
De Torcedor pra Torcedor
Ou 360 minutos de 'futebol' ao custo aproximado de R$780.000.000,00.
Este é o legado que a Copa do Mundo 2014 deixará para a cidade de Curitiba.
Deste recurso PÚBLICO, cerca de 180 milhões serão investidos em estádio PARTICULAR, sem que nenhuma entidade legalmente responsável pelo zelo ao erário tomasse qualquer atitude para evitar o seu vilipêndio.
As autoridades políticas ligadas ao executivo e legislativo paranaense, enfim, atingiram o seu objetivo - que em nenhum momento previa a recepção de grandes jogos no Estado como fim precípuo.
O discurso pró-Copa em Curitiba, desde o início, fundamentava-se no desenvolvimento da cidade com a construção do metrô, com o incremento turístico, com as mais diversas obras de infraestrutura, com a criação de empregos, enfim.
Repetiram este mantra à exaustão para entorpecer a grande massa, quando na verdade, encamparam uma verdadeira frente de batalha para facilitar, mesmo contra a lei, a injeção de recursos públicos no estádio do clube que lhes convém.
Afirmavam que 'o estádio escolhido era aquele que menos recursos (omitiam o complemento 'públicos') necessitaria para a sua conclusão', comparando à verdadeira farra do boi com o dinheiro do contribuinte que está acontecendo em outros centros do país - como se um 'investimento público' de 'pequena monta' se justificasse ou ganhasse legitimidade, se comparado às ilegalidades que estão sendo cometidas Brasil afora.
E eis que os mantras repetidamente recitados doutrinou boa parte da sociedade paranaense, ao ponto de situações em que os torcedores do clube beneficiado com este sistema sórdido, cegos e anestesiados com a iminente possibilidade de acesso aos cofres públicos, assim se manifestassem: "É isso aí, paguem seu IPTU em dia, porque é com este dinheiro que terminaremos a arena, trouxas"!
Pior, o ex-presidente do clube beneficiado e futuro candidato ao cargo na próxima eleição, chegou a afirmar numa rede social, que nós, os Coritibanos, também deveríamos 'fazer a nossa revolução, ir atrás', como se a prática espúria de obter para si vantagens que a lei impede fosse algo a ser 'conquistado', tal qual fizeram.
Aos incautos, uma dica: se algum dia precisarem de uma ambulância ou de uma viatura policial e não forem atendidos a tempo, talvez por não haver combustível nos tanques destes veículos, não voltem repentinamente a agir ou pensar como cidadãos, exigindo do Poder Público aquilo que vocês mesmos consumiram de forma deturpada! Aguentem firmes os seus infortúnios!
Muito antes do que qualquer conceito de rivalidade existente entre aqueles que se beneficiarão do Estado e aqueles que assistem petrificados à sucessão de ilegalidades, é preciso que as coisas sejam separadas.
As obras que eventualmente sejam feitas na cidade (com aplicação de dinheiro público) sem dúvida favorecerão toda a comunidade. No entanto, passados os 4 jogos previstos, o investimento de recursos públicos no estádio escolhido favorecerá única e exclusivamente o clube detentor deste patrimônio, seus sócios e torcedores - o que me causa maior estranheza é não ter ouvido, lido ou assistido qualquer menção a esta tão evidente conclusão.
É justamente esta segunda constatação óbvia que as autoridades ligadas ao projeto 'Copa em Curitiba' procuram empurrar para debaixo do tapete, como se ela por si só não fosse imoral, desigual e ilegal.
Não há dúvida que neste jogo de xadrez os mentores deste assalto aos cofres públicos souberam deslocar as suas peças.
Acaso a conclusão escolhido para sediar estes 360 minutos de futebol não fosse o objetivo principal que tanto buscavam nessa odisseia política, por que as personalidades envolvidas não bateram o pé ao tomar conhecimento do 'prestígio' que nossa cidade recebeu dos cartolas ligados à CBF e FIFA?
O discurso comedido e conformista que se pode ver aqui já responde esta pergunta.
Por essas e outras que admiro, muito mais que o dirigente, o caráter de Vilson Ribeiro de Andrade, quando disse:
'O Coritiba não é gigolô do Poder Público'!
Há conceitos e princípios (atualmente em desuso) que o dinheiro, a política e a desfaçatez não podem comprar - pena que tanta gente faz questão de não encarar de frente esta realidade imutável - pão e circo, como diriam os romanos!
União, trabalho e muitos sócios = Coritiba forte e vencedor!
Saudações Alviverdes,
Percy Goralewski
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