
De Torcedor pra Torcedor
Após figurar como o time 'sensação' do Brasil no primeiro semestre de 2011, quebrando recordes, aplicando goleadas, vencendo um a um seus adversários, o Coritiba definitivamente 'virou o fio'.
Chega a ser inexplicável que numa noite o time verde e branco seja capaz de encarar o atual Campeão da Libertadores da América, jogando fora de casa, contra uma arbitragem nefasta, alcançando uma vitória heróica e nas três partidas seguintes simplesmente passa a apresentar um futebol sem brilho e porque não dizer sem alma.
A 'alma' a qual me refiro não se refere à disposição dentro de campo - essa nunca faltou. Refiro-me ao espírito destemido, impetuoso, aquele que vai buscar a vitória a todo custo, mesmo que, ao acertar a trave adversária ou tomar um 'gol bobo', não conferirá espaço para o desânimo, buscando a consagração até o fim.
É inegável que aquela equipe do início do ano, que jogava 'por música', não existe mais.
Penso que o desmantelamento daquela unidade se iniciou com a saída do meia Davi. Quando este atleta deixou de ter o Coritiba como foco em sua carreira, o futebol vistoso que praticava desapareceu e com ele a 'magia' da equipe Coritibana.
Com a queda de rendimento deste jogador, houve a sobrecarga de Rafinha - o único jogador que ainda mantém um mesmo nível técnico e de espírito de luta.
Seguiram-se as contusões de Leandro Donizete e Marcos Aurélio. Com elas, a queda de rendimento de Léo Gago e Bill, respectivamente.
Contudo, se Marcos Aurélio - que vivia um momento espetacular -, precisou deixar a equipe em virtude da lesão, eis que Anderson Aquino apareceu, sendo decisivo nos momentos finais da Copa do Brasil e William se mostrou um reserva à altura do excepcional futebol de Leandro Donizete.
Cabe aí o maior paradoxo: a deficiência do ataque Alviverde (levando-se em conta ser o sistema ofensivo mais efetivo do país na temporada, tendo em Bill o maior goleador do time Coxa-Branca).
Inquestionável a luta apresentada pelo centroavante Bill, um jogador que se desdobra na marcação, que incomoda sobremaneira os zagueiros adversários, que busca contribuir coletivamente.
Voltando ao início da temporada, pelo campeonato estadual, o jogador cansou de fazer gols, tanto quanto perdê-los.
É preciso verificar que na competição regional, as oportunidades de gol que se apresentam aos atacantes dos times da capital são as mais diversas possíveis dentro de uma partida - conferindo-lhes a oportunidade de perder algumas e transformar em gol outras tantas.
No entanto, o Campeonato Brasileiro requer mais precisão. As oportunidades são escassas e o atacante precisa reunir condições técnicas de 'matar' o jogo diante daquela preciosa ocasião.
Como comparativo, menciono o centroavante Alecsandro do Vasco da Gama. Nos jogos finais da Copa do Brasil ele foi o principal responsável pela conquista carioca. No jogo do Rio de Janeiro uma única oportunidade lhe sorriu: gol do Vasco. Em Curitiba, nova e isolada situação clara de gol e novo sorriso nos rostos dos vascaínos.
O que quero afirmar? Que o camisa 9 tem que decidir. Chegar à frente do goleiro e marcar. Não se pode perder tantas oportunidades como o nosso camisa 9 tem se especializado em fazer.
Como seu substituto natural aparece Leonardo - um jogador que apresenta melhores recursos técnicos, mas que infelizmente se tornou 'inquilino' do departamento médico.
O mais curioso é que a dupla de ataque que mais se mostrou efetiva até aqui no campeonato foi a parceria Anderson Aquino e Leonardo, responsável por deixar em polvorosa a zaga vascaína nos 5x1 aplicados no terceiro jogo do Brasileirão.
No gol, a substituição de Edson Bastos por Vanderlei é uma medida, no mínimo, oportuna. É preciso preservar a imagem de um dos grandes ídolos recentes da história do clube. Nenhum jogador atinge por acaso a marca de 200 jogos com a camisa de um clube, sendo parte direta de todas as conquistas recentes desta mesma agremiação.
Edson Bastos é um grande goleiro, mais do que isso: um profissional ético, trabalhador e honesto - 'só' por isto já merece ser preservado.
Aliás, é preciso que se diga desde já: Vanderlei voltará ao time com um tremendo 'rojão' nas mãos. Enfrentará em sequência: Corinthians/SP (c), Vasco da Gama/RJ (f), Botafogo/RJ (c) e Internacional/RS (f).
Lembremo-nos do orgulho que sempre tivemos ao afirmar que contamos com dois excelentes goleiros. Não é o mau momento vivido pelo camisa 1 Coxa-Branca que me fará alterar este entendimento. Creio que um ou outro pode assumir a meta Alviverde, mas o momento comporta um questionamento: na hipótese de Vanderlei falhar em algum lance nestas quatro importantíssimas partidas, qual será o discurso?
A verdade é que o momento de instabilidade pelo qual passa a equipe Alviverde 'estourou' no camisa 1.
Após a vitória em Santos, quando Edson Bastos defendeu uma penalidade máxima (mesmo tendo falhado no primeiro gol santista), a impressão era de que o Coritiba finalmente arrancaria na competição. Não foi o que se viu. Ao empatar com o Avaí/SC e principalmente contra o seu maior rival - numa partida em que o ataque cansou de perder gols -, Edson Bastos foi eleito o responsável pela perda de dois pontos ao não interceptar a bola chutada pelo atleticano.
Mas houve alguém que tenha cobrado os atacantes por suas falhas no momento de definir a partida?
É sabido que 'goleiro não pode falhar', mas os atacantes têm salvo conduto para fazê-lo?
Aliás, o garoto Caio Vinicius nunca terá a chance de mostrar a que veio? O jogo de ontem contra os goianos era uma oportunidade de ouro para substituir o centroavante Bill. Se este jovem atleta não conta com a confiança do treinador para servir como uma alternativa ao ataque, que nem seja relacionado, pois é uma tremenda falta de respeito a resistência em colocá-lo em campo para buscar o seu lugar ao sol.
Recordemo-nos do campeonato estadual. Havia várias partidas que o Coritiba tomava um, dois gols, mas ia ao ataque com 'fome de gol' e marcava três, quatro, cinco!
Onde está o problema, então?!
Não dá para esconder algumas verdades: o futebol de Anderson Aquino sumiu; Marcos Aurélio não é nem sombra de si mesmo; com a saída de Davi o poderio ofensivo desapareceu; Bill é nota dez em disposição, mas lhe falta o poder de decisão e Marcelo Oliveira se mostra conservador ao extremo em suas substituições.
O somatório destes e outros fatores é que determina a campanha aquém do esperado no Campeonato Brasileiro.
Jogadores e comissão técnica terão quatro oportunidades para mostrar o que querem e podem fazer na competição - a começar no próximo domingo, contra o líder Corinthians/SP.
A torcida Coxa-Branca espera que novos ares soprem no Alto da Glória e com eles uma postura de vencedor seja a marca das 18 rodadas finais da competição para que recentes pesadelos não voltem a nos assombrar no final do ano.
União, trabalho e muitos sócios = Coritiba forte e vencedor!
Saudações Alviverdes,
Percy Goralewski
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