
De Torcedor pra Torcedor
É compreensível ver um clube como o Coritiba, separado por uma abissal distância financeira dos chamados "grandes", encontrar sérias dificuldades na árdua tarefa de contratar jogadores que venham para resolver, mas é injustificável trazer e insistir com jogadores que demonstram ser inaptos para o ofício que escolheram, como Marcel, Anderson Aquino, Demerson e alguns outros.
É compreensível que muitas dificuldades sejam encontradas na montagem de um elenco para o enfrentamento de um calendário insano como o brasileiro, mas é injustificável desmontar quase que totalmente uma formação que deu certo, mostrou resultado e que não teve continuidade na busca por conquistas verdadeiramente expressivas.
É compreensível que no pior momento do clube (após os lamentáveis fatos que marcaram o pós 06/12/2009) a empresa parceira (LA Sports) tenha se colocado ao seu lado trazendo jogadores que caíram como uma luva na equipe como Emerson, Leo Gago, Davi, Rafinha e Leonardo, mas é injustificável agora ter o "contra peso" de deixar no Coritiba jogadores como Eltinho, Gil, Junior Urso, Robinho e Roberto. Pior: muitos destes, mesmo não mostrando na prática um rendimento mínimo que a profissão exige, continuam sendo sempre relacionados em detrimento de jovens atletas formados em casa.
É compreensível que se queira preservar estes jovens atletas, não os colocando na "fogueira", mas é injustificável insistir com opções que não darão certo por mais que se insista e eis dois exemplos: 1) na partida de ontem, por que não aproveitar o entrosamento de anos dos jovens Bonfim e Luccas Claro? Aliás, quem foi o destaque da dupla defensiva no Engenhão? O "inexperiente", o ainda "verde" Luccas Claro. O que mais precisa acontecer para reconhecer que o apenas esforçado Demerson não apresentará um rendimento (no mínimo) aceitável para os jogos da primeira divisão? 2) por que o garoto Alex, titular nos primeiros 45 minutos de jogo contra o Internacional, sequer foi relacionado para o jogo contra o Botafogo? Há algum critério neste tipo de avaliação? O garoto, por acaso comprometeu quando enfrentou os gaúchos, jogando praticamente isolado no ataque? Eu até entenderia se as opções que viajaram ao Rio de Janeiro fossem de igual ou melhor técnica, mas onde vamos parar com Marcel e Anderson Aquino? O primeiro sem nenhuma mobilidade, pregado ao chão e o segundo absolutamente displicente, rindo (só pode ser da cara do torcedor) após perder mais um gol no campeonato nacional?
Aliás, é bom que se ponha na conta da displicência deste rapaz pelo menos uns três pontos perdidos na competição. Um empate que poderia ter acontecido no Morumbi, quando mesmo perdendo por 1x0, foi lançado e quis fazer um gol de craque, no cantinho, onde o goleiro tricolor percebeu que iria bater para logo depois desviá-la para escanteio. Aqueles 3x2 poderiam ter se transformado em 3x3. Os outros dois pontos poderiam ter vindo de São Januário, onde por duas oportunidades quase iguais, indo em direção ao gol apanhou da bola, tropeçando em seus próprios pés.
É compreensível que um projeto que visa a remodelação da instituição apresente falhas, mas é injustificável que as mesmas, muito embora evidentes e de fácil constatação, repitam-se à exaustão sem que o discurso mude, como as explicações para os vexames que ocorrem longe do Alto da Glória (neste ano, pra piorar, alguns deles também dentro do estádio Couto Pereira).
É compreensível que o presidente Alviverde esteja aturdido com a sucessão de más apresentações individuais ou coletivas, mas é injustificável que bata boca com torcedor, quando na verdade é este que faz a roda girar, colocando-se ao lado do clube para tentar pagar a maldita herança de dívidas oriundas de décadas de amadorismo. Que haja equilíbrio no momento de maior efervescência e que as cobranças sejam dirigidas com a mesma intensidade àqueles que são os responsáveis pela montagem do time dentro e fora de campo, pois estes podem e DEVEM fazer algo diferente para evitar a nova humilhação.
É compreensível ver o desalento dos dirigentes ao acompanharem a evasão mensal de associados e terem que encontrar soluções para tentar manter os compromissos financeiros em dia (particularmente acho um erro absurdo "mirar" nos dirigentes o descontentamento com a pífia campanha e acertar na instituição desfalcando-a de recursos que certamente comprometerão o todo), mas será injustificável conclamar esta mesma torcida no caso de um novo rebaixamento.
Aliás, minha preocupação maior reside no seguinte: em 2005 quando caímos, o sentimento de consternação logo foi trocado pela empolgação de fazer o clube se reerguer. Houve uma união, a torcida entrou no embalo e ao som do "Vamos Subir, Coxa", voltamos à elite em 2007.
Em 2009 por mais paradoxal que tenha sido, a chama se acendeu diante da barbárie, da necessidade de limpar a má impressão. Houve o abraço ao Couto, houve as batalhas dos tribunais, houve o sacrifício de Joinville, sobretudo houve o espírito de se fazer tudo diferente - o que se conseguiu ao final do ano seguinte.
A pergunta que fica desde já é: qual será o mote para trazer a torcida novamente para apoiar o clube em caso de novo rebaixamento? Todo o trabalho e credibilidade conquistados pelo presidente Vilson Ribeiro de Andrade e sua diretoria irão ralo abaixo para a grande maioria (claro, sempre haverá alguns obstinados que chova ou faça sol comparecerão nas agências bancárias para pagar o plano de associado e nas arquibancadas para novamente ver ASA's e ABC's da vida). Não se discute aqui se é justa ou não a conclusão do "nada prestou". Futebol é resultado e lamentavelmente tudo de bom que foi e está sendo feito de nada vai adiantar se entre 2005 e 2013 o Coritiba disputar a Série B em quatro temporadas.
Ainda há 17 partidas para serem disputadas em 2012. Que cada uma delas seja encarada como a última. É preciso lembrar dos sufocos que marcaram as partidas contra o Internacional em 2005 e contra o Fluminense em 2009, ocasiões em que tudo o que mais se almejava era poder voltar no tempo para conquistar mais um "mísero ponto", mais uma "mísera vitória".
A partida contra a Portuguesa é final de Copa do Mundo para a torcida do Coritiba.
Resta saber se o será para o treinador Marcelo Oliveira e seus comandados, sejam eles da base Alviverde, da empresa que ainda é a principal parceira do clube ou qualquer outro atleta que tenha vergonha na cara quando errar uma conclusão a gol, ao invés de sair rindo da própria incompetência.
É a hora de verdadeiramente virar a página e engatar uma sequência de resultados positivos, pois, mesmo não sendo o caso da Lusa, é inconcebível que o Coritiba não consiga tirar proveito de adversários em momento de total instabilidade como foi contra o Figueirense e agora contra o Botafogo.
Chega de dar nova vida para os adversários.
Quem precisa de uma nova vida a partir de agora é o próprio Coritiba, até porque se deixar para depois certamente vai ser tarde demais, pois além de enfrentar na sequência final da competição clubes como Grêmio, Fluminense, Atlético/MG, Corinthians, Vasco e Cruzeiro, dos ocupantes das quatro últimas colocações na tabela de classificação do momento, enfrentará três deles longe do Alto da Glória: Sport, Palmeiras e Atlético/GO.
Vão deixando para depois, vão...
União, trabalho e muitos sócios = Coritiba forte e vencedor!
Saudações Alviverdes,
Percy Goralewski
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