
De Torcedor pra Torcedor
D'Alessandro puxa o contra ataque, lança Forlan na esquerda, que cruza para Damião. O camisa nove domina, ajeita e chuta pro gol, mas Chico se atira na bola, travando-a e recuperando-a para a equipe Coxa-Branca. Na sequência toca para Lincoln, que lança mais à frente para Alex. O camisa 10 domina, olha para um lado, olha para outro e só encontra o Bill lá na frente. O "centroavante" é lançado, tenta o chute e ele mesmo "se marca" ao promover o pioneiro "autodesarme".
O lance acima não descreve exatamente alguma jogada ocorrida na partida entre Coritiba e Internacional, mesmo que possa conter alguma semelhança. Ela serve na verdade como um raio-x que deflagra o grande problema do Coritiba: um setor ofensivo praticamente inexistente.
É evidente que um clube não passa a maior parte de quase um turno todo do campeonato brasileiro entre as quatro melhores equipes do país, liderando a competição inclusive, e de repente "desaprende" a jogar futebol.
Igualmente evidente é o fato de que tantas e simultâneas lesões foram determinantes para a "quebra de serviço" da equipe ao longo da competição.
Contudo, o fato mais cristalino da queda de rendimento do Coritiba é "contar" com jogadores como Bill, Julio César e Arthur para se apresentarem como as possíveis soluções para estufar as redes dos adversários (pelo lado de dentro, é claro).
Do plantel atual da equipe do Alto da Glória pode-se dizer que há somente dois atacantes com qualidade técnica devidamente comprovada: Keirrison e Deivid - justamente aqueles que não reúnem condições clínicas para resolver o problema lá na frente.
O hipotético lance narrado logo acima mostra claramente que a zaga Alviverde não tem sido o problema da equipe. O milionário time do Internacional, com um ataque "de seleção", foi amplamente controlado defensivamente pelo bom zagueiro Leandro Almeida e, pasmem (eu também me pasmo), o agora zagueiro Chico. À época fui contra sua contratação, fui contra sua renovação (pelo fato de acreditar que na base Coxa-Branca temos zagueiros com a mesma qualidade), mas rendo-me à fase deste tão contestado jogador.
Seria um absurdo não reconhecer que, sem querer comparar, Chico vem fazendo com que a ausência de Emerson não seja sentida na prática (que coisa, quando imaginaria que isso aconteceria?)
Quem dera todos os "erros" se mostrassem "acertos" como nesse caso, quem dera.
O meio-campo Coritibano também consegue cumprir o seu papel, seja no aspecto defensivo com seus volantes, seja na criação com a genialidade de Alex (ainda acho que Lincoln só deixa o garoto Zé Rafael no banco porque goza de "mais nome" e maior salário) e o esforço do também contestado Robinho.
O problema é: o que fazer com a bola quando ela sai da defesa, passa pelo meio campo e precisa chegar com contundência lá na frente? À exceção de Keirrison e Deivid (e agora o recém chegado Vitor Junior que parece cumprir mais a função de meia avançado), qual atleta elencado como "atacante" no site oficial do clube conseguirá resolver a parada?
Várias formações foram testadas pelo treinador Marquinhos Santos (que tenta, dentre todas as possibilidades, encontrar a solução para este problema crônico). Bill e Julio Cesar; Bill e Geraldo; Geraldo e Julio Cesar; Bill e Arthur; Arthur e Geraldo e por aí vai...
Culpa do treinador? Culpa dos atletas? Não, com certeza.
A responsabilidade recai sobre o profissional que avalia e monta o elenco para a temporada. É assim no momento de glória ou, como o é agora, quando ações precisam ser tomadas para a correção da rota.
Por certo que o futebol é recheado de imponderáveis e que contratações que antes pareciam erros crassos (exemplos de Chico e Urso) acabam por se revelar agradáveis surpresas.
