Confabolando
Dona Araci, 72 anos, costuma dizer aos amigos, familiares e sobretudo aos netos que já nasceu Coxa-Branca e católica. Muito embora fiel aos dois princípios, nunca deixou de ser contestadora. Não entendia técnicos que inventavam táticas, goleiro batendo pênalti decisivo e jogador fazendo gol contra. Dirigente que contrata e vende mal, então, a deixa louca. Assim como também não encontra motivos para a não canonização de sua santa preferida, Maria Bueno.
A santa popular, como costumam dizer, ainda não foi alçada a este status pelo vaticano, mas para milhares de fieis isso não importa tanto. Inclusive para Dona Araci, que consegue realizar uma bela parceria com Maria Bueno quando o assunto é futebol. Dia de jogo do Coxa é sagrado. Radinho e televisão ligados. Sofá na sala, uma xícara de chá e um missal. Acompanham o ritual um terço e um par de meias.
Ao primeiro apito do árbitro Dona Araci começa suas mandingas. O terço é beijado três vezes e uma louca montanha russa se inicia. Momentos alternados de fé, reza, xingamentos, alegria e muita "secação". Para isso a simpática senhora Coxa-Branca convoca a santa Maria Bueno. Agarra-se ao par de meia a cada jogada perigosa. Sobretudo em AtleTibas, quando a tensão na casa de Dona Araci atinge outro nível.
Ela, com toda a força disponível, traça nós em cada um dos pés das meias separados e com convição repete: "Minha santa Maria Bueno, amarra as pernas deste jogador". O apelo vale tanto para jogadores da defesa adversária em lances ofensivos do Coritiba, bem como para os atacantes rivais se atrapalharem, facilitando o trabalho do setor defensivo Alviverde.
Os familiares se divertem, mas Dona Araci não dá bola. Diz que já salvou muitos gols contra o Coxa desta forma, assim como facilitou o trabalho dos artilheiros do Coritiba. Keirrison foi um deles e segundo ela precisa agradecer muito a Maria Bueno. Mas alguns, diz Dona Araci, nem a santa curitibana conseguia fazer milagres. "Tinha um tal de Betim, ou algo assim no ano passado. Este nem a santa dava jeito", brinca a simpática senhora.
Esta semana vai ser especial ara Dona Araci. As meias já estão preparadas, assim como todo o instrumental para o clássico de domingo. O Coritiba está bem no Campeonato e está sobra em campo neste estadual. Invicto, entrosado, embalado e muito próximo do título do primeiro turno e da vaga na final. O clima entre os jogadores parece ser ótimo e a torcida está em paz com o time dentro de campo.
Tudo isso nos leva a crer que o jogo será complicadissímo e que não podemos negar qualquer ajuda, inclusive a de Maria Bueno. AtleTibas são jogos tão imprevisíveis quanto emocionantes. O cenário atual não traça favorito, mas me faz lembrar de que por muitas vezes o time que enfrenta mais dificuldades no momento, sai vencedor do confronto.
O jogo de estreia na Copa do Brasil, contra o Ypiranga em Erechim, vem antes do clássico. A partida deve ser dura, mas o Coxa pelo que está jogando não deverá ter muitas dificuldades para eliminar o confronto da volta.
Mas no domingo, aí sim, toda a atenção será necessária. Uma vitória, além de garantir o título do primeiro turno e a vaga na final, trará a continuidade do clima no Alto da Glória. Uma derrota, embora não mudasse o panorama do campeonato pois o Cori continuaria líder, alteraria o clima em ambos os times. Tudo o que não queremos que aconteça.
Portanto, mãos a obra. Jogadores devem suar o sangue, o técnico armar o time direitinho e os torcedores cantar, torcer e apoiar seu time. Ah, sim. Toda e qualquer mandinga, camisetas da sorte, Orixás e a ajuda da dupla Dona Araci e Maria Bueno, são mais do que bem-vindas. Amarrem as pernas deles!
A opinião dos colunistas não refletem, necessariamente, a opinião do site.
Cada colunista tem sua liberdade de expressão garantida e assinou um termo de uso desse espaço.
Para que a minha glória a ti cante louvores, e não se cale. Senhor, meu Deus, eu te louvarei para sempre. (Salmos 30:12)