
De Torcedor pra Torcedor
Amigos leitores,
É com imensa satisfação e orgulho que escrevo o primeiro post do Blog 'De Torcedor pra Torcedor'. Em verdade, continuarei a expor minhas opiniões da mesma forma que o fazia nas colunas, porém, agora, contando com um espaço ainda mais interativo.
Uma inesperada coincidência, no entanto, deixa-me particularmente feliz. Escrevi 99 colunas aqui no site. Coube ao destino me possibilitar a estreia deste espaço com a minha centésima postagem - justamente no dia que o nosso amado Coritiba Foot Ball Club completa 100 anos de glórias. A alegria é imensa e em dose dupla, portanto.
Inauguro o espaço falando do sentimento que todo torcedor Alviverde está sentindo neste especial momento - o primeiro dia do centenário Coxa-Branca. Estamos em meio de um turbilhão de sentimentos, a emoção não cabe dentro do peito. Confesso que estou extremamente contagiado com tudo que se remeta a este momento único.
As lágrimas correm fáceis e jamais teria vergonha de assumir este sentimento. Ser Coxa-Branca não pode ser explicado com palavras. Inúmeros clubes, sem dúvida, atingirão esta marca, mas nenhuma torcida sentirá algo nem próximo do que cada um de nós está experimentando.
Enganam-se aqueles que imaginam sermos menos vitoriosos porque não conquistamos nenhum título neste ano, especialmente os rivais que fizeram de tudo nos bastidores para inventar uma fórmula esdrúxula de campeonato estadual - onde não haveria a possibilidade da disputa de uma final. Sabiam eles que, invariavelmente, faríamos a festa centenária no meio salão de festas. A eles digo: engulam o troféu de campeão paranaense 2009, pois no mano a mano, caíram de quatro diante da nossa grandeza!
Não será também a derrota para o inexpressivo Barueri que me fará perder a vontade de comemorar. Aliás, quem é Barueri na ordem do dia? O momento é de celebrar a condição do ser Coxa-Branca - isso ninguém poderá nos tirar.
Descrever o orgulho de ser um torcedor coritibano é algo que as palavras não têm a capacidade de fazer, assim, convido você, caro amigo torcedor Alviverde, a fazer uma viagem no tempo.
Pense numa máquina que possa nos transportar aos mais marcantes acontecimentos desta história centenária. Eu já embarquei, e você está preparado?!
12 de outubro de 1909
Desembarcamos no Clube Ginástico Turverein, que mais tarde passou a se chamar Teuto Brasileiro. Na sala estão alguns homens visionários, entre eles Frederico Essenfelder (conhecido como Fritz). Embaixo de seu braço, um objeto de forma esférica - até então desconhecido pelas bandas paranaenses. Ao seu lado, estavam João Viana Seiler, Leopoldo Obladen, Carlos Schelenker, Arthur Iwersen, Arthur Hauer, Walter Dietrich, Roberto Isckch, Rodolpho Kastrup e tantos outros. Fora proposto a composição de um time para viajar à Ponta Grossa para um jogo contra o time local, formado por ingleses e funcionários da American South Brazilian Engineering Co - o Club de Foot Ball Tiro Pontagrossense.
A experiência injetou ainda mais ânimo naqueles homens visionários, assim, nas dependências do Theatro Hauer, no dia 30 de janeiro de 1910, fora fundado o Coritybano Foot Ball Club. Formalizava-se a fundação do clube mais tradicional do futebol paranaense e seu primeiro presidente, João Viana Seiler, fez questão de registrar na ata da reunião o dia 12 de outubro de 1909 como aquele que deu origem à, hoje, centenária história coritibana.
Dali, do cantinho, sem atrapalhar os trabalhos de fundação do Coritybano Foot Ball Club, pudemos presenciar a data histórica, mais do que isso, pudemos ver nos olhos daqueles baluartes todo o orgulho de criar o único clube de futebol curitibano que, até hoje, possui uma ata de fundação e não um acordo de fusões.
Voltamos à máquina do tempo para vivenciar, em escalas, alguns momentos da gloriosa história do Coritiba.
24 de dezembro de 1916
No Estádio do Prado, onde hoje está sediada a Pontifícia Universidade Católica do Paraná, diante do time do Savóia, Maxambomba marca o único gol da partida e leva o Coritiba para o ponto mais alto do pódium - o que se repetiria inúmeras vezes. Muita festa em Curitiba - a primeira de muitas taças que adornam o Memorial Alviverde.
Como foi bacana presenciar este gol, afinal, presenciar o primeiro título Coxa-Branca foi uma emoção sem tamanho.
