Coração Verde e Branco
Quem acompanha meus textos sabe do drama que minha família passou no início deste ano com a passagem de minha irmã, vocês não tem idéia de como foi importante cada mensagem de apoio e consolo recebida, cada oração por minha família, cada pensamento positivo.
Apesar do momento indescritivelmente triste, ela nos deixou dois pedacinhos, dois meninos gêmeos recém nascidos, Eduardo e Leonardo, os quais eu carinhosamente chamo de Tostão e Chicão.
Os apelidos vieram em uma situação pouco típica, minha irmã estava perto dos 8 meses e as crianças ainda não tinham nome, como eu gostaria de chamar eles de algo que não fosse B1 e B2, olhei para ela e disse: “ok, vou chamar de Tostão e Chicão”, ela riu e o apelido, pelo menos para mim ficou.
O que eu não esperava é que em tão pouco tempo teria uma nova surpresa em minha vida, minha esposa anunciou que estava grávida, sim, vem mais um, ou melhor, mais UMA Coxinha para reforçar a família e a imensa Nação Alviverde. Desnecessário dizer que esta gravidez também foi motivo de muita alegria para todos, eu desde o princípio já fiquei ancioso com o dia em que poderia levar ao Couto Pereira, o bebê, que eu ainda não sabia o sexo. Lembro de uma conversa sobre isso com minha esposa, onde eu falava de minha ansiedade, meu desejo de colocar uma camisa de meu time do coração, do clube que amo, em meu filho e levar para o estádio, assim como meu pai fez comigo a muitos anos atrás. Lembro de minha mulher me perguntar: “tudo bem, mas e se for uma menina?” Minha resposta foi a mais simples possível: “Não vejo a hora de colocar a camisa do Coritiba nela, jogar ela nos meus ombros e ir para o estádio”.
Hoje, já com quase seis meses de gravidez fico pensando em como vai ser a vida destes pequenos Coxinhas. Eles realmente serão torcedores? Vão ao menos gostar de futebol?
Imagine amigo leitor a minha situação, a qual com certeza se repete com milhares de Coxas Brancas ao redor do mundo: moro em Santos, quase toda a cidade torce obviamente para times paulistas, e ainda por cima existe o fator Neymar, que por mais feio que seja, encanta o coração das meninas e crianças, somente para ilustrar: tenho aqui em Santos um casal de amigos formados por um Palmeirista e uma Coringuenta (sim, chamamos desta maneira, uma brincadeira entre amigos), o qual possui uma filha de 12 anos. Adivinha amigo leitor o time que a menina foi escolher; sim, o Santos, ou melhor, o Calopsita F.C.
O amigo leitor, assim como os pais da criança, podem dizer: “Ah, mas daqui a pouco ele vai para a Europa e isso vai passar”. Concordo, pode acontecer sim, mas, e se não acontecer? Meu avô era Paranista doente (sem trocadilhos por favor, mas sim, uma raridade), tentou de todas as maneiras para que eu e meus irmão vestíssemos a roupa de palhacinho com ele, mas não teve jeito, já estávamos apaixonados, meu pai já nos tinha levado ao estádio, já havíamos sentado na arquibancada, comido pipoca, nos divertido vendo os quero-queros, escutado a bateria e sentido o Gigante de Concreto Armado tremer.
Minha pergunta para este texto é? O que faremos para atrair e manter os torcedores mirins?
Existe sim um programa Coxa Kids, com carteirinha de sócio, entrada em campo com os jogadores, os famosos mascotinhos, o dia das crianças no estádio, o qual coincide com a festa de aniversário do clube, mas devemos lembrar que criança é extremamente influenciavel, se ela vai para a escola e o amiginho torce para o J. Malluceli e o Jotinha está bem no campeonato, ganhando títulos, com jogadores fazendo comerciais de TV, sendo convocados para a seleção da CBF, etc, a chance deste torcedorzinho pular o muro do CT da Graciosa e ir direto para o vizinho é considerável.
Aqui falamos apenas de futebol paranaense, mas e no meu caso por exemplo, qual é a probabilidade de haver um outro Coxinha na sala da escolinha da minha filha? Por mais que eu leia o “Meu Pequeno Coxa Branca” para a Maria Luiza, todas as noites, do dia do nascimento até ela completar 10 anos, ainda sim existe a chance dela colocar uma faca em meu Coração Verde e Branco, ignorar a tatuagem que tenho nas costas e dizer: “Papai, hoje não vou ver o jogo do Coritiba pela TV contigo porque vou com minha amiginha e a família dela na Vila Belmiro”.
Mas, o que fazer para reverter, ou ao menos, minimizar a chance de tudo o que foi escrito acima ocorrer? Ganhar títulos, mas títulos de expressão, troféus de respeito. Não adianta ficar apenas no Paranaense, aqui em SP ninguém sabe quem ganhou o campeonato regional de outro estado, mas ninguém esquece da Copa do Brasil, Libertadores etc.
Obviamente grandes conquistas não são fáceis, ainda mais quando disputamos contra adversários extremamente melhor remunerados, mas vejo o Coritiba trilhando um caminho correto para ao menos tentar diminuir este impacto. Vejo a diretoria buscando por bons jogadores (se mandarem embora as tranqueiras fica melhor ainda), trabalhando para terminar o terceiro anel, com dinheiro próprio é claro, encabeçando o projeto de retorno da Taça Sul-Minas, TORCEDORES SE ASSOCIANDO etc. Ainda estamos muito longe do que sonhamos, mas estamos caminhando na direção certa, e isso é importante.
Apesar de toda a dificuldade, das influências externas, das pressões, da mídia, minha parte eu farei. Respeitando a individualidade de cada novo torcedorzinho, mas na esperança de muito em breve poder levar os três pequenos Coxas Brancas ao Couto Pereira, devidamente uniformizados é claro. Me salta à retina a imagem daquele pai Coxa Branca que chorava copiosamente pelo rebaixamento do Coritiba, com sua filha, ainda um bebê no colo. Meu coração se enche de orgulho em lembra que esse mesmo pai Coxa Branca, alguns anos depois estava novamente em nossa casa, o Couto Pereira, celebrando com sua filhinha, ainda no colo, nosso retorno à Série A.
Para finalizar, gostaria de deixar os comentários de minha esposa, a primeira a ler este texto, o qual sinceramente, estava um pouco inseguro quanto a publicar:
"A ideia é muito legal, porque fala da necessidade de buscar vitórias mais importantes para manter acesa a chama do coração dos novos coxas. No entanto, acho que vc tá preocupado à toa. Sabe porque o seu vovô não conseguiu te convencer? Porque era no Couto Pereira que vc passava um tempo com o seu pai. Para a Maria Luíza isso também será o mais importante e significativo de tudo. Não esqueça que vc será o ídolo dela e tudo o que ela fará será na tentativa de te agradar, te deixar feliz. Eu faço isso até hoje em relação ao meu pai.
P.S. Não quero te desanimar, mas acabei de ver no jornal que o Neymar virou personagem do Maurício de Souza.
Te amo."
Saudações Sempre Alviverdes.
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