
De Torcedor pra Torcedor
Rebaixado em 2009, renascido em 2010 graças ao árduo trabalho diretivo que buscou evitar que o Coritiba passasse a ocupar as Séries B e C do futebol brasileiro, o clube do Alto da Glória tinha em Ney Franco um profissional de palavra - que aceitou a redução de seu salário para recolocar o clube na elite do futebol nacional -, um treinador que passava confiança à grande maioria dos torcedores Coxas-Brancas, e que buscaria, com seus conhecimentos técnicos e discurso otimista, reconduzir o clube à elite.
Após cumprir com muita competência as metas estabelecidas, Ney Franco projetou novos ares em sua carreira, deixando uma marca de comprometimento e sucesso à frente da equipe verde e branca.
À diretoria Alviverde, restou a missão de escolher o seu substituto. O anúncio de Marcelo Oliveira como sendo o novo comandante técnico Coxa-Branca serviu como um verdadeiro balde de água fria nas pretensões de uma considerável parte da torcida Coritibana, que desde aquele momento, via nesta escolha um passo para trás e esperava mais arrojo e ambição para os passos que se seguiriam.
Particularmente, optei pela parcimônia quando de sua chegada. Minha reflexão buscou não considerar seu trabalho no time da Vila Capanema como referência, haja vista a estrutura e melhor material humano que encontraria no Alto da Glória. Acreditei que "dar tempo ao tempo" seria a melhor opção, chegando a lhe desejar boa sorte no comando técnico Coritibano.
Da desconfiança, a parcela de torcedores descontentes com a escolha foi sendo tomada por uma discreta dose de esperança ao acompanhar o desempenho do time verde e branco no campeonato estadual e na transposição de fases na Copa do Brasil. Para derrubar outras barreiras, o ápice Alviverde: a quebra do recorde de vitórias consecutivas e a impiedosa goleada de 6x0 sobre o Palmeiras - ali o momento de maior "lua de mel" com o treinador.
Entretanto, esta "lua de mel" nunca se deu de forma completa. Parecia que um algo a mais faltava nesta relação treinador-jogadores-torcedores. Mesmo que a frieza dos números apontasse o Coritiba como o detentor do melhor desempenho do Brasil, no íntimo de cada torcedor Coxa-Branca ainda havia um resquício de insegurança.
Esta última etapa do processo de aceitação do novo treinador teve a chance de ser definitivamente suplantada na final da Copa do Brasil - o momento mágico pelo qual a torcida Alviverde esperou por 26 anos. Coritiba e Vasco da Gama decidiriam em duas partidas o título da segunda competição mais importante do país e a garantia de uma vaga na Taça Libertadores da América de 2012.
Pra quem estava no inferno da segunda divisão, com estádio interditado, sem perspectivas de futuro há pouco mais que dezoito meses, aquele momento serviria como um divisor de águas para o Coritiba. Marcelo Oliveira tinha em suas mãos a oportunidade de se consagrar e adentrar ao seleto rol de treinadores campeões nacionais. Não foi o que se viu.
Mesmo jogando melhor que o time carioca na maior parte dos 180 minutos da decisão, faltou ao Coritiba aquele algo a mais que necessariamente deve partir do comando técnico. Não basta contar com um time entrosado, com um material humano de boa qualidade, de números expressivos, mas pretéritos.
Naquele momento faltou aquilo que Marcelo Oliveira não tem a oferecer ao Coritiba. Faltou bater na mesa, "esquecer" que do lado de lá estava o "poderoso" Vasco da Gama, e, com sangue nos olhos, emitir uma voz de comando forte, carregada de energia, ordenando que seus jogadores entrassem em campo para "trucidar" o adversário.
Não há dúvida que Marcelo Oliveira não é o único culpado pela perda da Copa do Brasil. Os dirigentes que deram o aval para a postura mais "temerosa" e "respeitadora" que optou imprimir no momento decisivo também têm as suas cotas de responsabilidade. Também seria assim no caso de conquista - ônus e bônus.
Já escrevi a respeito, mas torno a ressaltar: o futebol guarda o imponderável. A opção pela escalação de Marcos Paulo naquela fatídica noite poderia ter transformado o treinador (e todos aqueles que lhe deram o aval) em personagens eternos na história Coxa-Branca, lamentavelmente não foi o que se viu.
No entanto, a lição deveria ter sido aprendida e é aí que quero chegar.
