
De Torcedor pra Torcedor
Sem dúvida, essa sempre foi minha disciplina preferida durante a vida escolar.
As grandes catástrofes e os grandes acontecimentos vividos pela humanidade, nela ficam registrados - possibilitando lições para a não repetição de erros e estímulo para a reiteração de acertos.
O Coritiba e sua legião de torcedores escreveram até aqui algumas páginas tristes e diversas páginas alegres neste grande livro da vida.
Não é preciso ir longe, até porque temos um século de existência enquanto coletividade coritibana, para ver que os registros nos foram mais favoráveis do que lamentáveis. No entanto, nossa história mais recente está manchada pelos acontecimentos mais tristes escritos neste livro de 100 páginas!
Como instituição, o clube, gerido de forma absolutamente amadora e irresponsável, defrontou-se com a mais severa face do fracasso em seu mais expressivo ano. Desmandos, falta de planejamento e inexperiência foram alguns dos erros que conduziram o Coritiba à segunda divisão em pleno ano do centenário - uma página negra que para sempre maculará a história Alviverde.
Como coletividade, o prejuízo dirigido ao clube, de igual forma prejudicial, foi e está sendo incalculável. As cenas degradantes do dia 06/12/2009 ainda permeiam nossas lembranças - quando vândalos vestidos com nossas cores provocaram a barbárie, ajudando a desfalecer a imagem do clube no cenário nacional.
Os ecos daquele fatídico dia ressoam na atualidade, pois o quase total abandono que a chamada Torcida Que Nunca Abandona pratica nos jogos do Coritiba é a mancha que mais se mostra presente na história coritibana.
Não consigo conceber que nossa torcida se restrinja aos cerca de 7.000 aficcionados que - chova ou faça sol - estão presente aos jogos do clube, e a hora de começar a virar esta página é agora.
O ingresso e os planos de sócios são caros? Depende!
Depende de uma série de fatores: da condição econômica e social de cada um; do quanto cada torcedor entende que deve contribuir com seu clube; do quanto o seu clube 'merece' um sacrifício financeiro mensal (ou pontual) por parte de seu torcedor; do quanto custa hoje o 'produto' futebol; do quanto este mesmo torcedor se dispõe a gastar sem reclamar numa única noite na 'balada', por exemplo!
Há outros argumentos, como a eterna ideia de que devemos esperar a chegada de uma diretoria composta por pessoas 'perfeitas' para que aí sim façamos a nossa parte, ou seja, aguardaremos até o infinito para que a mudança possa ocorrer de 'dentro para fora'... que tal ajudarmos a construí-la de 'fora para dentro'?!
Sem fazer valor de juízo de quem é mais ou menos torcedor (isso não existe), é importante frisar que este momento turbulento pelo qual passa o clube na sua outrora vencedora história, nós - os torcedores, podemos e devemos fazer sempre mais!
Neste ano de reconstrução, nesta nova página em que estamos todos tentando escrever um novo capítulo do 'livro da vida Coxa-Branca', a participação efetiva da maioria dos torcedores é um fator decisivo para a possibilidade de termos no futuro novas páginas para escrever, sob pena de vermos o ponto final ser grafado agora mesmo na obra.
O presidente do rebaixamento ficou? Sim, ficou! Estamos na segunda divisão? Sim, estamos! Milhões de coisas estão erradas nos bastidores do Alto da Glória? Sim, estão - como em muitos anos estiveram!
E nós, o que faremos? Pelos erros internos passamos a ter a legitimidade de só cobrar e nos mantermos alheios à necessidade de reconstrução? Ficaremos do lado de fora do estádio, ouvindo ou assistindo aos jogos pelo rádio ou TV, sob a pretensa desculpa do 'só volto quando o presidente sair'?!
Até quando?!
Tenho amigos que simplesmente resolveram desistir e 'voltar somente no futuro, quando tudo estiver bem'!
E se não tivermos a chance de ver esse 'futuro' chegar?!
Sou um admirador do filme Coração Valente, do ator e diretor Mel Gibson - acho um dos mais sensacionais retratos das lutas históricas de independência.
Nele, há uma cena em que o exército escocês - composto por humildes camponeses, se defronta com os soldados do poderoso exército inglês, numa das várias batalhas que mais tarde culminariam com a independência da Escócia.
Nesta cena, William Wallace - líder do movimento de independência escocesa (brilhantemente representado por Mel Gibson), conclama seus compatriotas a empunhar suas armas e enfrentar a tirania daqueles que historicamente os oprimiam.
Diante do poderio do exército adversário, alguns escoceses se manifestaram desfavoráveis ao confronto, pois a morte lhes parecia certa. Alegavam que se corressem, continuariam vivos.
Num gesto de extrema liderança e amor à pátria, William Wallace cavalgou diante de seus comandados e disse algo mais ou menos assim:
"Realmente, vocês podem ir para casa e viver! Mas por quanto tempo mais?! Chegará um dia em que vocês trocarão tudo para poder voltar no tempo para estar aqui, neste campo de batalha, para dizer aos seus inimigos que não mais se curvarão! Então, essa é a chance, essa é a hora de mostrar isso a eles"!
Com um discurso positivista, o líder escocês demonstrou ao seu povo que não importava a dificuldade de mudar algo que para eles era tão degradante. Havia um meio de mudar a história e aquele era o momento - e eles a mudaram!
Sem a menor pretensão de encarnar os ideais do grande William Wallace, questiono: não seria essa a hora do nosso povo se render de forma inequívoca ao ideal Coxa-Branca de transformação e apoio ao CLUBE, mesmo que as adversidades nos maltratem tanto?!
Muitos anos se passaram desde as batalhas nos campos escoceses. Hoje, por sorte, não precisamos empunhar foices, espadas ou 'bancos de reservas'... temos somente que fazer um pequeno esforço financeiro, procurar o clube para se associar e gastar a garganta e as palmas para empurrar o Coritiba para cima de seus adversários em campo e cobrar de seus dirigentes que uma nova ordem administrativa seja imposta.
O momento é agora: 32 anos depois da última conquista estadual, em casa, diante do mais tradicional rival, o Coritiba precisará de seu povo para vencer a batalha!
A pergunta que fica é: 
Quem está disposto a compor este exército?!
Eu estou!
União, trabalho e muitos sócios = Coritiba forte e vencedor!
Saudações Alviverdes,
Percy Goralewski
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