Confabolando
O cidadão entra na igreja, cabisbaixo, já procurando na igreja vazia o melhor lugar para sentar-se. Vai exercitar a fé, coisa rara nos últimos anos. Não levou tão a sério as lições de catequese e os sermões da mãe. Mas agora precisa se apegar a alguma coisa. Sozinho, ocupa tímido a primeira fila da santa casa. Calça jeans larga, camiseta verde e branca, um tênis confortável pelo excesso de uso e na mão um terço Coxa-Branca. Joaquim olha bem para o amuleto que carrega em suas mãos, gira o rosto em direção ao altar mirando os belos vitrais. Então fita os olhos de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro e lembra da última vez em que segurou aquele terço, herança de família.
Foi no dia seis de dezembro de 2009, o Coritiba caiu para a Série B do Campeonato Brasileiro no campo. Uma equipe sem comprometimento e que levou nove gols nos três últimos jogos do campeonato. Mais triste ainda, presenciou cenas que nada condizem com a tradição centenária da torcida Coxa-Branca. Depois, viu seu clube ser vítima de uma "aberração jurídica", como classificou o advogado de defesa Alviverde, perdendo 30 mandos de jogo e uma multa de R$ 610 mil. Por último, viu o preço dos ingressos subir e os materiais de torcida, como os instrumentos musicais, afastados do Couto Pereira. Ouve falar que as dívidas do clube são astronômicas e tendem a aumentar.
Pensa sobre o futuro do Coritiba. Encara a santa e a questiona sobre o que acontecerá com o Coxa dele. Um time com recursos financeiros escassos, fruto da má administração financeira e de futebol dos últimos dois anos, um time que enfrentará sabe se lá quantas partidas fora de casa no campeonato mais importante do ano e quem sabe, até de todos os últimos. Tem dúvidas sobre como será a segunda administração do presidente Jair Cirino a frente do Coritiba 2010, período mais difícil de sua centenária história, o seu pior momento. Imagina como será ouvir o apito do início de uma partida sem tanto colorido no Alto da Glória, sem a batida de uma bateria.
E se os resultados não vierem? Como agirá a torcida? Quem irá defender o clube nos piores momentos? A segurança nos estádio vai diminuir, permanecer a mesma coisa ou até aumentar? Longe de Curitiba, longe da torcida o Coxa conseguirá fazer em 2010 o que faltou em 2009 para permanecer na primeira divisão? Vencer jogos longe da que nunca abandona?
Já decidido que não há possibilidade de deixar o Coritiba de lado, sabe também que terá que cobrar rendimento dentro e fora do gramado. Com a compreensão de que terá que fazer a sua parte, apoiando e cobrando, Joaquim pede que os céus também façam a sua.
Ele então abaixa a cabeça, segura firme o terço com as duas mãos e começa a rezar...
Ps: A foto utilizada neste post foi tirada no trágico dia seis de dezembro de 2009. O objetivo era ilustrar algum material que falasse sobre a salvação do Coritiba, fato que como todos sabemos não ocorreu. Deixo, então, meu tardio abraço ao fiel Coxa-Branca Silvério Silva Filho, que gentilmente permitiu que eu fotografasse sua camisa e seu terço Coxa-Branca.
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Para que a minha glória a ti cante louvores, e não se cale. Senhor, meu Deus, eu te louvarei para sempre. (Salmos 30:12)