
De Torcedor pra Torcedor
Estivemos hoje no aeroporto Afonso Pena para recepcionar a delegação Coxa-Branca, após a primeira partida da final da Copa do Brasil.
Com a carga de adrenalina reduzida a índices normais, com o raciocínio tomando lugar da emoção, é possível fazer uma análise do que houve, sobretudo, do que ainda temos por cumprir rumo ao tão sonhado título.
Aceitando a premissa de que estádio/torcida não ganha jogo e sim os atletas que entram em campo, precisamos, desde já, encontrar formas de revogá-la.
Não tenho dúvida que os jogadores Alviverdes entrarão com "sangue nos olhos" nesta partida decisiva - é tudo ou nada.
O caminho até aqui foi longo e árduo. Jogaremos na nossa casa, buscando impor o melhor futebol que ontem mesmo já ficou provado no silente Estádio de São Januário.
No contato rápido com os atletas no saguão do aeroporto, pude notar o inconformismo que toma conta de todos quanto ao resultado colhido em território rival. Ficou para a história: Vasco 1x0 Coritiba, sem que seja relevante que o gol tenha sido um achado, sim senhor, nem tampouco que o próprio Coritiba tenha comandado por mais tempo as ações da partida.
Importa agora iniciarmos uma mobilização jamais vista no futebol brasileiro que resulte na busca de um único objetivo: a conquista da Copa do Brasil.
Pouco me importa se há divisões de opinião entre os torcedores, divisões estas motivadas por ideologia, política, interesse ou seja lá o que for. Agora é hora de todo e qualquer torcedor do Coritiba se perguntar o que pode fazer nos 90 minutos mais importantes do nosso último quarto de centenário.
O Vasco da Gama nunca costumou receber seus adversários em sua casa de forma cortês, especialmente nas horas decisivas. O futebol paranaense tem um longo histórico de experiências que comprovam esta tese, o Coritiba, então, já sentiu na pele em 2003 o quanto os vascaínos pensam que vão sempre triunfar, seja na "boa" ou na "marra".
Ontem não foi muito diferente, afinal, o ônibus que levava os jogadores Alviverdes até São Januário fora atingido por pedras atiradas pelos vândalos que por lá também habitam.
Pois bem, chegou a hora de provarem do mesmo veneno, só que aqui, meus caros, não será com pedradas, com dirigentes adentrando ao gramado e apitando o final do jogo, não será hostilizando a torcida adversária, não será com violência.
Civilidade é a primeira palavra de ordem. A segunda é entrega. Entrega que precisará ser implementada simultaneamente em dois flancos: pelos atletas dentro de campo e pelos mais de 35.000 torcedores presentes nas arquibancadas do Estádio Couto Pereira.
O time da colina abriu vantagem, é um time experiente, matreiro, perigoso, mas sua própria torcida implorava aos céus para que o árbitro apitasse o final do jogo e com ele a confirmação do resultado.
Pela primeira vez o Vasco entra em campo com vantagem para o segundo confronto decisivo da série. De igual sorte, esta será a primeira oportunidade ao longo de toda a competição que o Coritiba jogará em sua casa tendo a obrigatoriedade de reverter o prejuízo, mesmo que mínimo.
E é aí que a torcida Coxa-Branca terá um papel primordial para decidir essa parada a favor do time do Alto da Glória.
Faço uma ressalva e trago a lembrança da semifinal da Copa do Brasil de 2009. Coritiba e Internacional jogavam para garantir uma das vagas à decisão. Primeiro jogo no Beira-Rio, gol de Marcos Aurélio para o Verdão. Em cinco minutos de "apagão", o time verde e branco tomou três gols e praticamente selou sua sorte na competição. Notem a força da escalação do time colorado: Lauro; Bolívar, Índio, Álvaro e Kléber; Sandro, Magrão, Andrezinho (Marcelo Cordeiro) e D´Alessandro (Glaydson); Taison e Nilmar (Alecsandro).
No jogo da volta, a torcida Coxa-Branca promoveu um espetáculo no Estádio Couto Pereira, apoiou o time Alviverde de forma sensacional, abrimos o placar, mas nos faltou um pouco mais de força para buscarmos o segundo e tão almejado gol.
