaças. No caso do Corinthians, amizade de comentaristas esportivos e dirigentes do clube com suspeitos do crime.
Assim, infelizmente, não consigo acreditar em mudanças a curto prazo enquanto instituições centenárias continuarem servindo como escudo para que pessoas cometam erros e crimes. Simples e triste assim.
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