
De Torcedor pra Torcedor
Há cerca de 20 dias abordei o tema relacionado à margem de tolerância que penso estar contemplada no planejamento do clube, mormente ao que se refere ao seu carro-chefe, o futebol. Naquele momento o Coritiba se preparava para enfrentar o Náutico, logo após ter alcançado um empate diante do Bahia - ambas partidas disputadas longe do Alto da Glória.
Da vitória alcançada contra o time pernambucano pelo placar de 3x4, seguiram-se os dois confrontos contra o Grêmio (vitória pelo brasileirão e derrota pela Sulamericana) e outros três completos insucessos contra Fluminense, Atlético-MG e Corinthians, enfim, dos 12 pontos disputados na Série A, somamos míseros 3.
Diante de tão pífio aproveitamento, continuando a imaginar que há esta tal margem de tolerância no planejamento Alviverde, coloquei-me a esperar de forma ansiosa por algum tipo de manifestação dos dirigentes Coritibanos como desdobramento da mais recente derrota no antes temido estádio Couto Pereira.
O "Day After" se passou e nenhum fato novo, nenhuma explicação, nenhuma tábua da salvação foi avistada no mar de angústia e desespero que já circunda a torcida Coxa-Branca - cansada de ver um mesmo enredo trágico se repetir.
Se por um lado este ameaçador panorama requer equilíbrio na tomada de decisões, por outro carece de atitudes imediatas por parte dos mandatários Coxas-Brancas. Já aprendemos que a tomada de decisões não pode ser procrastinada para a próxima rodada. Ela precisa simplesmente ser tomada - é uma medida de urgência.
Sendo assim, torcedores, jogadores e Comissão Técnica, Superintendente de futebol e presidente, "cada um do seu quadrado" precisam desempenhar suas funções nesta grande engrenagem para juntos evitar o inconcebível rebaixamento.
Os torcedores
Tomados pela sensação de reprise dos mais aterrorizantes momentos da história centenária desta instituição, estamos entrando naquela situação do "não sei mais pra onde correr", aguardando que atletas, treinador e dirigentes reconduzam o time para uma posição honrosa na tabela de classificação.
Apoio nunca faltou, mesmo nos piores momentos. Contudo, estamos cansados de ajudar o clube da forma que nos cabe e ver que o planejamento de 2012 (se é mesmo que ele existe dentro de campo) tem se notabilizado por uma sucessão de equívocos e uma quase total ausência de atitudes - isso é realmente desanimador.
Particularmente não concordo com alguns amigos que entendem que ao sair do quadro associativo estarão demonstrando sua insatisfação como sinal de protesto. Respeito esta tomada de decisão, mas vejo que em última análise será sempre o clube o maior prejudicado. Querem dar uma lição aos dirigentes, mas prejudicam tão somente a própria instituição. Penso que há outras formas de protesto (pacíficos sempre, registre-se).
Aliás, na manhã seguinte à perda da Copa do Brasil, numa das conversas por e-mail que compartilhei com alguns amigos, permito-me transcrever o que o Coritibano Wagner Maurício Gonçalves manifestou com propriedade quanto ao tema, trazendo argumentos aos amigos que resolveram deixar de contribuir financeiramente com o clube:
"Meus queridos.
Hoje tive uma manhã recompensadora, tendo em vista tudo o que se passou ontem.
Ao chegar, o Superintendente fez questão de vir me dar bom dia. Claro que era pra tirar "uma casquinha".
Mas tive duas boas percepções:
A primeira é que, como em todos os lugares que passei, eu quase perco o nome e assumo o pseudônimo "COXA". Assim sou o correspondente mais respeitado da nossa nação também aqui no meu departamento da (nome da empresa suprimido pelo Blog).
A segunda foi ouvir do meu SUPERINTENDENTE (cargo maior do órgão da Companhia, onde estou lotado): "...é assim mesmo Coxa. Espero que vocês cheguem de novo na final, pois assim, ao menos uma vez no ano, tenho um time de verdade pra torcer e capaz de ganhar de vocês, pois o meu (que vcs já devem imaginar qual é) tá na m*." Ouvir tamanha expressão de desânimo de um senhor de seus 50 anos, e desses quase 30 dedicados à (nome da empresa suprimido pelo Blog), maior empresa do Estado, com o cargo que ocupa, que assim como nós, já viajou pra ver o seu time numa final de campeonato, tamanha a convicção que tem pela sua escolha, foi simplesmente um bálsamo para o meu dolorido coração alviverde.
