Confabolando
Como combinado e prometido, publico o texto escrito por mim na manhã de quinta-feira santa, logo após retornar do Couto Pereira da tentativa de compra de ingresos.
Apenas dois adendos que não estão no texto original pelo simples fato que as informações surgiram depois de usa redação.
O primeiro: Relato do portal Paraná-Online de que apenas 500 torcedores conseguiram acesso para a compra de ingressos.
O segundo: a entrevista do vice-presidente Vilson Ribeiro de Andrade, dizendo desconhecer a distribuição de ingressos para conselheiros e que ele iria apurar. Acredito nele. Nas duas situações. A primeira de que não sabia, a segundo que iria apurar. Como sócio, aguardo a resolução e divulgação da segunda.
Menos mal que o titulo, o recorde e a excelente campanha dentro de campo minimizaram este problema. Que fique a lição.
Agora, o texto:
Difícil saber por onde começar a escrever esse texto. Mil coisas vêm a minha cabeça, de forma tão rápida, mas ao mesmo tempo confusa pelo cansaço da noite anterior. Apenas uma hora e meia de sono em uma cadeira de praia emprestada gentilmente por um amigo.
O motivo era mais do que justificável para abandonar o conforto do meu lar e a sempre agradável companhia de minha esposa: comprar um ingresso para ver o clássico que pode decidir o Campeonato Paranaense de 2011. Contudo, o que vivi foi um Haloweeen adiantado. Uma noite de horrores que seguiu da mesma forma pela manhã. Uma sucessão de erros, muitos deles primários, que poderiam ter custado a vida de uma pessoa, assim como aconteceu em seis de dezembro de 2009. Sim, pois embora nenhuma pessoa tenha morrido, não podemos esquecer dos feridos como o menino que até hoje tem dificuldades de fala e locomoção por um tiro de borracha que lhe atingiu a cabeça.
O primeiro deles a ausência absoluta de organização. Cheguei no Couto Pereira e para meu espanto não haviam cavaletes, cordões de isolamento, nada que separasse a fila da calçada para as centenas de pessoas que ficavam nas ruas. Situação perfeita para quem quisesse furar fila. E foi o que aconteceu de forma até violenta por volta das 6h. Um grupo de torcedores ocupou os primeiros lugares da fila, a força, retirando outros torcedores. Tudo sob a vista da Polícia Militar que acompanhava a movimentação a meia quadra de distância. Segurança do clube, então, nem pensar. Se cordões de isolamento e cavaletes não foram providenciados, que dirá recursos humanos para impedir este tipo de situação. Até ameaças de uso de armas foram ditas e ouvidas.
O segundo problema veio em cerca de três horas depois, quando em poucos minutos, cerca de 20 para tentar ser mais exato, a carga de ingressos destinada a torcida do Coritiba evaporou-se. Ou foram mais ingressos vendidos por pessoa, ou os "furões" passaram de algumas centenas ou uma grande quantidade de ingressos foi destinada para pessoas que não precisaram enfrentar a fila e no conforto do seu lar sequer imaginava os apuros que torcedores que passaram a noite sem dormir estava sendo sujeitados. Fato conhecido, já que conselheiros e pessoas próximas ao círculo do poder Alviverde tem direito a ingressos de forma facilitada, não apenas para eles, mas em alguns casos para sua família.
Revoltados com a situação um grupo de torcedores começou a protestar com a venda de ingressos em tempo recorde. A Polícia Militar então foi acionada e sim, foi agredida com algumas garrafas que voaram em sua direção. Mas ao invés de buscar os marginais que tomaram tal atitude, partiram para cima de todos os torcedores de forma indiscriminada. Inclua neste bolo senhores, senhoras, mães e pasmem: algumas com bebês de colo. Enquanto os tiros com balas de borracha eram disparados a esmo, mães corriam com suas crianças no colo, torcedores se embolavam em busca de um lugar seguro e outros até cairam no chão.
Quando chego em casa vejo minha mulher preocupadissíma, pois a notícia já estava nas rádios da cidade e ela ouvia as notícias enquanto tentava falar comigo sem sucesso. O motivo só a Vivo pode responder. Me contou também que uma equipe de reportagem disse ter sido apedrejada pela torcida do Coritiba em meio a toda esta confusão.
Agora, a torcida Coxa-Branca passa a ser novamente tachada de violenta. A imprensa novamente será a culpada por isso? Fecharemos os olhos para a sequência de erros, generalizados, que levaram a mais esta situação lamentável? Fatos que deixaram mesmo que momentaneamente um time que é um assombro, que joga por música e que apresenta um futebol belissímo em segundo plano? Digo, repito e reitero quantas vezes forem necessárias: O que o time do Coritiba está jogando é algo fantástico, fora de série e não merece, não pode e não será maculado por este fato.
Mas a organização e beleza vistas dentro de campo foram inversamente proporcional ao visto fora de campo. Pior, colocando a vida e a saúde de centenas de pessoas em risco.
Sócios sendo tratados como objetos secundários no que deveria ser, sim, seu grande momento neste ano por enquanto. Assim como prega diuturnamente a nova direção. Mas neste caso, me parece claro, ficaram em segundo plano com o tratamento dispensado a eles (grupo que me incluo) desde o início da fila para compra de ingressos.
Este pensamento, de corte e amigos do rei, que distribui ingressos para pessoas próximas, é o mesmo de quem fecha um estádio privado, mas que é público para uma comunidade, para um grupo de pessoas jogar uma partida de futebol e comer coxa desossada. Não se trata de um ou outro falto isolados, mas eles representam uma forma de pensar.
E agora quantas destas pessoas, que se sentiram lesadas pelo tempo disponibilizado durante toda a madrugada para comprar um ingresso e ainda tiveram sua segurança colocada em risco deixarão de ser sócias do Coritiba? Com qual argumento poderá se condenar tal atitude?
O texto é grande, é pesado e não deveria aparecer em um momento como este. Mas antes de falar sobre o momento ideal para uma crítica, assim como sentenciar culpados, é necessário que cada um pense qual é a sua parcela de culpa neste lamentável, perigoso e evitável. Desde a organização da fila, passando pelos critérios de venda/distribuição de ingressos, as garrafas lançadas contra a Polícia Militar e a reação desta contra todos os torcedores, independentemente de idade, acompanhante ou padrão comportamental.
De tudo isso, posso apenas dizer: lamentável e evitável.
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