Confabolando
O Coritiba nunca teve interesse em alugar o Couto Pereira ao seu maior rival. A afirmação é do presidente do Coritiba, Vilson Ribeiro de Andrade. O ex-executivo do HSBC e advogado assumiu a vice-presidência do clube em meio a um turbilhão, com o Coxa vivendo seu pior momento.
Prestes a disputar uma segunda divisão, com dificuldades financeiras devido aos dois anos da primeira gestão de Jair Cirino e cheio de conflitos internos. Para piorar a situação: contava apenas com o apoio de sua torcida e de rarissímos políticos*, ainda sequer sabia onde jogar. Perigrinou pela Vila Capanema, Carangueijão e Arena Joinville.
Passados dois anos, um recorde mundial, três títulos e dois quases, Vilson Ribeiro de Andrade volta a estar no centro de uma polêmica: o aluguel do Couto Pereira ao Atlético Paranaense.
Em entrevista exclusiva ao blog, Vilson garantiu que o Coritiba nunca teve interesse em fazer negócio, avaliou que a Federação extrapolou seus direitos, que a luta do Coxa é até o fim, mas sem loucuras e disse que conta com o apoio de André Macias, vice-presidente da FPF ligado ao clube.
O presidente do Coxa ainda falou sobre o número de sócios, cobrou maior participação da torcida, criticou torcedores de ocasião e deixou um recado claro para quem acha que o todo o imbróglio envolvendo o aluguel do Couto Pereira não passa de um teatro.
Confira a entrevista:
Blog: Qual foi a primeira vez que o Atlético procurou o Coritiba para falar do aluguel do Couto Pereira, mesmo que informalmente? A negativa já foi dada desde o primeiro momento?
Vilson Ribeiro de Andrade - A primeira conversa com o Coritiba foi num encontro informal com o ex-presidente Marcos Malucelli. Ele pediu uma agenda para se falar sobre a possibilidade de o Atlético jogar no Couto, isso foi no início de agosto de 2011. E o Coritiba se colocou à disposição para conversar, mas sem nenhum compromisso formal em cessão. Em nenhum momento, saliento, foi discutida a possibilidade de cessão; foi discutido apenas o compromisso de agenda.
Blog:Por qual motivo o Sr. acredita que a direção do Atlético tenha enviado ofício diretamente à FPF no apagar das luzes do tempo máximo?
VRA - Eu entendo, e até foi dito pelo próprio presidente do Atlético, que ele usou este artifício para não ter o constrangimento de ouvir um não do Coritiba. Entendo que a resposta do presidente do Atlético deve ter sido o motivo de ele não ter enviado diretamente a carta.
Blog:Dada a média de público do Atlético no último ano é plenamente possível que outro estádio, como a Vila Capanema seja utilizada pelo rival. Por qual motivo o Sr. acredita em tamanha insistência para o uso do Couto Pereira, sobretudo após tantas críticas ao estádio?
VRA - Na minha visão, o Couto oferece as melhores condições do estado do Paraná. O conforto, o local para 37/38 mil torcedores autorizados. Então, eu acredito que a insistência do uso do Couto é por todas essas condições que o estádio oferece hoje, já que não há nenhum outro em Curitiba com toda essa infraestrutura.
Blog: O Coritiba anunciou, por meio de nota oficial, que irá até o fim para defender o interesse do clube e de sua torcida. Qual é o limite máximo que o clube está disposto a enfrentar nesta batalha?
VRA - O Coritiba vai buscar todos os meios disponíveis na defesa dos interesses. Evidentemente, o Coritiba não vai fazer nada que coloque em risco o futuro da sua agremiação, contrariando dispositivos legais que possam, inclusive, fazer com que o clube corra o risco de ser desfiliado das disputas em que está inscrito. E bom lembrar também que, neste contexto, temos que seguir o que rege os nossos estatutos.
Blog: Informações extra-oficiais dão conta que desde a final da Copa do Brasil o Coritiba teria perdido cerca de 8 mil sócios, tendência que deve continuar caso o aluguel seja concretizado, uma vez que inúmeros torcedores pretendem deixar seus planos de lado. Que impacto isso teria para o clube? Como evitar que ocorra uma perda maior no quadro associativo?
