
De Torcedor pra Torcedor
Pretendia escrever um texto acerca dos meandros que cercaram as finais da Copa do Brasil - uma reflexão um tanto quanto desprovida do calor da nova perda, mas entendo ser o caso de abordar outro tema - muito mais relevante neste momento em que o time Coritibano experimenta grandes dificuldades no Campeonato Brasileiro.
Comprometo-me a escrever sobre o primeiro assunto na próxima oportunidade.
Não há dúvida que dirigentes, jogadores, comissão técnica e torcedores depositaram suas fichas na inédita conquista do torneio nacional - não poderia ser diferente.
Mesmo cientes das qualidades e sobretudo das carências que o "onze Coxa-Branca" apresentava nos gramados, víamos como absolutamente factível chegar ao objetivo.
Infelizmente não foi possível e, aliada a perda do cobiçado troféu, inúmeros ingredientes misturaram-se dando origem ao momento de dificuldades que vivemos.
Tomo como exemplo o trabalho desenvolvido pelo treinador Marcelo Oliveira. Nada mais natural que após a perda da Copa do Brasil iniciasse um amplo debate sobre a conveniência de sua permanência à frente da equipe Coxa-Branca.
As duas correntes - favorável a sua permanência e outra contrária - expõem seus motivos. Cada qual com seus argumentos e todos eles, mesmo que não completos em si mesmos, guardam suas doses de pertinência.
Àqueles que entendem que a permanência do treinador é o ponto de partida para a busca da recuperação baseiam seus argumentos no conhecimento que Marcelo Oliveira tem do clube e do elenco; seu "custo" compatível com as finanças do clube e especialmente porque soube trabalhar com o material humano que lhe foi entregue pelo departamento de futebol.
Os oposicionistas desta ideia alegam a falta de ousadia, o discurso repetitivo, o conservacionismo e porque não dizer a teimosia em escalar alguns jogadores que sabidamente não desenvolvem o mesmo potencial daqueles que os fazem sombra, caso de Jonas e Junior Urso, por exemplo.
O futebol é assim: permeado de discussões e pontos de vista. Particularmente, com relação ao técnico Alviverde, já mudei de concepção e não foram poucas as vezes. Quando chegou dei-lhe as boas vindas, já o critiquei tendo sempre como base de argumentação a sensação de que ele tão somente tinha aprimorado um trabalho iniciado por Ney Franco. Recentemente percebi meu equívoco, tendo em vista a excelente armação tática imposta ao time nas partidas diante do São Paulo, no Morumbi (pelas semifinais da Copa do Brasil) e Santos, na Vila Belmiro (pelo Campeonato Brasileiro), e só.
Do elogio à crítica, da crítica ao elogio. Difícil encontrar o meio termo. Penso que seus equívocos recorrentes sejam realmente a insistência com atletas que pouco produzem para o sucesso da equipe e seu conservacionismo tático (que não contempla variações). Como contraponto, não posso deixar também de reconhecer que o material humano que lhe foi entregue nesta temporada se ressente muito da ausência de pelo menos um lateral esquerdo de ofício, de um meia efetivamente armador e especialmente de um atacante finalizador.
Difícil cobrar do treinador quando vemos nossos atletas chegando na cara do gol e perdendo tantas oportunidades a cada partida.
Bem, seja uma opinião ou outra a mais acertada para o momento, importa questionar qual a margem de tolerância que o Coritiba, enquanto instituição que busca a excelência de gestão, planificou para a disputa do Campeonato Brasileiro.
Não estou me referindo somente ao trabalho do treinador, frise-se. Analiso a totalidade da situação.
Completamos onze jogos na competição e somamos somente nove pontos. Totalmente dispensável reconhecer o baixíssimo aproveitamento. Ainda assim, é preciso que estas onze rodadas tenha servido para que muitas reflexões tenham sido feitas pelos mandatários do clube.
Qual ou quais componentes na estratégia escolhida para esta disputa está ou estão em descompasso? O que deu errado até aqui? O trabalho do treinador; a ineficiência técnica de alguns atletas nos momentos de decisão; o desequilíbrio emocional pela perda da outra competição? Estes fatores isolada ou conjuntamente explicam este rendimento?
Difícil avaliar e descobrir onde reside o foco causador desta grande dor de cabeça. Indiscutível, porém, é o fato de que se este quadro não for alterado rapidamente as chances de todo o trabalho de reconstrução do clube sofra um catastrófico abalo.
Esta constatação (óbvia por sinal) não encontra guarida na tentativa de desestabilizar o treinador, menosprezar atletas que vistam a centenária camisa Coritibana, criticar por criticar tudo o que vem sendo feito.
Em verdade, é preciso que a torcida Coxa-Branca, ainda aturdida com os recentes acontecimentos, volte a confiar no trabalho realizado no clube (como um todo), sabendo que a mencionada margem de tolerância está inserida no planejamento traçado para este dificílimo segundo semestre.
Torço, e não poderia ser diferente, para que esta mesma margem de tolerância (caso realmente esteja contemplada na estratégia de disputa desta árdua competição) nem precise esgotar-se por si só.
No entanto, caso ela seja transposta pelos sucessivos resultados negativos, que as medidas (sejam quais forem) não deixem de ser tomadas no Alto da Glória e que isto seja feito sem melindres, no tempo certo, doa a quem doer - lembrando sempre que é o bem da instituição que precede os nomes de toda e qualquer pessoa que compõem este todo, independente da ocupação que exerça.
Creio que o presidente, seus pares de diretoria e especialmente os responsáveis pelo departamento de futebol coritibano estejam atentos e já saibam como e quando agir. Se este momento limiar bater às portas do Estádio Couto Pereira, que haja o desprendimento, o arrojo e a imediata tomada de ações para corrigir o rumo, como disse, doa a quem doer.
No dinâmico e imprevisto mundo do futebol, uma vitória contra o Náutico nesta quarta-feira, muito mais que a conquista de três preciosos pontos, serviria como um bálsamo nas feridas abertas na coletividade Coxa-Branca. Mais do que isso, representaria a retomada da confiança para a disputa das próximas rodadas que certamente serão ainda mais difíceis do que estas já suplantadas.
É momento de união, mas também de alerta. Não importa se os bastidores fervilham ou não, se dirigentes saem ou ficam, se executivos ficam ou vão. Importa tomar as medidas no momento certo, nem antes, nem depois - sempre de olho no planejamento e no respeito a essa margem de tolerância.
União, trabalho e muitos sócios = Coritiba forte e vencedor!
Saudações Alviverdes,
Percy Goralewski
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