O problema é quando se aposta num número muito grande de atletas de poucos recursos técnicos como estes que estão à disposição de Marquinhos Santos para o ataque. Era sabido que o garoto Keirrison não voltaria com a "corda toda" nesta temporada por mais que se torcesse para que isso acontecesse já em 2013.
Da mesma forma que era absolutamente temerário contar somente com Deivid para ser a solução do ataque - as lesões viriam e o Coritiba ficaria órfão de seu "homem-gol".
A carência é tão flagrante que das últimas seis partidas disputadas no Brasileirão, a equipe marcou apenas três gols - um deles anotado por Deivid na vitória contra o Grêmio em Porto Alegre.
Enfim, este é o problema. Importa saber: onde estão as soluções?!
Penso que a troca de comando técnico (como sugerido por muitos) seja um total equívoco neste momento. Marquinhos Santos já demonstrou sua capacidade de bem montar suas equipes, mesmo diante de importantíssimos desfalques, em partidas dificílimas como contra o Cruzeiro, o Grêmio, o Corinthians - todas fora de casa. Equivoca-se? Sem dúvida, mas vejo que de longe seria a tal solução pretendida.
Como mencionado, urgem as contratações para o reforço do setor ofensivo. Aí aparecem dois problemas: a escassez de atletas "disponíveis" no mercado e, talvez daqueles que se apresentem como possíveis soluções, só viriam por muito dinheiro - recurso esse que o clube não dispõe, infelizmente.
Que se registre a tentativa de trazer o atacante Wellinton a qual só não se concretizou porque, tanto o jogador, como seu empresário provaram não terem honra, não terem palavra.
Como descascar esse abacaxi? Contratar quem, a que custo e com qual recurso financeiro?
Reitero, é um problema para ser resolvido com criatividade e arrojo por parte do coordenador de futebol do clube. É a sua função e é ele quem precisa buscar as alternativas viáveis em seu vasto banco de dados.
Até lá, que tal confiar nos jovens talentos das categorias de base? Será mesmo que os garotos Alviverdes são piores tecnicamente do que Bill, Julio Cesar e Arthur?
Aliás, se não confiarmos nos garotos que revelamos (ou se nenhum deles demonstrar ter uma razoável condição técnica) de que adianta investir tanto e cada vez mais nas categorias de base?
Pior que isso é contratar jogadores igualmente jovens, igualmente "apostas" e que na prática ainda requerem um tempo de amadurecimento, tempo este que o Campeonato Brasileiro não permite conceder. Os exemplos clássicos são o meio-campo Emerson Santos e o atacante Arthur. Fosse para apostar nestes atletas, por que não conceder as mesmas chances e a mesma sequência (não aproveitadas) aos garotos que sejam "pinçados" na base?
São estes tipos de contratações que estouram o orçamento e não trazem benefício prático algum. Pelo contrário, trazem sim, trazem prejuízo financeiro, técnico e impede que os garotos que aqui se formaram quase nunca tenham a possibilidade de entrar na equipe, especialmente em momentos não turbulentos.
A realidade é nua e crua: sem dinheiro para "contratar qualidade" e a insistência nestes atletas que vêm apenas entrando em campo para preencher o "onze" não chegaremos a lugar algum.
É preciso fazer um esforço financeiro ainda maior, utilizando-se de criatividade e coragem, na busca de pelo menos um "homem-gol" de verdade e o arrojo para acreditar nos meninos que estão aguardando uma oportunidade por vários anos dentro do clube. Quem sabe a solução não está em casa?
Faço um pedido ao presidente Vilson Ribeiro de Andrade: como democrata que é, ouça os pedidos e ideias que lhe chegam. O trabalho de reconstrução institucional sempre será o seu maior legado, mas acredito que haja espaço para ainda mais sucesso. Mostre-se um bom ouvinte, presidente. Ainda dá tempo de "ajustar a máquina".
União, trabalho e muitos sócios = Coritiba forte e vencedor!
Saudações Alviverdes,
Percy Goralewski
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