
De Torcedor pra Torcedor
A irregular campanha Alviverde cumprida nestas nove primeiras rodadas do Campeonato Brasileiro, especialmente no que se refere às partidas realizadas longe do Estádio Couto Pereira, encontra uma série de 'explicações'.
A primeira delas diz respeito à mobilização que buscava alcançar o título da Copa do Brasil, o qual escapou por entre os dedos, causando um sentimento de difícil absorção diante das circunstâncias que marcaram os 180 minutos da decisão.
Com a perda do título, foi preciso que algumas rodadas se passassem para que os atletas Alviverdes entendessem que de nada adiantaria continuar lamentando a perda da possibilidade de disputar a Taça Libertadores da América em 2012, justamente porque o Campeonato Brasileiro também serve de 'passaporte' para esta competição.
Outro fator que explica a pequena pontuação Coxa-Branca no Brasileirão é o expressivo número de lesões que acometem os jogadores Coritibanos na temporada, fato que impossibilita a utilização do chamado 'time ideal', aquela mesma equipe que atuou na maioria das partidas que encantaram o Brasil no primeiro semestre do ano.
Contudo, é a atuação do treinador Marcelo Oliveira nas partidas fora de casa que merece uma especial análise.
Absorvendo os ensinamentos contidos nos posts dos amigos blogueiros COXAnautas que trataram do assunto, pouco resta a acrescentar quanto aos equívocos cometidos recentemente pelo técnico Coxa-Branca.
Começo a análise com a seguinte pergunta: na hipótese da demissão de Marcelo Oliveira, quem seria e qual seria o perfil ideal para o cargo de treinador da equipe Coxa-Branca?
Quando lanço esta hipótese, com ela fica a reflexão: a substituição de um treinador em qualquer equipe deveria objetivar a mudança do paradigma estratégico de jogo - este o panorama ideal.
Entretanto, o que vemos no futebol como um todo é a substituição de treinadores como fator motivacional, uma resposta à pressão exercida por dirigentes, torcedores e componentes da mídia 'especializada', sem que esta mudança de paradigma estratégico seja tratada como prioridade.
A música toca e a dança das cadeiras dos treinadores começa, sem que se pare para constatar que a mesmice toma conta deste mercado.
Não há alteração de estratégias de jogo. Sai um treinador, chega outro e nenhuma novidade significativa é sentida no trabalho dentro das quatro linhas. Não há um método inovador, não há ousadia, não há fato novo diverso daquela falsa sensação de que somente a troca por si mesma será suficiente para se iniciar um novo projeto, uma nova mentalidade a ser implantada.
Não há dúvida que o treinador Marcelo Oliveira tem seus méritos em toda a excepcional campanha realizada pelo Coritiba nos primeiros seis meses do ano e qual o segredo destes seus méritos? O respeito à característica preponderante do elenco que tem em suas mãos.
Faço um pequeno paralelo comparativo e para tal utilizarei a campanha do nosso maior rival no Brasileirão do ano passado, contando com a compreensão dos amigos leitores.
Quantas foram as partidas que nossos rivais rubronegros venceram naquela competição com o placar mínimo de 1x0? Qual era o ponto forte daquela equipe? A defesa, e foi com esta base defensiva que alcançaram o quinto lugar na competição.
Quero dizer com isso que o treinador, seja ele qual for, precisa ter a sensibilidade de reconhecer em seu elenco qual a característica que se sobressai para que possa extrair o máximo de seus comandados, visando alcançar os resultados positivos.
Foi o que aconteceu na campanha atleticana do ano passado. Partiu-se do princípio que o time tinha vocação defensiva e nela a estratégia de jogo era fundamentada, servindo de lastro para a conquista da surpreendente classificação final. Isto se comprova com o desmanche feito no setor defensivo - fator responsável pela pífia campanha construída ao longo de todos os meses de 2011.
Voltando ao Coritiba e ao treinador Marcelo Oliveira, entendo que seu mérito no primeiro semestre reside justamente na identificação e reconhecimento da principal virtude do time Alviverde - o ataque.
Fosse dentro ou fora do Couto Pereira, o time Coxa Branca buscava o gol adversário incessantemente, como um rolo compressor.
Há quem possa alegar que não se pode comparar o nível do Campeonato Paranaense com o do Campeonato Brasileiro - sem dúvida, não há comparação. No entanto, mesmo diante da fragilidade técnica da maioria dos adversários enfrentados no primeiro semestre, o Coritiba tomou vários gols quando jogava fora de seus domínios, mas, por agredir incessantemente seus adversários, invariavelmente o placar final apontava um maior número de gols marcados do que sofridos, garantindo os triunfos em sequência.