Confesso que estou sim decepcionado com o que vi. Também tive vontade de ir embora já no intervalo. Me enchi de esperança com o gol do Airton, mas sofri tanto quanto a equipe o "golpe de misericórdia" e fui embora antes do jogo acabar, pois já tinha gente se estranhando ali atrás de mim e achei que ia "sobrar".
Mas não pretendo deixar de ir ao estádio, bem como vou continuar a pagar meu plano de sócios. Acredito que não
estamos financiando nenhuma farsa. Apenas estamos limpando a m* de administrações catastróficas (e, cá entre nós, haja m*).
Em 2006 minha vida pessoal tornou-se um inferno e fiz dívidas que imaginei serem impagáveis.
Hoje, 6 anos depois olho pra tudo o que passei e vejo que nem era tão difícil assim. Agora imaginem um clube com dívidas milionárias? Se o Zezinho levou 5 anos pra por a vida em dia, é natural que o Coritiba leve bem mais tempo, reservadas as proporções entre dívida e faturamento.
Gosto tanto do jogo quanto de encontrar com os senhores para jogar conversa fora e "biritar". Mas nenhuma béra é tão boa quanto a da porta do estádio. E isso, em lugar nenhum do mundo vcs vão encontrar a não ser ali.
Não quero mudar idéia de ninguém nem dissuadi-los de suas decisões. Mas creio que vale ponderar".
Como disse, respeito e até entendo a decisão daqueles que buscam demonstrar seu descontentamento com o ano que o clube vem tendo, por intermédio do inadimplemento e/ou cancelamento dos planos de associados, contudo, creio que além das palmas e gritos de incentivo (e também de cobrança), a contribuição mensal de cada um é que continuará possibilitando o clube respirar.
Deixo um apelo pelo bem da instituição: não façamos a debandada do quadro associativo - não será o presidente, o treinador ou os jogadores que sangrarão, mas a própria instituição que há décadas se vê submersa num grande mar de dívidas. Sigamos firmes, contribuindo, mas também cobrando das arquibancadas.
Jogadores e Comissão Técnica
Chega a ser complicado cobrar alguma coisa além do total comprometimento dos atletas para com a camisa Coritibana. Não se tem como transformar um jogador com escassos recursos técnicos num eficiente profissional. No entanto, fica o recado: joguem com o máximo de concentração, esforço e dedicação que seus contratos de trabalho direta e indiretamente preveem. Muitas vezes um time sem muita qualidade técnica torna-se difícil de ser batido por causa da voluntariedade, da volúpia e da raça em campo. O que o torcedor Coritibano quer ver daqui por diante é uma total entrega à missão de manter o clube na elite do futebol brasileiro - é o mínimo que podemos esperar para este penoso segundo semestre.
De lado oposto, o treinador pode e deve ser cobrado a fim de que busque as soluções que dispõe no elenco. Este, se não dotado de tanta qualidade quanto gostaria, oferece matéria prima para que novas estratégias e novas formações sejam escaladas. O papel principal do treinador é buscar ajustar seus atletas num sistema de jogo que possibilite aos jogadores atingir o seu melhor desempenho individual. Posição por posição, que joguem os atletas mais preparados para o momento, sem importar se é prata-da-casa ou gerenciados pelo empresário A ou B.
Além da leitura que deve ser feita de seu elenco, precisa de criatividade, de convicção, de arrojo.
Vejo que estes ingredientes passam longe de Marcelo Oliveira, infelizmente. Não vejo a menor criatividade na tentativa de mudar seu esquema de jogo, variar uma formação, alterar o panorama do jogo. Salvo um raro momento de encaixe do time - semifinais da Copa do Brasil e o jogo contra o Santos no litoral paulista - a maior parte do tempo em que cumpre sua função no Alto da Glória ficou marcada pela variação entre dois sistemas de jogo tão somente (em 2011 um 4-3-2-1 e em 2012 um 4-4-2). Não lembro de se tentar um 3-5-2, de buscar extrair de cada jogador aquilo que efetivamente possa desempenhar, de dar continuidade aos atletas da base, tanto quanto a confere aos jogadores de qualidade técnica absolutamente questionável como Jonas (já negociado, por bem), Junior Urso e Roberto, por exemplo.
Pra piorar, arrojo é uma palavra cada vez mais rara nas escalações que vemos, agora também dentro de casa. Jogar com três e até mesmo quatro volantes do meio campo é um acinte do tamanho do mundo. Além de inconcebível, não se justifica pelo motivo que se propõe, haja vista o Coritiba ter a pior defesa do campeonato.
