
De Torcedor pra Torcedor
Ao sair derrotado do gramado do Estádio Couto Pereira na noite da quinta-feira, 26/04, o jogador Harison do Paysandu disse:
"Mas tem o jogo de volta, com o apoio da nossa torcida que é bem maior que a daqui, a gente espera conseguir o resultado..."
Interrompido pelo jornalista Dorival Chrispim, o atleta bicolor fora questionado com base em que podia afirmar que a torcida no time paraense era maior que a do Coritiba, iniciando-se, assim, um diálogo em que o "menosprezo" ou "desrespeito regional" pareceu ser a tônica.
Voltando para um ambiente plausível, tenho a clara impressão que o jogador pensou na seguinte frase: "Mas tem o jogo de volta, com o apoio da nossa torcida que provavelmente estará em maior número nas arquibancadas, se comparada àqueles que aqui estiveram nesta fria e chuvosa noite, a gente espera conseguir o resultado...", porém, provavelmente movido por uma possível carência de articulação de ideias, acabou por mal se expressar, criando a polêmica.
Da parte do jornalista, a repercussão se deu por um simples fato: Dorival Chrispim não costuma ocupar o lugar comum das entrevistas e quase sempre faz as perguntas que os atletas, treinadores ou dirigentes não querem ouvir, mas que os torcedores esperam que sejam feitas.
Chrispim reportou e questionou aquilo que o jogador disse, não o que provavelmente tenha pensado em falar. E agiu bem, afinal o jornalista tem que atuar em sintonia com a notícia, expondo-a tal e qual fora manifestada por seu autor.
O problema maior se iniciou quando, tanto o atleta, quanto dirigentes e torcedores do clube paraense, agindo como que avalizando a infeliz declaração do jogador, criaram e alimentaram a impressão de que nós, os paranaenses, principalmente na pessoa do repórter em campo, estaríamos "desdenhando", "menosprezando" ou "diminuindo" a importância daquele tradicional clube do norte do país.
Como nós paranaenses faríamos isso, sendo algo do qual volta e meia somos vítimas e que dispensamos tanta ojeriza?
Lamentavelmente e de forma perigosa, o site oficial do Paysandu divulgou a notícia por meio da qual destacou o ocorrido, ressaltando o "desentendimento" entre o jogador e o jornalista, repetindo a dose na manhã deste dia 03 - um expediente perigoso e conveniente, a meu ver.
Perigoso na medida em que inflama a sua torcida, não para acompanhar uma partida decisiva de futebol, mas para uma oportunidade de "revide" para a "agressão regional" supostamente sofrida. Embora não acredite nesta bobagem (qualquer tipo de "revide"), lamento profundamente o clima hostil e desnecessário que foi criado para esta partida.
Por outro lado, além da questão "regional", este clima esconde uma outra faceta: a da conveniência.
Sabe-se que, não só pelo placar de 4x1 construído pelo Coritiba na primeira partida disputada por ambas as equipes, há uma vantagem técnica existente em favor da equipe paranaense - creio que isso seja um consenso. Seria então esse "fato novo", o chamado "desmerecimento paranaense" um ingrediente motivacional capaz de igualar as ações e impedir a classificação Alviverde?
O discurso que tomou conta da capital paraense soa-me como um verdadeiro placebo, uma cortina de fumaça com a qual tanto o triunfo como o fracasso já contam com um lugar comum para suas explicações.
Engana-se, contudo, quem imagina que este expediente está sendo utilizado somente pelos adversários bicolores. Aqui mesmo em solo paranaense esta prática é habitualmente utilizada pelos rubronegros e já há um bom tempo se resume a uma palavra: arbitragem.
Não é de hoje que o placebo atleticano ganhou a forma de Heber Roberto Lopes, Evandro Rogério Roman ou qualquer outro árbitro que não seja o condutor de uma vitória em vermelho e preto.
A velha e repetida desculpa de atribuir à arbitragem um resultado que facilmente pode ser experimentado numa partida de tão grande rivalidade chega às raias da insanidade, como se tais erros fossem cometidos somente em desfavor do time rubronegro.
Assim como ocorreu no episódio Harison/Chrispim, este problema ganha nova dimensão quando passa das calorosas rodas de discussões entre os aficcionados pelo esporte para o gabinete do presidente do clube. Transformar o imponderável e erros que ocorrem em detrimento das equipes em justificativas para reiterados reveses é uma atitude absolutamente lamentável, além de incompatível com a susposta grandeza decantada pelo mandatário que afirma presidir um clube "campeão mundial em 10 anos".
Será mesmo que acreditam que tantos e recentes fracassos em clássicos se devam única e exclusivamente aos erros de arbitragem? Por acaso não lembram que ganharam um campeonato recentemente graças a uma bola que bateu na parte de fora da rede? Esquecem que perderam um campeonato em casa, num empate em 3x3, com uma das mais absurdas arbitragens que se viu em campos paranaenses, naquela oportunidade conduzida por Marcos Tadeu da Silva Mafra?
Acreditam mesmo que Heber Roberto Lopes favorece o Coritiba? Não devem conhecer ou empurram para debaixo do tapete o seu dossiê de erros cometidos contra o clube do Alto da Glória. O mesmo pode se dizer do histórico de Evandro Rogério Roman.
Esperneiam e pedem árbitros de fora do Paraná como se isso fosse a solução para os seus problemas. Patético.
Árbitros de fora ou deste Estado se mostram no mesmo nível técnico/disciplinar lastimável - capazes de, na mesma medida, cometer os mais absurdos erros durante os 90 minutos (reflexo da não profissionalização desta classe).
Em verdade, pouco importa quem serão os árbitros das finais. Sejam quem for já estarão vindo pressionados - um absurdo.
É evidente que num esporte tão dinâmico como o futebol, tanto um resultado inesperado em Belém ou a perda do tricampeonato estadual são dois acontecimentos que o Coritiba não está livre de experimentar.
O problema é este desvio de foco. Saímos do esporte e vamos para o submundo das desculpas esfarrapadas que tanto tiram a graça do futebol.
Como torcedor, entendo a indignação de um erro fatal da arbitragem (como ocorrera na final da Copa do Brasil do ano passado, quando Sálvio Spínola Fagundes Filho deixou de assinalar um pênalti claro em cima do atacante Leonardo) - eu mesmo já me insurgi contra alguns deles por diversas oportunidades neste espaço, mas atribuir sempre à arbitragem a culpa pelo fracasso é esconder de si mesmo as deficiências apresentadas pela equipe para a qual se resolve torcer.
Que o time Coxa-Branca esteja mentalmente preparado para as três batalhas que se avizinham, a primeira delas nesta quinta-feira em Belém do Pará.
Todo cuidado é pouco.
Boa sorte, Verdão.
União, trabalho e muitos sócios = Coritiba forte e vencedor!
Saudações Alviverdes,
Percy Goralewski
facebook
twitter.com/percycoxa
A opinião dos colunistas não refletem, necessariamente, a opinião do site.
Cada colunista tem sua liberdade de expressão garantida e assinou um termo de uso desse espaço.
Para que a minha glória a ti cante louvores, e não se cale. Senhor, meu Deus, eu te louvarei para sempre. (Salmos 30:12)