
De Torcedor pra Torcedor
O tema é polêmico, mas algumas coisas precisam ser pontuadas.
Os acontecimentos pós 06/12/2009 fizeram-me refletir sobre o papel que o torcedor do Coritiba precisará desempenhar nesta temporada de reconstrução.
Acredito ser desnecessário dizer que o fardo principal deverá ser carregado pelos dirigentes, haja vista serem eles os responsáveis diretos pelas tomadas de decisões.
Os erros administrativos na história centenária do Coritiba são incontestáveis e constantes. Por eles nunca conseguimos alçar voos mais altos, alcançar conquistas expressivas de forma perene.
 
Há um ditado popular que diz: ‘não há bem que sempre dure nem mal que nunca acabe’! Estamos diante deste limite que divide o bem e o mal.
Particularmente sempre expus em minhas colunas a necessidade de termos um clube profissional, gerido com competência e planejamento. Chegou a hora!
A quebra de paradigma, por certo, não se dará de forma que não cause traumas, afinal, está se passando por uma transformação de conceitos e de atitudes.
Sacrifício é a palavra que melhor conceitua o processo de transformação pelo qual o Coritiba parece estar passando no momento.
Sacrifício de seus dirigentes – tentando administrar um clube que há muito se encontra em frangalhos por seus próprios erros (de TODOS os dirigentes que no poder estiveram) e sacrifício de seus torcedores que precisam entender que seu papel, nesta nova dinâmica, vai muito além de simplesmente ver o clube como um local onde encontra diversão por 90 minutos.
Sabe-se que o futebol moderno se tornou um negócio altamente lucrativo. Se antes os clubes podiam se considerar como ‘centros de lazer’, hodiernamente transformaram-se em locais onde altas cifras são negociadas. O torcedor ‘comum’ de outrora, passou a assumir um papel de ‘consumidor’ do ‘produto’ futebol que estes mesmos clubes lhe oferecem.
Tal evolução, de certa forma, tira a graça do esporte? Tira, mas é a nova ordem que está posta e que não retrocederá.
É diante desta nova realidade que precisamos nos posicionar.
O caso do Coritiba é emblemático. O clube se depara com esta realidade no pior momento de sua história e por isso, o sacrifício precisa ser ainda maior – de dirigentes e de torcedores.
A nova política de preços e planos de sócios adotada pelos atuais dirigentes coritibanos sofre de uma dualidade de conceitos – se por um lado, absolutamente necessária, por outra (motivada por este momento crítico da história Coxa Branca), encontra aversão por parte de muitos de seus torcedores.
Citarei apenas três pontos positivos e negativos desta nova ordem para que a reflexão ganhe forma:
Pontos positivos: 1) possibilidade do clube contar com receita certa e perene; 2) possibilidade do associado em participar da vida política do clube – demonstrando sua aprovação/desaprovação quanto à gestão, por intermédio do voto e 3) legitimação do associado quanto às cobranças, pelas vias legais (Estatuto), que entenda cabíveis quanto à administração do clube.
Quero me ater aos pontos negativos para estabelecer o debate: 1) alto custo do valor do ingresso avulso ou dos planos de associados; 2) time rebaixado e perda de mandos de campo para a próxima competição e 3) ojeriza ao presidente Jair Cirino dos Santos e a consequente argumentação de que sua continuidade na presidência do clube é um dos principais entraves para que os torcedores se associem.
Eis alguns contrapontos:
Com relação ao custo: dentro da tendência moderna do ‘negócio’ futebol, qual seria o valor adequado para financiar uma administração planejada e responsável?
As antigas bilheterias, somadas às vendas de jogadores e alguns patrocínios compunham a receita que o clube dispunha para cumprir suas metas a cada temporada. 
Atualmente, tal incerteza não guarda relação com a forma pela qual os clubes precisam ser geridos, afinal, como planejar metas, com receitas tão variáveis? Como planificar os gastos e investimentos necessários para a montagem de um elenco forte, se não se tem a certeza de qual orçamento estará disponível?