Evidentemente que Marcelo Oliveira não é o único culpado pelo estado técnico deplorável da equipe Alviverde, mas é um sério responsável pela inexistência de alternativas. Se permanecerá ou não no comando técnico eu não sei, mas sinto que lhe falta esta convicção de fazer algo diferente, de buscar surpreender o adversário sendo menos conservador em suas escalações e discursos.
Como exemplo do que acho que lhe falte utilizo-me do exemplo vivido pela seleção brasileira masculina de vôlei nos jogos olímpicos que ora se encerraram. Perdendo por dois sets a zero, o treinador russo - numa alteração tática nunca vista (mas certamente muito bem treinada), surpreendeu nada mais, nada menos que o consagrado Bernardinho, deixando-o, tanto quanto a equipe dentro de quadra, absolutamente desnorteado quanto ao novo posicionamento do time europeu. Resultado: três sets a dois, de virada e medalha de ouro no peito.
Ambição, criatividade, convicção, arrojo - é disso que o Coritiba precisa vindo de seu treinador. Para pensar.
Superintendente de futebol
Na nova filosofia de gestão implantada no clube, vê-se que o cargo de superintendente de futebol, ao lado daquele ocupado pelo treinador, é aquele que mais ônus carrega. Justamente por isso que é ocupado por um profissional da área, de forma remunerada.
Inegável que a montagem do elenco em 2011 com alguns atletas trazidos por um dos grandes parceiros do clube deu certo. Vanderlei, Emerson, Rafinha, Davi, Léo Gago e Leonardo - todos ligados à LA Sports são exemplos de atletas que vieram, fizeram sucesso e se encaixaram num time que surpreendeu na temporada. Mesmo com alguns remanescentes ainda no elenco, novos atletas do mesmo parceiro desembarcaram no Alto da Glória, sendo agora impossível negar que não deram certo, muito em função da comprovada qualidade técnica diminuta.
Futebol é resultado, não adianta querer provar o contrário. É nítido que, da forma como estão posicionados, Lucas Mendes, Robinho, Junior Urso, Chico, Everton Costa, Roberto, entre outros não convencem nem o mais otimista torcedor.
Traçado o diagnóstico, é preciso que soluções sejam encontradas por este profissional. Não é tarefa fácil, sem dúvida, seja pelo aspecto técnico dos atletas disponíveis no mercado, mas principalmente pela ausência de recursos para investir. Não é momento de lamentações e desculpas. É hora de utilizar-se de seu bom relacionamento junto ao "mundo da bola" e das informações que possui acerca das peças que possam vir ajustar a máquina Coxa-Branca.
Não há mais tempo para aguardar uma reação espontânea da equipe, especialmente comandada pelo atual treinador. Temos duas hipóteses: ou se mantém o comando técnico e contrata REFORÇOS ou mantém o atual elenco (na hipótese de insistirem no argumento da falta de dinheiro) e altera o comando técnico. Um dos dois caminhos precisa ser trilhado para fugir da mesmice que assola o time Alviverde.
O presidente
Acredito que tudo o que poderia ser escrito ou falado quanto à gratidão que a coletividade Coxa-Branca dispensa ao presidente Vilson Ribeiro de Andrade, por sua coragem de assumir o clube no pior momento de sua história, já foi registrado. Essa parte da história recente do clube não mais mudará - ela já está eternizada.
Contudo, pelo dinamismo que o futebol exerce, cada novo dia contempla novos desafios, especialmente para um clube que foi administrado de forma amadora por tantas décadas.
Já expus publicamente e reitero meus votos de apoio ao presidente Alviverde, justamente por isso sinto-me à vontade para neste momento pedir para que não adie a tomada de decisões que se mostram mais do que improrrogáveis.
É discurso recorrente que o clube tem o seu planejamento e que as dívidas são enormes - obstáculos que impedem novas contratações, contudo, o quadro só tende a ficar infinitamente pior se um novo descenso ocorrer em dezembro.
A torcida quer ajudar, presidente, não tenha dúvida disso. Mas o que tem levado muita gente a desistir é a falta de informações, de não saber o que será feito para evitar o inferno da segunda divisão novamente.
Se é assim, que tal uma "conversa franca" com a torcida, oportunidade na qual sejam expostos, ponto a ponto, os problemas, as possíveis soluções e o que é necessário fazer para que as mesmas sejam implementadas?
Seja como for, o que a torcida quer e espera é que fatos novos aconteçam no Alto da Glória.
A hora é agora!
União, trabalho e muitos sócios = Coritiba forte e vencedor!
Saudações Alviverdes,
Percy Goralewski
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