Confabolando
No escritório de minha casa, no quarto andar de um prédio que é caminho para a torcida deles, escuto uma série de buzinas afônicas. Soam meio constrangidas ao meu ouvido. Ao contrário da firmeza e som incisivo característicos das buzinas, estas me parecem acanhadas. Talvez tímidas. Não consigo ao certo saber o motivo. Os torcedores deles, que passam ao lado de minha casa, tocam a buzina de quatro em quatro toques, algo sistêmico. Talvez o inconsciente ainda mantenha esse número em suas mentes. Vai saber. De que vale uma buzina, se ela é muda? Qual a graça de um time, se não há torcida? Como comemorar um título, quando se perdeu o jogo mais importante de quatro?
A obrigação, como venho repetindo, mudou de lado no início da segunda fase do campeonato. Também como diz nosso amigo Dr. X, o troféu já foi produzido com o nome deles. A festa toda pelo título, constrangido, não é por eles. Mas sim por nós. Mais falam de nós, do que deles. Nos gritos, tentativas de afirmação, mais referências a nós do que a sua "conquista". Eis, que neste momento entra minha esposa pela porta e diz: "Eles até que estão 'calmos', né?". Difícil responder. Calmos ou constrangidos? Resignados ou são poucos e silenciosos? Ou todas as alternativas?
Poderia ter sido melhor...
O grande jogo deste campeonato foi vencido por nós. Como disse René após o clássico da semana passada: "são dois títulos e um eu já ganhei". Contudo, poderia ter sido ainda melhor. Se o título estava difícil, por falhas que hoje nos cobraram a conta, uma vitória na tarde deste domingo, 3, o dia Internacional do Sol, viria bem a calhar. Se o Couto não estava cheio, os 18 mil Alviverdes presentes empurraram o time sem parar. Incondicionalmente, apesar da má atuação equipe. Mas que se reforce que tentaram, mas faltou criatividade e um pouco mais de movimentação. Assim será, enquanto houver raça, haverá apoio. A fórmula é simples assim.
O resultado, um 0x0 em casa com apoio da torcida foi frustrante. Mas o problema está muito longe deste jogo. Para quem entrou em campo falando em possibilidade de título, o melancólico empate e a terceira colocação transformarem-se em um balde de água fria. O sinal amarelo acendeu. Faltou planejamento, reforços e mais jogadores que possam decidir o jogo. Chegamos, no final, onde fomos levados.
Contudo, no balanço geral continuamos distantes. São 11 títulos de diferença, ou seja, mais de uma década de conquistas consecutivas de diferença. Larga vantagem Alviverde. O retrospecto de confrontos diretos também nos distancia do rival. São 117 vitórias contra 97 derrotas. Esta terra tem dono.
Mas para galgarmos algo a mais neste ano tão especial, precisamos de mais. Muito mais. Buscar "reforços" como Rodrigo Mancha e Marlos, certamente não será suficiente para lutarmos pela Copa do Brasil, o G4 do Campeonato Brasileiro ou ainda uma taça Sul Americana. Agora é com a diretoria.
Vamos para o que interessa.
Que o sol verde e branco emita raios fortes nas próximas competições, as de fato mais importante. Cabe a René, um Coxa de coração, além de organizar taticamente o time e oferecer alternativas de jogadas, passar para o grupo o amor de um povo por suas cores, sua história e tradição. Com o auxílio de pratas da casa, que também tem sangue verde nas veias, extrapolar as dificuldades e ganhar no grito, na raça e com alma. Apoio não faltará.
Entretanto, precisamos de coragem para contratar, como disse René. Marlos, que voltou a apresentar um bom futebol e principal responsável pelo crescimento do time no segundo tempo, seria uma ótima alternativa. Contudo, é preciso muito mais. Marcelinho Paraíba já mostrou que é nosso Leônidas. Se identificou com o clube e a torcida, corre, organiza e comemora mostrando seu carinho pelo clube e torcida. Chama a responsabilidade e assume o papel de líder. Não há dúvidas de que fez muita falta. Por isso precisamos de outros guerreiros de qualidade, experiência e golpes certeiros.
Não podemos esperar por reforços como demoramos para trocar o técnico. Precisamos montar o grupo já. As fases finais da Copa do Brasil e Campeonato Brasileiro batem à nossa porta. Logo começa a Sul Americana. Que sejam muito bem-vindas estas competições e que nossa torcida possa saudar belos espetáculos, vitórias e títulos que tanto esperamos para comemorar o 100 anos do clube mais tradicional do futebol do Paraná, cuja tradição e história nos enche de orgulho e amor.
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