Confabolando
Quando eu era criança em Pato Branco, lá na década de 80, um dos grandes eventos da infância era a chegada do Circo. Normalmente a maioria deles, ficava em um terreno próximo à minha casa. Pronto. Durante uma semana já tínhamos programa.
Isso não se resumia a assistir ao espetáculo uma, duas, três, quatro e até cinco vezes. As tardes de brincadeiras também eram todas em volta da estrutura montada. Chegávamos perto dos bichos, conversávamos com os palhaços e demais artistas. Era mágico, sobretudo pelo fato de que naquela época sequer se pensava em internet. Televisão era muito limitada e a diversão se revezava entre o mega drive e as partidas de futebol.
Quem diria que décadas depois essas atividades se misturariam com minha rotina? O circo ficou cada vez mais distante. Não apenas da minha realidade, mas da brasileira como um todo.
A indústria do entretenimento cresceu vertiginosamente e acabou abocanhando outros setores – até o esporte, vejam só – e com isso o circo foi perdendo sua magia, seu encanto. Mágicos tornaram-se manjados, palhaços encontrados em qualquer canto e os animais – com toda a justiça do mundo – foram sendo banidos dos espetáculos. De Orlando Orfei ao Circo Spacial de Marcos Frota, todos foram perdendo seu encanto.
Eis que chega 2012 e minhas lembranças de infância são alçadas ao setor consciente do meu cérebro por um impulso do id. Tudo parece se repetir para reavivar as memórias de quando Thiago, André, Polaco, Fabrício e eu dividíamos as tardes com o maravilhoso cheiro da serragem, tão característica daquela época.
Acompanhar o futebol neste início de ano é voltar ao tempo de Orlando Orfei, sem a mesma classe, é claro. Lembro-me da zebra, aquele cavalo de pijama, que circulava pelo espaço apertado do picadeiro. Impossível não fazer uma ligação com o Coritiba, invicto há 49 partidas no Campeonato Paranaense, campeão invicto do ano passado, único time da Série A do torneio estadual e com chances remotas de chegar à final da competição.
Também há o Leão. Aquele animal que ruge, faz cara feia, mas já está tanto tempo dentro do cativeiro que perdeu a sua essência. Seus barulhos e caras feias assustavam poucas crianças, quiçá adultos. Nem as chicotadas estaladas do treinador, aquelas de mentira, surtiam muito efeito. Aqui na terrinha, um antigo leão, voltou rugindo. Mas é nos bastidores que tem demonstrado sua maior força.
As tortadas dos palhaços, ou seja, a comédia pastelão fica por conta da organização do Campeonato Paranaense. Na figura do seu presidente já fez e desfez o regulamento, tentou criar o comunismo individual, desapropriação para terceiros, voltou atrás, fez mágica ao arrumar dinheiro para pagamento da dívida que evitou o leilão do Pinheirão, virou as costas para seus filiados em detrimento de apenas um por motivos ainda desconhecidos do admirável público.
Agora, a corte de equilibristas, ou seja, o Tribunal de Justiça Desportiva recebe denúncia contra Coritiba e Atlético Paranaense pelo fato de o primeiro clássico ter contado apenas com uma torcida. Algo já abordado por mim, quando falei sobre a falência da segurança pública, uma vez que a admitida incapacidade – mesmo que momentânea – em administrar um clássico na Vila Capanema demonstra-se a ausência de ações concretas para conter a violência.
Agora, o Coritiba, que foi prejudicado pela medida, é denunciado no tribunal. Fato justo? Sim. Justíssimo. Era público e notório que a decisão feria, de morte, o Estatuto do Torcedor. Se há uma lei, ela precisa ser cumprida. Mas dirá você: “e que culpa tem o Coritiba?” Toda, respondo eu.
O Coritiba foi o clube, que inicialmente, manteve e deu poder ao presidente Hélio Cury quando Joel Malucelli tentou criar uma liga de clubes para medir forças com a Federação Paranaense. Seu então Presidente Jair Cirino foi a figura simbólica desta ação que culminou com a indicação do Coxa-Branca André Macias à vice-presidência da entidade.
Tem culpa também a partir do momento em que foi passivo com relação ao descumprimento do Estatuto. Tivesse apresentado uma denúncia ao próprio Tribunal ficaria, ao meu ver, livre de qualquer ônus pela decisão, já que teria alertado os órgãos competentes do atentado aos direitos – tão raros – do torcedor.
Mas Gibran, pergunta o leitor, você queria que o clássico tivesse ocorrido mesmo colocando a segurança dos torcedores em risco? Não, Pedro Bó, respondo eu. O responsável pelo problema era a própria Federação Paranaense que marcou o único jogo de interesse do primeiro turno do campeonato para uma quarta-feira de cinzas. Tivesse outro responsável, seria o Atlético Paranaense, mandante do jogo.
O papel do Coritiba nesta comédia pastelão, com mistura de drama e terror em seu enredo, seria apenas defender próprio clube e os interesses do seu torcedor. Mais: deveria já pensar no jogo da volta, uma vez que todos sabiam da pressão existente para que o que valeu para um, não valeria pelo outro. Afinal de contas, este filme, com estes artistas, já é um remake de antigas produções.
O resultado está aí, neste começo de 2012 que me lembra o cheiro da serragem dos circos de Pato Branco. Triste que a zebra negativa seja nosso time, os leões rugem do lado de lá e os palhaços, desta vez, somos nós.
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