Coração Verde e Branco
Acredito que minha história seja muito parecida ou até igual à de muitos outros torcedores. Como na maioria das famílias do início da década de 80, era o pai quem levava os filhos ao estádio. Naquela época, as mulheres eram muito mais raras de se ver dentro do gigante de concreto armado.
Admiro muito meu pai pela paciência. Eu realmente era um piá muito chato. Na verdade, eu queria apenas que a partida fosse como nos gols do fantástico, um a cada 15 ou 30 segundos, fora isso, eu queria o que todo piá chato da minha idade gosta de fazer: comer pipoca, tomar sorvete, refrigerante e ir para casa, até porque, por medida de segurança e para não ter problemas com minha mãe, meu pai começou me levando em partidas de menor importância, sem muito público.
Bastou uma partida com mais torcida, ou melhor, um atleTIBA, para meu coração parar de bater e começar a fazer CO-XA, CO-XA, CO-XA. Havia conhecido meu primeiro amor.
Os anos foram passando, os títulos vindo, novos jogadores indo e vindo, mas meu pai sempre tinha uma história para contar sobre um grande jogador. Os preferidos eram Kruger e sua batalha contra a morte, Tião Abatiá e a dupla caipira com Paquito, Niltinho e suas diabruras e Zé Roberto com o seu "deixa comigo", ou ainda sobre uma grande partida, como a que nos deu o título de 1968, acho que ouvi essa história mais de 50 vezes. Meu pai gosta de lembrar que assim que o ábitro acabou o jogo ele pulou para dentro do campo. Bons tempos...
Minha irmã nasceu no dia 24 de agosto de 1985, um ano maravilhoso e um mês muito especial. Fomos a muitos jogos naquele ano, muitos deles à noite, como o da vitória contra o Santos com gol no finzinho do Lela. O Coritiba tinha um timaço. Os nomes de Rafael, Índio, Lela e Toby, entre outros, eram uma constante no radinho de casa. Lembro até hoje das comemorações do nosso título brasileiro, o primeiro do estado do Paraná. Parecia ano novo, muito barulho, o Coritiba havia conquistado o Brasil e meu pai agora tinha uma nova história para contar, mas agora para 3 filhos.
No último dia 2 de agosto, nasceu a minha Coxinha Branca favorita. Finalmente a Maria Luíza veio ao mundo. A primeira noite na maternidade foi complicada, ela não queria dormir e em um certo momento me flagrei contando para ela sobre o título de 1999.
Não sei o que minha filha vai pensar de mim no futuro, talvez o piá chato que ia ao estádio com o pai e os irmãos mais novos tenha se tornado um cara chato que ainda vai ao estádio com o pai e o irmão mais novo e venha a se tornar um velho chato que continuará indo ao estádio, se Deus quiser, ainda com o pai e o irmão mais novo, mas também com a filha e os sobrinhos.
Hoje, com 9 dias de vida, a Maria Luíza já ouviu de mim algumas das histórias que meu pai me contou, Já ouviu sobre o título de 1985, sobre a chuva que caiu apenas dentro do Couto Pereira depois da final da Copa do Brasil de 2011, sobre Kruger, que um dia para marcar um gol quase morreu e hoje segue trabalhando no Coritiba, já ouviu a leitura do Meu Pequeno Coxa Branca, e quem sabe no fim deste ano eu possa contar para ela sobre um menino que saiu do Coritiba para se tornar rei na Turquia e voltar para conduzir o Coxa ao seu segundo título nacional.
Eu gosto muito de música pesada, mas cada vez que me pego contando para a Malú as histórias do Coritiba, que vivi ou que ouvi de meu pai, o que me vem a cabeça é Elis Regina cantando:
Não quero lhe falar,
Meu grande amor,
Das coisas que aprendi
Nos discos...
Quero lhe contar como eu vivi
E tudo o que aconteceu comigo
Viver é melhor que sonhar
Eu sei que o amor
É uma coisa boa
Mas também sei
Que qualquer canto
É menor do que a vida
De qualquer pessoa...
Por isso cuidado meu bem
Há perigo na esquina
Eles venceram e o sinal
Está fechado prá nós
Que somos jovens...
Para abraçar seu irmão
E beijar sua menina na rua
É que se fez o seu braço,
O seu lábio e a sua voz...
Você me pergunta
Pela minha paixão
Digo que estou encantada
Como uma nova invenção
Eu vou ficar nesta cidade
Não vou voltar pro sertão
Pois vejo vir vindo no vento
Cheiro de nova estação
Eu sinto tudo na ferida viva
Do meu coração...
Já faz tempo
Eu vi você na rua
Cabelo ao vento
Gente jovem reunida
Na parede da memória
Essa lembrança
É o quadro que dói mais...
Minha dor é perceber
Que apesar de termos
Feito tudo o que fizemos
Ainda somos os mesmos
E vivemos
Ainda somos os mesmos
E vivemos
Como os nossos pais...
Nossos ídolos
Ainda são os mesmos
E as aparências
Não enganam não
Você diz que depois deles
Não apareceu mais ninguém
Você pode até dizer
Que eu tô por fora
Ou então
Que eu tô inventando...
Mas é você
Que ama o passado
E que não vê
É você
Que ama o passado
E que não vê
Que o novo sempre vem...
Hoje eu sei
Que quem me deu a idéia
De uma nova consciência
E juventude
Tá em casa
Guardado por Deus
Contando vil metal...
Minha dor é perceber
Que apesar de termos
Feito tudo, tudo,
Tudo o que fizemos
Nós ainda somos
Os mesmos e vivemos
Ainda somos
Os mesmos e vivemos
Ainda somos
Os mesmos e vivemos
Como os nossos pais...
Feliz dia dos pais seu Zito, obrigado por insistir naquele piá chato.
Feliz dia dos pais, papai Coxa Branca.
Saudações Sempre Alviverdes.
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