
De Torcedor pra Torcedor
Volta e meia nos transportamos ao passado, até como uma forma de estabelecer um parâmetro de conduta, buscando sempre um aprimoramento seja como pessoa, cidadão e porque não dizer como torcedor de futebol.
Revendo os arquivos com os textos que havia mandado para a Seção Fala COXAnautas, nos idos de 2007, deparei-me com um deles, intitulado Tempos e Tempos – Nós voltaremos a ser GRANDES. Naquela narrativa, expus o sentimento de angústia e desesperança diante do quadro vivido pelo clube, tentando acreditar que dias melhores poderiam 'sorrir' para a grande torcida Coxa-Branca.
Aos amigos que me conhecem ou concedem-me a honra de tê-los como leitores, nunca foi nenhum segredo a postura de crítica que dispensei ao ex-presidente Giovani Gionédis - tudo porque jamais aceitei o fato do dirigente mais importante do clube partir para o 'confronto' com a sua própria torcida. Certo ou errado é a forma como penso e nunca a escondi de ninguém.
Pouco menos de quatro anos se passaram, muitas coisas aconteceram com o Coritiba - glórias e desgraças marcaram algumas outras páginas da história Alviverde e é impossível não reconhecer que o clube finalmente voltou a figurar entre os 'GRANDES', como desejara em maio de 2007.
Falar sobre dirigentes nunca foi fácil, primeiro porque alguns menos desavisados podem imaginar que 'quero fazer política'. É preciso que se registre que jamais fiz parte de qualquer corrente política dentro do clube, mesmo que isso seja de difícil compreensão para uma pequeníssima parte de torcedores Alviverdes. Aliás, contrariando as sugestões de alguns amigos, nunca participei das disputas por uma das cadeiras do Conselho Deliberativo do clube - esta experiência certamente encontrará a hora certa para acontecer.
Tentando descontrair, sempre digo que tenho sim uma posição política dentro do Coritiba, a da "endireita". Independente de seu nome, o dirigente que se dispuser a conduzir o Coritiba com dignidade, honradez, trabalho e obstinação terá sim a minha aprovação, pois sua conduta poderá se materializar no sucesso da instituição – o que todos almejamos, em última análise.
Seguindo esta tendência, não há motivos para deixar de reconhecer no atual vice-presidente do Coritiba aquela figura que faltava ao clube - os resultados falam por si. Não há dúvida que depois da catástrofe de 06/12/2009, Vilson Ribeiro de Andrade se dispôs a 'endireitar' o clube e o êxito de seu intento é incontestável.
Contudo, creio que o excepcional momento vivido pelo Coritiba encontra 'explicações' numa grande conjunção de fatores que vão muito além do belo trabalho realizado pelos atuais dirigentes.
O ponto de partida, a meu ver, encontra guarida na evolução da própria política que envolve o clube. Historicamente sempre presenciávamos dirigentes buscando um lugar ao sol com o claro propósito de massagear seu próprio ego, num circo de vaidades pessoais sem fim. O mal que afligia o clube era cíclico: aquele que estava fora do poder torcia pelo insucesso de seu adversário para poder lhe 'tomar' o cargo no pleito seguinte. Esta inconcebível rotina sempre prendeu o Coritiba ao chão.
Após tanto tempo perdido, tantas oportunidades de toda a coletividade Alviverde experimentar um clube novamente forte, eis que o atual momento parece ter quebrado com a insana regra.
Como mencionei, fui um severo crítico da postura de Giovani Gionédis. Mesmo de longe, hoje reconheço em sua introspecção uma das causas de viabilidade do bom momento. Nem mesmo quando viu seu sucessor - João Carlos Vialle -, perder a última eleição aberta aos sócios por apenas um voto ou quando o Coritiba foi rebaixado no ano de seu centenário, voltou à cena para conturbar o ambiente. Palmas para esta forma de conduta, afinal, não conturbar o ambiente que já se encontrava em ebulição foi uma contribuição significativa para a evolução do processo democrático Coritibano.
