Confabolando
Ter este espaço, "confabolar" e ter o privilégio de poder dividir histórias, estórias, sensações e momentos com vocês é algo extremamente prazeroso para mim. A responsabilidade, inerente a esta dádiva, se torna o mínimo como forma de retribuição da atenção dispensada pelos amigos leitores a estas linhas traçadas com muito carinho.
Carinho que também é retribuído a mim de muitas formas. Seja colocando alguns minutos do seu dia para ler esse texto ou como por exemplo no e-mail que recebo e transcrevo abaixo. Ele foi escrito por Dona Araci, a devota de Maria Bueno e que amarra as pernas dos jogadores adversários.
Espero que gostem tanto quanto eu.
de: Araci
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para: confabolando@coxanautas.com.br
data 28 de março de 201117:08
assunto: Nosso Coritiba
Caro Gibran, o conheço há algum tempo. A linearidade desta medida é que é variável. Para você mais tempo do que para mim, afinal, nossa diferença de idade faz com que este parâmetro seja diferente. Você poderia ser meu neto e talvez até assim o sinta, pois você me ajuda a trazer um pouco de Joaquim para mim. Meu marido, Coxa-Branca, que durante tantos anos esteve ao meu lado. Seja em casa, seja nos passeios pelos parques, ou em nosso segundo lar. O Couto Pereira.
Certa vez, disse ele, que a vida só lhe faltava com uma coisa para ser perfeita. O Coritiba jogava no Couto Pereira. Estávamos lá, como sempre, sentados de mãos dadas torcendo pelo nosso time. Não era simplesmente algo a mais que nos unia, era talvez a principal demonstração de como nossos interesses e afetos convergiam para um mesmo ponto. Não foi nem uma nem duas vezes que nossos olhos se cruzaram automaticamente como um enlace não programado e fulminante milisegundos após um gol. O abraço que se seguia era tão espontâneo e inesperado que lembrava a primeira vez que nossos braços se cruzaram.
Era final de julho de 1973. O Coritiba vencia o Colorado pelo Campeonato Paranaense por 1x0. Joaquim, fã de MPB, olhava o céu cinza sob o gramado do Couto Pereira e sentindo o clima frio da cidade revelou o que faltava: "Quando o verde dos teus olhos se espalhar por Curitiba serei um homem realizado". Ah se Joaquim estivesse vivo...
Gibran, mantenho o hábito de passear e passear muito. Tal e qual fazia com Joaquim. É uma forma de manter viva a nossa memória, assim como é o Coritiba. Joaquim, se estivesse aqui caminhando comigo, seria um homem realizado. A série de vitórias do Coritiba já é destaque nacional. Este sentimento, que toma de assalto os corações alviverdes, se transforma em um mar verde pelas ruas da capital. Camisas e mais camisas do Coritiba.
Seja nos passeios pelos parques ou olhando para a rua, aqui da janela do apartamento em que vivo, só vejo o nosso Coxa. Pessoas, tão pequeneninhas quando olhadas do sétimo andar, demonstram um amor tão grande pelo seu clube que em uma catárse coletiva, misturadas ao verde das folhas das árvores, fazem com que o chão cinza das pedras petit pavet transformem-se praticamente em um tapete verde. Visto, assim do alto, mais parece o mar no chão. Esta onda invada a cidade. Este orgulho que tornou realidade o que Joaquim sempre sonhou ver. O verde dos meus olhos se espalhar pela capital.
Que assim seja, para todo sempre. Para você, meus netos e as novas gerações.
Para as mais velhas e para aqueles que já se foram mas continuam a nos cuidar.
Para aqueles, que simplesmente, amam o Coritiba acima de tudo e fazem dele um instrumento de amor, compromisso e cumplicidade. Sem rancor, sem ódio e sem inveja.
Um amor puro e sincero. Como o meu e de Joaquim.
Araci.
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