Confabolando
Quando se fala em memória, muitas vezes vem a nossa cabeça imagens em preto e branco. Algo normal. Fomos acostumados a ter como lembranças imagens neste formato para demonstrar antiguidade. Convenções sociais, nada mais que isso.
Pois bem, lembro de que em 1994, quando eu tinha 12 anos, tive um sonho curioso que guardo na memória até hoje. Em um flash me vi no meio de um estádio de futebol lotado. Mas tudo era em preto e branco, menos uma coisa, ou melhor, 11 coisas. Ao meu lado nesse estádio estavam jogadores como Raí, Romário e Taffarel. Eu estava jogando pela seleção. As imagens do meu sonho eram lindas, tudo em preto e branco, a exceção da camisa da seleção canarinho.
Dezesseis anos depois minhas memórias foram coloridas e grandes ídolos também estavam ao meu lado, mas extremamente vivos. Tive a felicidade, na última segunda-feira (14), de ir até o jantar promovido pelo Gilson de Paula em homenagem a dois grandes ídolos da galera Coxa, o Tostão e o Cléber.
Dois jogadores que têm ligação direta com meu amor pelo Coritiba. Fazem parte de forma intrísica deste história. Explico: Nasci e passei minha infância e adolescência em Pato Branco, terra colonizada em grande parte por gaúchos. Meu pai, Coxa-Branca de coração, era uma das exceções na cidade que era muito mais azul e vermelha do que Alviverde e rubro-negra. Existiam torcedores do Coritiba, A. Paranaense e P. Clube, claro. Mas, eram as exceções.
Um dos fatores que dificultava a ampliação do número de torcedores, na época, era a ausência de transmissões televisivas de nossos times para o interior. Então aprendi a gostar de futebol e a torcer pelo Coxa na voz de Lombardi Júnior. Acompanhei aquela maravilhosa campanha do paranaense de 1989, com aquele time fantástico, com oito anos de idade, sentado em uma mesa na qual estavam meu pai e o seu super motorádio. Fantástico. Imaginava o Tostão, Chicão, Kazu, Osvaldo e companhia no que se ilustrava pela voz de Lombardi. Assim aprendi a amar o Coritiba.
Lembro até hoje do meu pai voltando de viagem com uma faixa do Coxa campeão. Sim, ele saiu de Pato Branco e foi até Curitiba ver para ver o time do Tostão ser campeão. Acompanhava o noticiário e tenho até hoje uma fita VHS gravada com os gols daquele campeonato e ao final com o saudoso hino do Vinícius Coelho: “Vencer é o seu lema, trabalhar é tradição. Salve, salve, Coritiba, eterno campeão”. Maravilhoso.
Dez anos depois, Cléber passaria a figurar neste cenário. A decisão desta vez era contra o P. Clube e o Coxa estava na fila há 10 anos, o último título tinha sido justamente com Tostão. A mesma mesa, o mesmo rádio e o mesmo pai angustiado. Cada gol do Coxa e do Cléber era uma explosão na Visconde de Nácar, lá em Pato Branco. Até que no final da partida Darci fez o gol e deu o título ao Coxa, mas quem marcou aquele campeonato sem dúvida foi Cléber.
Nesta segunda-feira um filme passou pela minha cabeça. Todas estas memórias foram revividas, em cores vivas e com eles, Tostão e Cléber, ali ao lado. O Coritiba, os títulos, as alegrias, meu pai, Pato Branco, aquela mesa e aquele motorádio. Tudo misturado e ali, juntos, ao mesmo tempo. Coisas que só a nossa memória pode nos trazer.
Por isso, deixo aqui meus parabéns em público ao Gilson de Paula. No peito e na raça organizou esta homenagem. Fez, com certeza, com que muitos filmes coloridos passassem na cabeça de todas as pessoas presentes, inclusive para Tostão e Cléber. Meus parabéns também a estes dois jogadores, cada um com seu estilo diferente, mas que marcaram época nas suas passagens pelo Coritiba. Que o Gilson consiga manter esta tradição de manter viva a história Alviverde que o saudoso Faisal fazia tão bem. Que muitas memórias coloridas possam passar em forma de filme em Alta Definição em nossas cabeças.
Fim de um ciclo
Na onda das memórias, aproveito para revelar aos fieis amigos e leitores que desde a última quarta-feira deixei a editoria do Coxanautas. Mas continuarei aqui, com o blog, que espero agora, possa ter mais carinho e atenção de minha parte.
Ciclo sem fim
Nesta mesma segunda-feira (14) completei oito anos ao lado do grande amor de minha vida, Letania. Importei esta gaúcha de Porto Alegre, que de tão parceira que é, dividiu comigo um dos meus maiores amores, o Coritiba.
Colorada de nascença, aprendeu a amar o Coritiba ao me acompanhar nos jogos no Couto Pereira. Não divide, muito pelo contrário, soma comigo o amor pelo Coxa e está sempre ao meu lado, seja na hora do rebaixamento, seja na comemoração do título. E isso vale para tudo.
A Letania meus sinceros e eternos votos de companheirismo, parceria e amor.
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