O ponto alto e também o momento em que 'se virou o fio da meada' foi a goleada por 6x0 diante do Palmeiras. Até aquele momento, o Coritiba jogava para frente, solto, impetuoso, preocupado com a sua atuação, independente do adversário que enfrentava, fosse o modesto Cianorte ou o badalado time paulista.
Em seguida, as fases decisivas da Copa do Brasil e o início do Campeonato Brasileiro - especialmente nas partidas longe de Curitiba - o time verde e branco passou a contrariar a sua própria natureza, não a toa que as vitórias escassearam.
Aí reside o ponto nevrálgico do momento de instabilidade pelo qual a equipe passa.
Creio não ser necessária a substituição do comando técnico do Coritiba, mas uma profunda e imediata reflexão a ser realizada pelo treinador Alviverde no que se refere à necessidade de voltar a respeitar a principal característica do time que tem nas mãos, seja dentro ou fora do Estádio Couto Pereira.
O jogo contra o Grêmio foi simbólico: primeiro tempo dominado pelo Coritiba, gol incrível perdido por Marcos Aurélio que, de forma displicente, definiu absurdamente um lance que poderia ter mudado a história da partida (e aí o treinador está isento de qualquer responsabilidade), chegando-se ao fim dos primeiros 45 minutos com o placar de 0x0.
Fico imaginando o que o treinador gremista falou aos seus jogadores no vestiário: "Estamos em casa, vamos pra cima deles, vamos sufocar a marcação, que o gol vai sair. Eles buscarão se defender, então, vamos pra cima".
Neste exato momento, se Marcelo Oliveira lembrasse das atuações do primeiro semestre diria: "Podem ter certeza que neste mesmo instante, os caras lá estão apostando que vamos voltar a campo somente para nos defender... Bill, você já vai para o jogo. Vamos pra cima dos caras. Temos 45 minutos para aprontar uma blitz em cima deles, pois é exatamente isso que eles não esperam que façamos. Podemos até sair daqui derrotados, mas vamos pra dentro dos caras, buscando o gol a cada instante".
Pelo que se viu em campo, estas não foram as palavras de Marcelo Oliveira, mas infelizmente a derrota veio da forma que qualquer torcedor Coxa Branca não quer mais ver: com um time, embora brioso, acuado diante do fato de enfrentar 'um dos times grandes do futebol brasileiro em seus domínios', haja vista termos precisado tomar o gol de Gilberto Silva para que se buscasse força ofensiva com as alterações promovidas - tarde demais.
As vezes tenho a impressão que Marcelo Oliveira não sabe muito bem o que fazer com o bom elenco que tem nas mãos. Não há critérios definidos e os exemplos não são poucos: a entrada de Jeci na zaga no lugar de Demerson - o zagueiro de confiança nas finais da Copa do Brasil; a escalação de Everton Costa, deixando como opções de banco jogadores que em outras oportunidades figuravam como reservas imediatos, caso de Anderson Aquino e Geraldo; a insistência com Marcos Paulo, quando na partida anterior optou-se pelo recém chegado Gil...
Espero que com o retorno de Leandro Donizete e Rafinha, Marcelo Oliveira possa, finalmente, montar o seu time-base visando por fim à insegurança demonstrada longe de Curitiba. A formação com Edson Bastos, Jonas, Emerson, Pereira e Eltinho; Leandro Donizete, Leo Gago, Rafinha e Davi (Tcheco); Marcos Aurélio e Bill poderá ser o ponto de partida para o fim deste 'perde-e-ganha'.
A partir daí será preciso avaliar corretamente as opções de banco, entre as quais penso serem imprescindíveis as presenças de Demerson, Willian, Leonardo e Anderson Aquino.
Definido o time-base, a melhor convocação para o banco de reservas, mas sobretudo, o respeito à vocação ofensiva desta equipe, Marcelo Oliveira voltará a colecionar créditos junto à grande torcida Coxa Branca, saindo da mesmice que acomete os treinadores brasileiros - ávidos em garantir seus empregos ao não ousarem nas partidas fora de casa, quando perdem 'de pouco' e esperam os jogos em seus domínios para buscar a reabilitação, eternizando uma fórmula que não leva a lugar algum.
Acredito que buscando a vitória desde o início das partidas dentro ou fora de casa, até mesmo as derrotas, que certamente virão, serão de mais fácil 'digestão' por parte da coletividade Coxa-Branca, então, Marcelo Oliveira, não tenha 'medo de ser feliz'!
União, trabalho e muitos sócios = Coritiba forte e vencedor!
Saudações Alviverdes,
Percy Goralewski
facebook;
twitter.com/percycoxa
A opinião dos colunistas não refletem, necessariamente, a opinião do site.
Cada colunista tem sua liberdade de expressão garantida e assinou um termo de uso desse espaço.
Para que a minha glória a ti cante louvores, e não se cale. Senhor, meu Deus, eu te louvarei para sempre. (Salmos 30:12)