
De Torcedor pra Torcedor
O Coritiba cumpre uma temporada de superação. Campeão Estadual diante do principal (eu diria único) rival no Estado, viagens e concentrações dignas das mais mirabolantes histórias de nômades, cumprimento da mais severa punição aplicada a um clube de futebol no Brasil são alguns dos ingredientes que enchem de orgulho o torcedor Alviverde quando vê seu time liderando o campeonato que pode lhe conferir o passaporte de retorno à elite do futebol brasileiro.
31 rodadas; 60 pontos; 5 pontos de vantagem para o segundo colocado e 10 pontos de vantagem para o quinto colocado são motivos que levam o torcedor Coxa Branca a fazer a contagem regressiva para o seu regresso à primeira divisão e também para o título da Série B. Neste ano de reconstrução, o título que ora disputamos serviria como uma espécie de 'volta por cima em grande estilo' e é em busca deste retorno triunfante que o Coritiba precisa lutar até o fim.
Diante deste saldo altamente positivo é que entendo que o empate do último sábado, dentro do Estádio Couto Pereira, é de difícil digestão. Confesso que saí absolutamente transtornado do estádio, quando um misto de frustração e indignação tomou-me de assalto. Não temo por assumir o que penso: eu havia projetado não somente uma vitória, mas uma expressiva vitória diante do time colorido de Curitiba.
Não serei hipócrita: irrito-me em perder qualquer ponto para o Paraná Clube de hoje. Com todo o respeito ao clube que iniciou suas atividades na década de 90 com força e hoje não é nem sombra de si mesmo, como torcedor, não admito que o centenário Coritiba não atropele o adversário, especialmente quando o jogo é no Estádio Alviverde.
A questão é bem simples e ela não se confunde com arrogância, por mais que pareça o contrário. Não considero o confronto com o Paraná Clube como um 'clássico'. A palavra 'clássico' remonta à ideia de 'antigo', de 'tradicional', de 'histórico'. Tenho 33 anos de idade, o Paraná Clube 20. Vi o clube nascer e vi este mesmo clube passar inúmeras vezes por cima do Coritiba quando a força e a punjança estavam ao seu lado.
Como era complicado estar na fila desde 1989 e, ano após ano, perder as finais para o até então caçula do futebol paranaense. Tudo o que as torcidas de Colorado e Pinheiros não tinham motivo para tripudiar da dupla AtleTiba, os tricolores se esbaldavam, a ponto de se tornarem penta campeões do Estado (com a maioria destas conquistas alcançadas sobre o Coritiba, lamentavelmente).
Das derrotas intragáveis para aquele clube que queriam me fazer engolir que era um 'clássico', duas ficaram na minha memória e pior: nas estatísticas deste confronto: Paraná 6x2 Coritiba, em 09/05/1999 e Paraná 6x1 Coritiba, em 06/04/2002. Estes resultados, em síntese, é que me levam ao sentimento de frustração a cada confronto com o 'atual' Paraná Clube quando o mesmo acaba com placar de vitória magra, empate ou intragáveis derrotas (como aquela do campeonato estadual deste ano, em Paranaguá).
Frustro-me porque quando era o time adversário que estava num melhor momento, vencia-nos e não se contentava em apenas vencer: buscava a humilhação tão bem estampada nestes dois resultados que mencionei. Passadas duas décadas da fusão que originou o time da Vila Capanema, o Coritiba é um clube muito diferente (para melhor) daquele da década de 90 e o adversário muito diferente (para pior) daquele que era o algoz Coxa Branca.
Está aí a explicação por não ter 'digerido' o empate em 0x0 no último sábado no Estádio Couto Pereira, passadas pouco menos de 72 horas do apito final do árbitro. Sendo o mais honesto possível, deixando de lado mais uma vez a hipocrisia, não dá para comparar a qualidade técnica, o investimento realizado, entre tantos outros fatores que existam entre Coritiba e Paraná Clube, simplesmente não dá.
Na minha visão de torcedor, e considerando que pode haver uma pequena dose de lógica no futebol, se quando éramos, na década de 90, inferiores tecnicamente ao time tricolor, invariavelmente sendo batidos inapelavelmente, por que o Coritiba não consegue 'dar o troco' (na bola, é claro), desde que voltou a ocupar a posição de destaque no futebol paranaense? Não consigo entender.
Minhas expectativas de ver uma alteração nas estatísticas do confronto, sendo o portador da maior goleada, por exemplo, restam frustradas a cada encontro. O que precisaremos fazer para colocar as coisas nos seus devidos lugares?
Para fomentar ainda mais a minha indignação com o empate do último sábado foi a constatação de que, campeonato todo à parte, neste jogo em específico não vi a mesma gana de vencer como vi contra a Ponte Preta em Campinas (empate em 2x2) ou contra o Sport em Recife (derrota por 3x2). Note-se que nas duas partidas mencionadas, o Coritiba também não ganhou, mas não vi nenhum jogador deixando de acompanhar o adversário que tomava a bola, para por a mão na cintura.
Preciso deixar claro: sou absolutamente grato por todas as alegrias vividas até aqui na temporada. Orgulho-me cada vez mais do clube que escolhi para torcer, pois está dando uma verdadeira aula de como suplantar seus próprios limites. Contudo gostaria de deixar um singelo pedido: da próxima vez que jogar contra o jovem clube colorido, dá pra pelo menos tentar descontar uma destas históricas e intragáveis goleadas? Desde já agradeço!
Espero que o desperdício destes dois pontos não nos faça falta nesta reta final da competição, até porque temos dois jogos fora de casa, um contra um time que também se mostra uma 'asa negra' na vida do Coritiba - o São Caetano, e outro contra um adversário direto pelo título: o Bahia.
Quero crer que a fidalguia entre os dois clubes tenha se resumido à troca de camisas entre os presidentes antes da partida, que os jogadores Alviverdes tenham enfrentado um dia de 'inferno astral' contra o time tricolor e voltem a jogar com mesma gana que vimos nas últimas partidas, pois se a classificação à Série A não parece estar distante, para levantar a taça, o Coritiba terá que ficar muito atento especialmente nestes dois próximos jogos.
Vou acreditar que o time do Alto da Glória não tenha decidido administrar a competição justamente contra seu algoz na década de 90. Se isto aconteceu, mesmo que veladamente, temo por não mais navegarmos em águas tão tranquilas rumo ao título da competição. Aquilo que estava se mostrando fácil (diante da enorme vontade de vencer demonstrada nas demais partidas) não precisaria se transformar num drama desnecessário diante da ausência desta mesma vontade observada no último jogo, afinal, será que já era hora de administrar?
União, trabalho e muitos sócios = Coritiba forte e vencedor!
Saudações Alviverdes,
Percy Goralewski
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