"Superada" a cruel perda da Copa do Brasil, um novo e ainda mais difícil desafio estaria por vir. O Campeonato Brasileiro - competição que abarca as vinte melhores equipes do país, colocaria à prova os números alcançados no primeiro semestre do ano.
A mídia esportiva nunca se deu por satisfeita em reconhecer no Coritiba um dos times postulantes ao título ou à classificação para a Taça Libertadores da América. Falavam da equipe Alviverde sempre com um certo desdém, quase que uma condição "São Tomé" - querendo ver pra crer.
Caberia aos atletas e principalmente ao treinador Coritibano mostrar, jogo a jogo, que os números não eram por acaso. Mais uma vez nos deparamos com os ingredientes que faltam ao comandante: a confiança, a ambição e a supervalorização de seus comandados, não de seus adversários.
O discurso de Marcelo Oliveira nas entrevistas coletivas que sucedem as partidas é repetitivo e inconcebível. Vê-lo enaltecer as qualidades dos adversários, partida após partida, chega a ser um discurso surreal, tanto quanto desnecessário, afinal, quem não sabe da qualidade das equipes que compõem a elite do futebol brasileiro?
Será que ele esperaria encontrar pela frente equipes como aquelas enfrentadas no primeiro semestre?
Penso que diante da previsibilidade das dificuldades que viriam, novas estratégias, mas sobretudo um novo conceito de espírito vencedor deveriam ser buscados.
Nas quinze primeiras rodadas, o Coritiba não cumpriu nenhuma jornada de forma irreconhecível, a meu ver. Com altos e baixos, esteve sempre numa média de apresentações, com as mesmas apontando uma mesma deficiência: a falta de confiança e ambição no campeonato.
Não basta dominar os adversários em boa parte dos jogos - como foi contra o Flamengo. É preciso ter em mente que o Coritiba pode sim ir até o Rio de Janeiro e ganhar do time sensação de 2011. A frase proferida por Marcelo Oliveira após a derrota deste sábado resume o espírito que ele transmite aos seus jogadores: "O Coritiba não vai chegar aqui e atropelar o Flamengo. O Flamengo tem o poder".
Cabe à diretoria avaliar o conteúdo desta declaração. Ela não pode se perder com o vento, pois é este pensamento que vem norteando as atitudes do time Coxa-Branca no dificílimo Campeonato Brasileiro.
Aí cabem algumas indagações:
O que esperar do time Coxa-Branca para o restante da competição?
O que é preciso para que haja a substituição do treinador?
Derrotas acachapantes e sucessivas ou este marasmo que tomou conta do time Alviverde - que não demonstra nem sombra do espírito vencedor do primeiro semestre - constituem motivos suficientes para um fato novo?
Seria necessário que o Coritiba figurasse nas quatro últimas posições da tabela, enfrentando um clima de extrema pressão a fim de evitar um novo e inconcebível rebaixamento?
É preciso que haja uma derrota no clássico que se avizinha dentro do Estádio Couto Pereira, justamente para um time que busca com todas as suas forças reagir no campeonato?
É imprescindível que se verifique que o discurso conformista de Marcelo Oliveira contaminou o elenco e a intermitente falta de ambição do time dentro das quatro linhas não é algo que possa sempre ficar para a próxima rodada para ser resolvido.
O Coritiba pode e deve se tornar referência no modelo profissional de gerir os seus departamentos. O clube precisa crescer como um todo. Isso não implica na necessidade de manter um planejamento específico (no caso o comando técnico do futebol) quando os resultados evidenciam a necessidade de novos rumos.
O Coritiba não deve nada ao profissional Marcelo Oliveira e vice versa. Não se pode criar um mito de que treinador não pode ser dispensado, buscando-se uma nova filosofia de trabalho, especialmente no plano psicológico e motivacional - o exemplo mora ao lado.
Das duas uma: ou os dirigentes chamam o treinador para uma conversa séria, fechada, com a qual lhe repassem quais são as metas para o restante da competição, questionando-lhe se é capaz de alcançá-las ou precisam buscar alguém que se adeque as condições para este fim.
Aliás, quais são as metas Coritibanas para o restante do campeonato? Continua valendo a intenção de buscar uma vaga para a Taça Libertadores da América? Em caso afirmativo, o aproveitamento projetado será suficiente para atingi-la?
Do jeito que as coisas caminham, diante da falta de ambição demonstrada, a permanência na Série A já será uma grande conquista.
Reflexão e principalmente atitudes - é o que o Coritiba precisa neste instante.
União, trabalho e muitos sócios = Coritiba forte e vencedor!
Saudações Alviverdes,
Percy Goralewski
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