Eis que novamente o atacante Alecsandro nos impõe a obrigatoriedade de virar a vantagem pelo avesso. Lá em Porto Alegre em 2009, seu gol veio acompanhado por outros dois - um de Taison e outro de Andrezinho. Agora, ele veio de forma solitária, então, a equação é simples: menor diferença de gols a ser alcançada necessitará do triplo de mobilização feita em 2009, na tentativa de não deixarmos a conquista escapar novamente por entre os dedos.
Convenhamos, alguém em sã consciência imaginaria que passaríamos a Copa do Brasil inteira não precisando reverter um resultado (mínimo) negativo em casa para seguir adiante (nesse caso conquistar a taça)? As coisas para o Coritiba sempre foram conquistadas na base de muito trabalho, suor e sacrifício, não seria diferente agora na hora mais decisiva.
Em entrevista concedida à Rádio Transamérica de Curitiba na manhã da última quarta-feira, o treinador Felipão disse que o Vasco da Gama precisaria abrir uma vantagem elástica em São Januário, pois quando viesse jogar aqui em Curitiba a pressão seria muito grande.
Disse, ainda, que nunca tinha sentido tanto a pressão de uma torcida como naquela noite que o time que comanda - o Palmeiras -, voltou para casa com seis gols na bagagem por esta mesma edição da Copa do Brasil.
Será que desaprendemos a jogar? Será que somos incapazes de encher de brios os nossos atletas para que joguem a partida de suas vidas, mesmo com dor, mesmo com problemas musculares, mesmo que precisem suar sangue?
É evidente que cada jogo é uma história diferente e que será absolutamente improvável que nova e tão expressiva goleada aconteça, mas a lição que deve ficar é que a nossa torcida faz, sim, toda a diferença.
Não podemos esmorecer um segundo sequer.
Ao apito inicial do árbitro, os cânticos não podem cessar nem por um segundo. É preciso que façamos algo como em 2004 em plena Arena da Baixada, quando vencemos no cansaço os gritos que vinham do outro lado e cantamos como se as forças viessem da alma!
Agora imaginem o Estádio Couto Pereira inteiro pulsando sem parar com o mesmo grito de Cooooooooooooxaaaaaa!
Quando sair o primeiro gol do Coritiba ou se na hipótese do adversário marcar primeiro, os gritos precisam se quintuplicar.
Saindo na frente do marcador, os jogadores terão ainda mais tranquilidade para buscar o segundo gol, com calma, com inteligência, com total entrega - sabedores que lá estaremos para carregá-los com nossas palmas e canções de apoio irrestrito.
O time Coxa-Branca já fez muito por todos nós nesta temporada. Neste momento de certa queda de rendimento - algo natural em qualquer equipe do mundo - é a hora de retribuirmos, amparando aqueles que vestem nossa camisa rumo a um único objetivo: alcançar o último degrau desta árdua jornada - andar este onde repousa e nos aguarda a taça da competição.
Juntos somos fortes, muito fortes, como atestou o próprio Felipão - um profissional que veio até o Alto da Glória e sentiu a energia que parece brotar das arquibancadas do Estádio Couto Pereira.
O Coritiba passou por cima de tantos e difíceis percalços até aqui, nossa torcida nunca deixou de apoiar o time, mas agora, mais do que nunca, precisamos inaugurar mais uma era: a do apoio irrestrito, infernal, incansável e ininterrupto durante os 90 minutos da grande decisão.
Desde já, que cada um de nós use a criatividade para encontrar formas sempre pacíficas para transformar o Couto Pereira no pior pesadelo do time cruzmaltino.
"Eu estarei lá e se tiver que estourar meus pulmões como preço pela conquista, já posso me preparar para deixar de respirar"!
Mais alguém?!
União, trabalho e muitos sócios = Coritiba forte e vencedor!
Saudações Alviverdes,
Percy Goralewski
facebook
twitter.com/percycoxa
A opinião dos colunistas não refletem, necessariamente, a opinião do site.
Cada colunista tem sua liberdade de expressão garantida e assinou um termo de uso desse espaço.
Para que a minha glória a ti cante louvores, e não se cale. Senhor, meu Deus, eu te louvarei para sempre. (Salmos 30:12)