Esta evolução na forma de pensar a política Alviverde não pode cessar. É preciso que toda a coletividade Coxa-Branca entenda de uma vez por todas que as vaidades pessoais precisam ser colocadas à margem do sucesso do bem maior - a instituição. Doravante, uma dose de altruísmo não fará mal a ninguém.
Outro aspecto que se mostra fundamental no processo de transformação do clube é a seriedade com a qual o mesmo vem sendo gerido.
Esta mesma seriedade que começa a chamar a atenção de cronistas esportivos, jogadores, treinadores e demais profissionais que integram o mundo do futebol.
A entrevista concedida por Vilson Ribeiro de Andrade ao programa Camarote PFC é um exemplo de como a boa impressão causada pelo 'novo' Coritiba é capaz de deixar atônitos todos aquele que imaginavam que o dia 06/12/2009 marcaria a 'morte' do clube do Alto da Glória.
Com um depoimento simples, objetivo, carregado de informações precisas, Vilson conseguiu deixar a melhor das impressões àqueles que acompanham o futebol brasileiro, mostrando que com organização, trabalho e profissionalismo, não há barreiras que não possam ser suplantadas.
A permanência de jogadores que optaram por assinar vínculos de dois, três anos com o Coritiba é outro ingrediente e também reflexo deste sucesso. Tendo como base inúmeros exemplos recentes de jogadores que preferiram sair do clube ao final (ou até mesmo antes) de seus contratos, alguém imaginaria um jogador da qualidade de um Rafinha ou Léo Gago - só para citar dois exemplos -, que escolheriam se desvincular do São Paulo Futebol Clube/SP ou preterir um outrora badalado Vasco da Gama/RJ para permanecer no Coritiba?!
A opção de Ney Franco em permanecer no clube mesmo depois da maior tragédia de sua história, reconduzindo-o no menor espaço de tempo à elite do futebol brasileiro e o belo trabalho desenvolvido por Marcelo Oliveira no comando técnico do 'time sensação' de 2011 exemplificam o quanto o clube se organizou para enfrentar seus mais difíceis obstáculos.
O que dizer, então, da decisão tomada por Felipe Ximenes que, mesmo assediado pelo sempre forte Grêmio/RS ou pelo abastado Fluminense/RJ (leia-se Unimed), preferiu continuar capitaneando um projeto que ele mesmo ajudou a construir? Aliás, a permanência de Ximenes à frente do cargo de coordenador de futebol é uma prova inequívoca da organização e do planejamento em busca de resultados positivos que há muito tempo não se via no Alto da Glória.
Seriam Sinais dos tempos?!
Será mesmo possível termos um Coritiba 'GRANDE' novamente?
Será que finalmente aprendemos cada qual com nossos erros, podendo ser humildes o suficiente para reconhecer o que de bom está sendo feito para resgatar a auto-estima Coxa-Branca?
Será que com um novo conjunto de leis (mesmo distante de um modelo ideal) e com uma disputa política mais racional/menos passional poderemos acreditar que o Coritiba nunca mais retroagirá?
Confesso acreditar neste novo tempo, contudo, nunca foi tão importante que cada um de nós continue ou passe a fazer pequenos sacrifícios individuais para incrementar esta nova realidade em que estamos inseridos.
Com a proximidade do encerramento do campeonato estadual e a real possibilidade de conquista do 35º troféu para a galeria Coxa-Branca, das demais fases da Copa do Brasil e do início do Campeonato Brasileiro, ao lado do excelente retrospecto alcançado até aqui na temporada – o melhor do país, não vejo muitos motivos que impeçam os torcedores mais desconfiados a procurarem o clube para integrar o quadro social.
É chegada a hora da somatória de todas as forças disponíveis para evitar que novos ares soprem no Alto da Glória, levando consigo esta fase que há tempos almejávamos.
União, trabalho e muitos sócios = Coritiba forte e vencedor!
Saudações Alviverdes,
Percy Goralewski
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