Confabolando
Amigos, hoje publico, com atraso, o texto do Coxa-Branca Rodrigo Salvador Santos.
O seu texto remete ao AtleTiba, mas se aplica perfeitamente ao jogo contra o Palmeiras e sem dúvida a muitos outros que virão.
O atraso, na publicação, é culpa minha. Por isso peço desculpas de público ao Rodrigo.
Sobre o jogo contra o Palmeiras, Dona Araci promete enviar um texto. Aguardarei.
Enquanto isso, sigo caminhando acima do chão depois da vitória (mais uma) inquestionável do Coxa.
Do goleiro ao ponta esquerda. Do roupeiro ao técnico Marcelo Oliveira, que venceu a desconfiança da maioria da torcida, inclusive minha.
Do motorista que leva o laudo da vigilância sanitária, ao vice-presidente Vilson Ribeiro de Andrade.
A todos, novamente, meus parabéns e muito obrigado.
E o texto do dia, de Rodrigo:
Quando o Brasil venceu o Paraguai em 1955 por três a zero, o Dono das Palavras disse que Zizinho "ganhou a partida antes de aparecer, antes de molhar a camisa, pelo alto-falante, no intervalo. Em último caso, poderá jogar, de casa, pelo telefone". Com uma boa dose de ousadia na comparação, Bill fez o mesmo no Atletiba do último domingo.
Aos 8, nosso Ziza correu sem pretensão aparente na direção de Manoel, que aproveitou sua presença para ser expulso. Aos 32, em um movimento inútil,deu um trote só para que ninguém falasse que estava parado na área. No elástico cabeceio de Pereira - tão quanto a defesa de Renan - a bola decidiu sua própria trajetória pra cair na cabeça dele, posicionado ali graças ao tal movimento inútil, pronta para encontrar o capitão atleticano dentro das redes. Aos 44, uma bola rifada pela zaga cai no pé do homem, entre dois zagueiros. Um cenário em que o chute é perebice, afobação, coisa de pelada. Ainda mais um chute fraco como aquele. Chute esse que gerou protestos meus e comemoração do adversário. Só trocamos de sentimento quando a bola se materializou do lado de dentro da trave. Bill podia ter cabeceado essa bola, dado de calcanhar, tanto faz, a bola entraria. Como entrou com Zizinho em 55. Leonardo fechou os três a zero, os três chocolates do Domingo de Páscoa, que embalaram o canto da torcida, ainda no terreno inimigo: "Coelhinho da Páscoa, que trazes pra mim? Um ovo, dois ovos, três ovos assim". A tão tradicional música ganha um novo contexto.
Bill ganhou o jogo. O time ganhou o campeonato. E mais que isso, o time ganhou uma fatia considerável no coração coxa-branca. Quando meu filho e meu neto me pedirem histórias sobre o Coxa, como hoje peço ao meu pai, sei que vou começar a história assim: "Edson Bastos no gol. Jonas, Pereira, Emerson e Eltinho. Leandro Donizete, Léo Gago, Davi, Rafinha e Marcos Aurélio, Bill no ataque". Falarei um pouco sobre cada um. Direi que cresci ouvindo "em 70 nós só íamos ao estádio ver de quanto o Coxa ia ganhar" e que esses 11 de agora fizeram o mesmo comigo. Os levarei ao Couto, como meu pai e meu padrinho me levaram, usando uma camisa com o nome de um destes onze, qualquer um. E contarei, com as verdades que existem - e as que aparecerão até lá - sobre o três a zero na Baixada, que coroou o maior campeonato que já vi o Coritiba fazer. Quero mais, quero poder contar sobre um Brasileiro, uma Libertadores, um Mundial. Mas o título deste domingo será sempre pauta, que posso ensaiar agora:
"Filho, eu vi aquele jogo com a sua mãe e seu tio, lá no Couto. Eu estava no primeiro anel, perto da Mauá. (conto um pouco do jogo). O time saiu da Baixada e foi pro Couto comemorar. Durante a festa - todos estavam lá, todos - o Tcheco repetiu o gesto feito no estádio deles, e arremessou (sim!) o troféu de campeão do segundo turno para a torcida. Ele veio chegando perto de onde eu estava, e eu falei para sua mãe - que vestiu o símbolo do Coxa pela primeira vez naquele dia - sobre o quanto seria legal tocar naquele troféu. Ela, quase instantaneamente, me empurrou com palavras pra mais perto do fosso.
Cheguei no dito cujo, e lá vem o Tcheco com o troféu, que de repente estava a menos de um metro de mim. Demorei um pouco, mas consegui, segurei bem forte na base dele. E, por um segundo, as minhas escolhas de menino, os sofrimentos com rebaixamentos, com times ruins, a saudade do meu mentor coxa-branca - seu tio-avô, uma pena que você não conheceu - , tudo estava justificado na palma da minha mão e seguro pelos meus dedos. Voltando ao meu lugar, sua mãe me perguntou um simples ´E aí?´, e eu resumo todo este papo com um ´Aí que eu também sou campeão´ e algumas lágrimas."
Que os olhos do meu filho, e de todos os coxa-brancas da geração dele, possam ver algo que lembre o time que vejo hoje.
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Rodrigo Salvador dos Santos
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