08 de junho de 1924
Diante do calouro Clube Atlético Paranaense, no Estádio do Parque Graciosa, o Coritiba mostrou àquele que anos mais tarde passou a ser o seu mais tradicional rival, quem é que manda na Terra das Araucárias: 6x3, fora o baile. Foi impagável ver a cara dos atleticanos ao final da partida. Iludidos com a pretensão de fazer frente ao grande Coritiba, levaram a primeira das mais de 129 surras da história da dupla atleTIBA.
Dando uma considerável acelerada nos comandos da máquina do tempo, vamos sentir o clima do primeiro título nacional do Cori.
21 de março de 1973
Diante dos baianos, em pleno Estádio da Fonte Nova, absurdamente prejudicado pela arbitragem, em desvantagem no placar, o extraordinário time daquele ano estava prestes a ver a festa dos locais. O rumo da história foi mudado graças ao gol de Hélio Pires que, a poucos minutos do final da partida, calou os baianos e garantiu o primeiro título nacional para o Coritiba. Que festa, o clube do Alto da Glória, definitivamente, rompia as fronteiras do Paraná e se mostrava um gigante do futebol brasileiro.
08 de agosto de 1973
Em Bandeirantes, o Coritiba buscava um título muito aguardado, afinal, jamais fora tricampeão do Paraná, mesmo que tal feito tenha batido a sua porta algumas vezes. Coube ao cracaço Zé Roberto marcar o gol do título e quebrar a sina do quase. A torcida Coxa-Branca foi à loucura! Confesso que nunca tinha visto uma comemoração assim! Valeu, Zé Roberto, pela oportunidade de ver o seu golaço e a tão almejada taça vir parar em nossas fileiras.
23 de março de 1977
O empate em 0x0 contra o Colorado concedeu ao Cori a honra de ser o primeiro e único hexacampeão paranaense de futebol. Se foi difícil conquistar o primeiro tricampeonato, toda a luta foi recompensada em dose dupla. Confesso que se a máquina do tempo parasse de funcionar e nos deixasse na década de 70 eu não me importaria. Ô clube que nasceu para ser campeão!
31 de julho de 1985
A glória máxima, enfim, chegou. Contra um Maracanã lotado, contra um público totalmente adverso às cores verde e branca, lá se foi o Cori para ser campeão brasileiro. Que jogaço, que emoção. Ficar ao lado de 7000 Guerreiros Alviverdes, compartilhando a angústia e a explosão de felicidade ao final da partida é algo indescritível. Dali mesmo, nas arquibancadas do Maracanã eu pude gritar bem alto: EU SOU CAMPEÃO DO BRASIL, engulam atleticanos!!
27 de agosto de 1989
Estádio Couto Pereira lotado. Em campo, um dos maiores times montados nestes 100 anos de história. Sob a batuta do maestro Tostão, vencemos o time do União Bandeirantes e erguemos a taça do título dos oitenta anos. Que festa! Se houvesse um time que deveria ter sido campeão naquele ano, esse time era o Coritiba.
Com uma canetada do presidente da CBF, o Coritiba fora jogado na segunda divisão do futebol paranaense, de onde saiu somente no dia...
13 de dezembro de 1995
Com os 3x0 em cima dos fregueses atleticanos, o Coritiba de Pachequinho & Cia deu um verdadeiro passeio no rival e voltou para o seu lugar de direito, para desgosto de Ricardo Teixeira e seu bando. Que alegria, o fim daquele intragável tormento finalmente chegou.
10 de julho de 1999
Após um irritante jejum de nove anos, invariavelmente perdendo para o time das fusões, no gramado do Estádio do Pinheirão, após sair perdendo por 2x0 e vendo mais uma vez a mini torcida colorida fazer a festa, o artilheiro Cleber Arado solta a bomba numa cobrança de falta, descontando o placar. No final da partida, quando tudo parecia perdido, o meia Darci saiu do banco de reservas para estufar as redes do goleiro Régis e dar ao Coritiba o gosto da vitória mais uma vez. Fim do jejum, fim do sofrimento, fim da triste sina que já se instalava em perder para um clube sem torcida.
18 de abril de 2004
Em pleno meio salão de festas chamado 'Arena da Baixada', a torcida do Coritiba, mesmo em menor número, fez o estádio se calar. Com um time extremamente competitivo e contando com um grande artilheiro em campo, o Coritiba, mesmo sendo absurdamente prejudicado pela arbitragem, empatou uma partida altamente tensa e rumou ao Alto da Glória em cima do caminhão do Corpo de Bombeiros, com a taça das mãos do atacante Aristizabal.
