Confabolando
"Não importam os motivos da guerra, a paz ainda é mais importante do que eles"
A derrota dentro de campo no jogo deste sábado foi o menor dos problemas do Coritiba. A história mostrará. O que ficará guardado, dentro de campo, será uma campanha que superou todas as expectativas. Um time jogando um campeonato complicado e conquistando o título jogando 29 das 39 partidas fora do seu estádio. Algo inimaginável. Apesar do primeiro tempo apático e da merecida derrota parcial, na segunda etapa o time voltou a demonstrar o espírito guerreiro.
Contudo, foi o que ocorreu fora de campo que manchou uma tarde festiva. Para minha surpresa quando me posicionei em meu lugar na Mauá, próximo ao fosso, não vi nenhum material de torcida seja ela organizada ou não. As faixas de Coritiba Eternamente, os belos trapos do Povão Coxa-Branca exaltando a nossa história e outras faixas que ficam estendidas ao longo da reta da Mauá. Nada estava lá. As caixas de som, com volume alto, também me causaram estranheza.
Ao descobrir o que estava ocorrendo fiquei extremamente triste, situação que foi se ampliando a cada minuto que passou. Estádio em silêncio, no momento errado. O Couto cheio, parecia vazio. Sem a batida da bateria, que dita o ritmo das músicas que identificam nossa torcida, cada parte do estádio cantava um pedaço de nossas canções de forma não uniforme. A falta de pintura e cuidado com a arquibancada e com a Mauá totalmente exposta devido a ausência dos materiais dos torcedores.
Festa de aniversário sem bolo, sem balões, docinhos e salgadinhos. Sem cantar parabéns para você. Erraram todos. O momento não era e não deveria ter sido este. Um jogo que torcedores ou potenciais torcedores que ainda não são sócios foram para acompanhar o último jogo do Coxa no ano de uma campanha histórica. Qual foi a impressão destas pessoas quando entraram e saíram do estádio?
Pela primeira vez deixei o meu lugar próximo ao fosso e fui sentar no segundo anel da Mauá. Não havia clima. Aquilo não era o Coritiba, pelo menos não para mim.
Torcedores trocando ofensas e acusações. O presidente do clube, autoridade máximo para o bem e para o mal, sendo xingado em um momento institucional que era o de receber o troféu. Não é assim que se demonstra amor e respeito ao clube. Todos tem seu valor e importância para o clube. Seria incoerente dizer qualquer coisa diferente disso. Mas cada um na sua. Torcida torcendo, jogadores jogando e diretoria dirigindo. Simples assim.
A proibição do uso de materiais de torcida não foi apenas para a Império. Atingiu a todos. O Povão Coxa-Branca, a Mancha Verde e até os torcedores que de forma individual e voluntária levam seus adereços para enfeitar o Couto Pereira no dias de jogos. Muito deles sócios que são o ponto de partida da visão administrativa do grupo gestor. Muito embora se diga o contrário, o protesto não foi organizado entre as torcidas e grupos. Império, Mancha Verde e Povão Coxa-Branca não fizeram uma ação articulada.
Escrevi, em meu último texto, que o Coritiba deu a volta por cima e quando digo Coritiba, digo toda a coletividade. Jogadores, torcedores, diretoria e principalmente a instituição, que acaba por tornar-se a soma de todos estes fatores. Se o nosso Coxa é tudo isso, pergunto, como podemos nos desunir de tal forma? Qual é o caminho que traçaremos em um ano tão difícil com 2011 quando não podemos sequer pensar em uma campanha ruim que nos deixe novamente com risco de rebaixamento?
O Estádio Major Antônio Couto Pereira é um bem privado. De fato e de direito, cuja responsabilidade está sob a guarda da administração do clube. Mas também é um bem comum de todos os seus torcedores, de uma comunidade que há 100 anos luta para ver seu clube do coração progredir, ganhar e continuar sendo o Glorioso. Proibir os torcedores de levarem seus materiais que exaltem o clube é um tiro no pé sem tamanho. Lela, Kruger, Alex, Cleber Arado, Tuta, Friz, Breyer, todo o time de 1985 e tantos outros jogadores e personalidades da história Alviverde que continuam presentes no Alto da Glória eternizados pela torcida simplesmente foram barrados da festa. A história do Coritiba também foi.
A exemplo do ano passado saí do estádio, no último jogo da temporada, triste, muito triste. Preocupado com o futuro do Coritiba. Sem união e sem alegria, o que será de nós em um futuro não muito distante? O que é um clube de futebol se não a representação expressa da conjunção de todos os fatores já citados? Torcida, sendo organizada ou não, jogadores e diretoria precisam estar afinados. O resultado da ausência desta perspectiva foi que presenciamos dentro de campo no sábado.
Este é um ano para ser muito lembrado. Do início ao fim. O ano em que o Coritiba levantou, sacodiu a poeira e deu a volta por cima. Mas também o ano em que na última partida temporada o racha político do clube finalmente chegou as arquibancadas. Se no ano passado o Coritiba foi capaz de mudar os rumos da crônica do desastre anunciado para este ano, seja forte e humilde o suficiente para pacificar todos os setores do clube. Que este ano fique eternizado em nossas mentes, em nossa história e nosso corações. Tão e somente isso. E que para o nosso futuro, de fato, não importem os motivos da guerra, pois a paz ainda é mais importante que todos eles.
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