Confabolando
Crime eleitoral
Por Sérgio Magalhães Garschagen
Ex-líder estudantil nos anos de chumbo da ditadura militar, deputado estadual e federal eleito inúmeras vezes – e, fato raro, ainda classe média!!!! – o ex-prefeito de Cachoeiro de Itapemirim, Roberto Valadão, é tão vascaíno que cultiva portentoso bigode lusitano, daqueles típicos de donos de velhas padarias de subúrbio.
Valadão ainda conversa baixinho, como se conspirasse, hábito adquirido nas reuniões e assembléias estudantis. Não há quem não pare de falar para prestar atenção àquele sussurro de quem sabe o que diz.
Na sua primeira campanha à prefeitura de Cachoeiro, Valadão foi desafiado para montar um time de vascaínos e enfrentar o Flamenguinho, time da colônia italiana de Burarama, distrito conhecido pela famosa pedra da ema e produção da cachaça Floresta, homenagem ao antigo nome do povoado.
O amistoso político foi marcado para o fim de semana seguinte, regado a churrasco farto e boa cerveja que atraísse eleitores de todos os quadrantes. Dito e feito. No dia da partida os barrancos ao lado do campo estavam repletos de torcedores dos dois times.
Valada compreendeu antes da partida iniciar que não devia misturar campanha política com futebol. Não podia ganhar o jogo e desagradar os inúmeros torcedores rubro-negros e tampouco perder, que os colegas vascaínos sequer admitiam debater essa hipótese.
Não há hipótese de amistosos entre flamenguistas e vascaínos, mesmo nos mais recônditos vilarejos do Brasil. As divididas foram aumentando de intensidade até que o juiz, receoso de perder o controle, marcou um pênalti claro favor dos cruzmaltinos.
O receio do candidato Valadão tornou-se realidade e ele foi escalado por unanimidade pelos companheiros para bater a penalidade máxima. Até os cabos eleitorais do candidato oposicionista queriam que ele fizesse o gol que daria vantagem aos vascaínos e, quem sabe?, alguma desvantagem política.
Não teve jeito. A bola foi colocada na marca da cal e fosse o que Deus quisesse. Valadão tomou a distância de praxe, o juiz apitou, ele partiu para a bola e... não contou com a advertência do goleiro adversário:
- Valadão, pense nos 11 votos lá de casa!
Foi uma risadaria geral. Dos massagistas aos jogadores e até o juiz.
A bola chutada pelo desconcentrado batedor passou por cima do travessão sem que o candidato parasse de correr, totalmente sem graça.
Mais estranho ainda foi que a bola sumiu no meio do mato e nunca foi encontrada. A partida foi encerrada com um diplomático 0 x 0 e durante o churrasco sedimentou-se a certeza de que Valadão correra para esconder a bola, prova do crime eleitoral.
A opinião dos colunistas não refletem, necessariamente, a opinião do site.
Cada colunista tem sua liberdade de expressão garantida e assinou um termo de uso desse espaço.
Para que a minha glória a ti cante louvores, e não se cale. Senhor, meu Deus, eu te louvarei para sempre. (Salmos 30:12)