
Confabolando
Para a maioria das pessoas as lembranças das peladas na rua, no campinho mais próximo ou até mesmo no corredor de casa ilustram os takes que compõem o filme Da nossa vida. 
Neste ponto fui um privilegiado. Joguei bola, dos sete aos dezessete anos praticamente todos os dias. Tinha um campo pequeno a uma quadra de distância de casa, outro médio que somava mais duas ou no máximo três pequenas quadras. Ainda, ao lado do campo pequeno, um ginásio fechado no qual chegamos a jogar até às 2h da manhã. Deste tempo ficaram os amigos e as boas lembranças. 
Contudo, não vem desta época o drible mais bonito que levei em toda a minha vida. Veio agora, dias atrás, mesmo com as chuteiras já penduras. No lance, esplêndido, Alex dominou a bola e a conduziu meio desajeitado, como o andar de Dustin Hoffman em Perdidos na Noite. Ao abrir seu espaço no meio dos adversários, como fez Marlon Brando em Apocalipse Now, preparou o tiro, como tantas vezes fez Django no sucesso recente de  Quentin Tarantino. E foi, justamente neste momento, com 30 anos de vida que levei o drible mais bonito de minha vida, assim como Manoel levou, contra Geraldo.  
Não sei se por idiotice minha, genialidade de Alex ou por ambos os motivos, levei o olhar ao canto esquerdo da trave, procurando o trajeto da bola. Confesso, acompanhei o goleiro, ou ele me acompanhou, enquanto do outro lado, silenciosa e obediente a bola buscava o caminho o seu destino, como fizeram Peter Fonda e Denis Hopper em Easy Rider. 
O Coritiba venceu por 1x0 e levou o título simbólico do 1º turno. Mais do que isso, vai consolidando a hegemonia no futebol estadual - e até por isso precisa ser uma fase superada - com representativos números. E quanto ao Alex, muito obrigado pelo drible mais bonito que levei na minha vida.
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