VRA - Este é um problema muito sério porque o torcedor exige muito, mas não há colaboração de grande parte da torcida. Se analisarmos que hoje temos mais de 1.2 milhão de torcedores, é inaceitável que tenhamos apenas 25/27 mil sócios adimplentes. O torcedor do Coritiba tem que entender que, além do protesto que faz, precisa contribuir com o clube. No meu entender, essa evasão de associados vem desde julho passado, quando atingimos 31 mil filiados; Assim, eu acho que a torcida do Coritiba precisa reavaliar este conceito. Se ela não ajudar o clube, o Coritiba vai continuar na mesmice de sempre. Nunca vamos disputar títulos brasileiros importantes; vamos sempre ser candidatos a não cair. Em resumo, o papel da contribuição dos nossos torcedores, dos nossos aficionados, é de fundamental importância para a sobrevivência e crescimento do Coritiba. Pior que isso é a atitude daqueles que só pagam o plano de sócio em jogos decisivos. Me desculpem os que pagam o plano só para ver um jogo: o Coritiba não precisa deste tipo de sócio.
Blog: O Coritiba teria interesse, em alguma hipótese, alugar o estádio ao rival? Em caso positivo, de que forma um pacote de jogos ou apenas algumas partidas poderiam impactar no orçamento do clube? Este impacto, seria suficiente por exemplo, para dirimir eventuais perdas no quadro associativo e no uso do estádio e aí incluí-se o uso do gramado?
VRA - O Coritiba nunca teve interesse em alugar o seu estádio ao rival. Evidentemente, o futebol é uma mão dupla e os clubes precisam se unir fora de campo. Agora, isso não é analisado racionalmente. A maior parte dos torcedores age de forma passional e vê tudo apenas sobre um ângulo passional. O clube também precisa ver de um ângulo passional – isso faz parte da alma do futebol -, mas com equilíbrio. Evidentemente que, se o Coxa não locar o seu estádio, deixa de ganhar uma fonte considerável de receita. Espero que a torcida do Coritiba compreenda isso e volte a se associar ao clube. Só discurso não basta: se o torcedor não ajudar, o clube ficará refém destas imposições.
Blog: A CBF, por meio do porta-voz de Ricardo Teixeira, o Rodrigo Paiva, já disse anteriormente que não estaria envolvida nesta questão e que "o problema era do Atlético". A que o Sr. atribuí esta postura da FPF contrariando a posição da CBF?
VRA - Em relação à posição da CBF e da questão da Copa, eu entendo que a Federação tentou tomar uma posição no sentido de, talvez, resolver o problema para um de seus filiados. Mas a entidade tem que entender que os filiados são Coritiba e Atlético, que nem sempre têm interesses convergentes. A FPF, para cumprir o seu verdadeiro papel, tem que buscar o diálogo e o equilíbrio entre as partes. Por isso é que se tornou evidente que a medida tomada contra o Coritiba, no caso da requisição unilateral do Couto Pereira, foi um ato duro que extrapolou os direitos da Federação.
Blog:O vice-presidente da Federação, André Macias, é ligado ao Coritiba. De que forma ele pode ajudar neste processo e como ele está envolvido nas discussões?
VRA - Eu acredito que o André Macias poderia sim ajudar muito o Coritiba; e eu conto com a ajuda dele.
Blog:O Sr. acredita que há uma diferença no tratamento da direção da Federação - a mesma que o Coritiba apoiou nas últimas eleições quando havia possibilidade da criação de uma liga - em relação ao Coritiba e Paraná Clube quando comparado ao Atlético Paranaense?
VRA - Em relação ao tratamento diferenciado, eu não sei. Isso tem que ver. Eu acredito que a Federação Paranaense (assim como a CBF) tem que agir como magistrado, na defesa do interesse de seus filiados. Como um pai que toma decisão na sua casa, no intuito de conciliar a diferença entre seus filhos. O pai tem que ter o equilíbrio e tem que ser justo; e é isso que eu espero da Federação Paranaense de Futebol e da própria CBF.
Blog:Qual seria o prejuízo (ou lucro) estimado pela direção com o valor fixado pela FPF em R$ 30 mil por jogo?
VRA - R$ 30 mil é um preço fora de cogitação.
Blog: Para finalizar: Nas redes sociais torcedores, sobretudo do rival, fazem galhofa e dizem que este processo trata-se de um teatro para não desgastar a direção do Coritiba. Que resposta o Sr. daria a esta tipo de comentário?
VRA - Vamos analisar o que foi feito juridicamente. A prática. Eles acham que é teatro a petição com a qual o clube obteve a liminar junto ao Superior Tribunal da Justiça Desportiva!? Me poupem! Teatro é exatamente esse tipo de atitude. Para nós, isso é coisa muito séria. O Coritiba é um clube sério. E tem uma Diretoria que leva isso como princípio de ação.
*Os nomes dos três políticos que defenderam o Coxa não foram citados por um motivo: o autor do blog quer evitar qualquer politização do espaço, contudo lembra muito bem o nome dos três.
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