Como se isto não bastasse, é preciso que se estabeleçam alguns comparativos do ‘produto’ futebol com outras formas de lazer: Quanto custa hoje uma ida ao cinema, ao teatro ou a um restaurante?
Em verdade, estamos acostumados a ver o clube como o local onde vamos ver a partida de futebol e só. Não pode mais ser assim! Temos que nos sentir parte efetiva do clube, seja nas arquibancadas, seja nos destinos da instituição como um todo.
Dias atrás, conversando com um amigo ouvi a seguinte frase: 
“Nossa, está muito caro o ingresso”!
Contrapus:
“É o mesmo valor que se paga para ser SÓCIO”!
Em resposta: 
“Ah, mas continua sendo muito caro, não vou a todos os jogos mesmo”!
Em seguida questionei se o amigo tinha namorada... surpreso com a mudança repentina de assunto, disse que não! Conclui que ele deveria sair muito na noite curitibana – suposição por ele confirmada, novamente o questionei:
“Quanto você gasta, por NOITE, em cada uma dessas saídas”?
Sem pestanejar, disse: 
“Uns duzentão”!
Esta conversa me fez verificar que tudo na vida se resume às prioridades. A dele é sair à noite e ‘gastar duzentão’, a minha é ajudar o Coritiba (o clube do meu coração) a sair deste atoleiro – e, claro, ter a legitimidade de cobrar por aquilo que não entender correto, tudo dentro do mais alto respeito ao livre arbítrio de cada um.
Por óbvio que os planos oferecidos pelo clube carecem de alguns ajustes e cito dois exemplos: a criação de um ‘Plano Família’ que preveja descontos para a adesão de todo um contingente de uma mesma residência, pensando no impacto que tal associação em massa causa no orçamento familiar e a valorização do associado à distância – aquele que não estará presente a todos os jogos, mas que também deseja participar da reconstrução do clube, desde que sua contribuição se dê de forma proporcional aos benefícios de que não pode dispor a todo instante, sendo o principal, a presença nos estádios por onde o Coritiba vir a jogar.
Quanto ao rebaixamento e a perda de mandos: já escrevi em uma de minhas colunas: o Coritiba caiu em 2005, voltou em 2007 e nada mudou. Quero crer que a nova queda de 2009 seja a última e com ela, as transformações que o clube tanto necessita sejam definitivamente implementadas.
O fato do clube disputar a Série B mais uma vez não deve ser suficiente para afastar seu torcedor, pelo contrário, por se tratar de um ano de sacrifício, como acima comentado, esta agrura deve se transformar em estímulo para carregar o Coritiba nos braços, reconduzindo-o ao seu lugar de direito.
'Ser' Coxa Branca quando o clube está na primeira divisão, enfrentando um Internacional numa semifinal de Copa do Brasil é ‘fácil’. O ‘difícil’ é estar ao lado (efetivamente) do clube num momento de tanta desilusão como o experimentado após o final do ano passado.
“Ah, mas o Coritiba não jogará em seu estádio e eu não poderei assistir aos jogos, então, não vou me associar”! Não sei se para os amigos leitores a interpretação é a mesma, mas para mim nada soa mais egoísta do que este pensamento. Ser sócio, como disse, presume um conceito muito maior do que ‘simplesmente’ assistir o time do coração em campo.
Além disso, em termos práticos, gostaria de saber como ficariam as coisas se TODOS pensassem assim. O que seria do Coritiba neste período em que jogará em Joinville, se ninguém revertesse aos cofres do clube os parcos recursos que servirão para cobrir todos os prejuízos advindos da barbárie?
Teríamos o Coritiba ainda ‘vivo’ na sua volta para casa?!