04 de dezembro de 2005
O dia da maior tristeza. Estádio Couto Pereira lotado. Gol de Alcimar contra o Internacional de Porto Alegre. Não foi suficiente. Em Minas Gerais, o Cruzeiro de Zezé Perrela entregava o jogo para o São Caetano e o Coritiba acabou rebaixado para a segunda divisão. Muito choro, uma tristeza sem fim. Entretanto, a maior prova de amor de uma torcida se fez presente no estádio, de onde ecoavam os cantos de "Sou Coxa-Branca, com muito orgulho, com muito amor"!
24 de novembro de 2007
Enfim, voltamos! O pesadelo da segunda divisão ficou no passado, e, como não poderia ser diferente, a conquista do Verdão se deu no último minuto do último jogo - contra o Santa Cruz, em Recife. A 'Batalha do Arruda' ficará para sempre marcada na lembrança da torcida Coxa-Branca, pois exemplifica o espírito guerreiro do time do Alto da Glória. Com dois homens a menos em campo, com 2x1 adversos até quase o final do jogo, Keirrison e Henrique Dias viraram o placar para o Cori. 3x2 e muita, muita festa em Curitiba.
04 de maio de 2008
Com outro gol decisivo de Henrique Dias, o Cori, novamente em pleno meio salão de festas, cala a baixada e, mesmo perdendo a partida, por 2x1, fica com a taça. Na soma dos dois jogos decisivos, 3x2 para o Coxa e muita festa na casa dos rivais. Era o trigésimo terceiro título estadual do time mais vezes campeão no Paraná.
Antes de desligar a máquina do tempo, gostaria de voltar mais uma vez ao Theatro Hauer, em 30 de janeiro de 1910, para convidar o ilustre Frederico Essenfelder e seus amigos para uma viagem ao presente. Se topassem, gostaria de posicioná-los no melhor local do Estádio Couto Pereira para que pudessem ver o legado que aqui deixaram.
Como seria emocionante ver em seus rostos a alegria em ver a grandiosidade do estádio, a quantidade de troféus no Memorial Alviverde, mas acima de tudo, uma das edições do Green Hell. Não tenho dúvida que essa viagem no tempo, seja a de regressão ou a de projeção, terminaria com todos em lágrimas, orgulhosos destes cem anos de luta e glória.
Antes de encerrar, deixo registrada a minha homenagem aos dois maiores homens da história centenária do Coritiba. 'Eleger' tais personagens foi uma tarefa árdua, afinal, todos os homens que idealizaram a criação desta instituição, outros tantos que os sucederam mereceriam, de igual forma, esta menção.
Em nome destes tantos outros, é que lembro de Evangelino da Costa Neves e Dirceu Krüger.
O primeiro, 'simplesmente' foi o responsável pelas maiores glórias do Coritiba Foot Ball Club. Um dirigente ímpar, um cidadão honrado, mais que isso, um verdadeiro campeão! De onde quer que esteja, 'Eterno Presidente', saiba que a Nação Coxa-Branca fará, em silêncio, uma prece neste dia 12 de outubro de 2009 em agradecimento por todas as alegrias que nos proporcionou.
À família Neves, o meu muito obrigado!
Dirceu Krüger, por sua vez, é a personificação do ídolo. Dos cem anos do Coritiba, o 'Flecha Loira' viveu quarenta e três deles. Muito mais que uma marca temporal, é um raro caso de dedicação profissional e um 'caso de amor' com o clube do Alto da Glória.
Krüger é especial. Como atleta - um dos maiores jogadores que vestiram a centenária camisa Alviverde. Como funcionário do clube - um homem que respira e transpira as coisas do Coritiba.
Agradeço publicamente tudo o que fez e o que faz pelo Coxa, Krüger, afinal, tivemos inúmeros jogadores que, literalmente, deram o sangue pelo time em campo.
Você foi além, quase deixou sua vida no gramado do estádio Couto Pereira!
Pela obra divina, sua vida foi poupada para ser destinada ao clube nestes longos quarenta e três anos. Não foi o choque com o goleiro Leopoldo que nos privou de sua grandiosa obra.
Vida longa a este símbolo de amor e dedicação ao centenário aniversariante.
União, trabalho e muitos sócios = Coritiba forte e vencedor!
Saudações Alviverdes,
Percy Goralewski
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Para que a minha glória a ti cante louvores, e não se cale. Senhor, meu Deus, eu te louvarei para sempre. (Salmos 30:12)