Deixo uma analogia para reflexão: os associados do (clube) Santa Mônica, por exemplo, pagam suas mensalidades somente nos meses de verão, quando desfrutam das piscinas ou quando frequentam os bailes promovidos pelo clube? No resto do ano, por não gozarem dos benefícios inerentes aos sócios, sentem-se ‘anistiados’ da obrigação de saldar suas mensalidades, deixando a grama crescer, as piscinas sujas e os salões empoeirados até a próxima temporada?!
Em relação à continuidade do presidente Jair Cirino: julgo ser o argumento de maior fragilidade.
Questiono de forma hipotética (mas que se busque soluções de ordem real): imaginemos que o presidente Cirino e sua diretoria deixe o clube, atendendo ao clamor popular. Quem assumiria? Quem, hoje, teria a coragem de tentar reerguer o clube?
Lembremo-nos que acabamos de sair de um processo democrático (não tanto por se tratar da famigerada eleição indireta). Por que só tivemos UMA chapa inscrita? Onde estavam todos aqueles que poderiam recolocar o clube nos trilhos, mas que não se deram ao trabalho de, ao menos, ‘bater chapa’?!
Não sou ‘Gigizete’, ‘Cirinete’, ‘Morete’, ‘Viallete’ ou ‘Vilsete’ como muitos gostam de denominar os demais. Contudo, neste momento, só posso acreditar nestes homens que estão no poder e fazer a minha parte que é apoiar o time em campo, pagar minhas mensalidades, no momento oportuno votar naquilo que a minha consciência determinar como o melhor para o clube e constantemente cobrar dos atuais dirigentes as ações que, como torcedor, entenda ser as melhores para o engrandecimento da instituição.
Tem horas que é preciso deixar a emoção, o rancor, o desalento de lado e tentar focar em algo que possa nos levar a um destino glorioso.
Enganam-se, no entanto, aqueles que acreditam que esta retomada será alcançada sem sacrifícios, sem ‘sangrias’, não há como!
Colocar o Coritiba na Série A, por si só, não é um dos desafios mais difíceis. Difícil mesmo é voltar para a Série A com uma estrutura administrativa diferente, nova, desafiadora e acima de tudo profissional.
Quero correr mais uma vez o risco de acreditar em tudo o que está sendo feito por estes novos dirigentes (esqueçam a figura do presidente Cirino, quem manda no clube, e todos sabem, é o Dr. Vilson Ribeiro de Andrade).
Quero dar-me o direito de mais uma vez errar, se for o caso, mas jamais me sentirei em paz se virar as costas para o clube, esperando que ele, por si só, alcance o sucesso que espero.
Gostaria de conclamar todos os torcedores Coxas Brancas que queiram fazer parte de uma nova história a se sacrificarem (dentro das possibilidades pessoais de cada um, é claro) em nome de algo comum a todos nós: o Coritiba!
Associem-se! Oportunizem-se cobrar legitimamente por novos resultados.
Lembrem dos ideais dos Essenfelder e de tantos outros fundadores do clube do Alto da Glória e verifiquem que a ferramenta a disposição dos torcedores – para a construção de um novo Coritiba, é a adesão ao quadro associativo.
Qualquer sacrifício é válido para resgatar aquilo que tanto amamos.
Se antes 'só' a torcida parecia ser suficiente para consolidar um clube vencedor, diante de todas as dificuldades, precisamos inaugurar a era de uma nova denominação: Os SÓCIOS que Nunca Abandonam!
Lembrem-se: os atos praticados por cada um de nós comporão a história que será contada para nossos descendentes!
União, trabalho e muitos sócios = Coritiba forte e vencedor!
Saudações Alviverdes,
Percy Goralewski
A opinião dos colunistas não refletem, necessariamente, a opinião do site.
Cada colunista tem sua liberdade de expressão garantida e assinou um termo de uso desse espaço.
Para que a minha glória a ti cante louvores, e não se cale. Senhor, meu Deus, eu te louvarei para sempre. (Salmos 30:12)