
De Torcedor pra Torcedor
Decorridas pouco mais de 48 horas após a tragédia que assolou o Coritiba, confesso que a cabeça, a mil, pensa em várias coisas simultaneamente, tenta buscar respostas, prever consequências dos atos insanos praticados por seres bestiais, visualizar uma nova força que possa segurar o clube pela mão, antes que afunde no mar de lama em que foi atirado por dirigentes (há vários anos, há várias gestões) e por vândalos (que há tempos davam mostras de beligerância explícita, não combatidos pelas autoridades públicas e pelos dirigentes coritibanos).
Tenho certeza que a queda para a segunda divisão é ou será a última 'ficha' que cairá em cada um de nós, torcedores! Estamos anestesiados, estamos tentando reunir forças para centrar os pensamentos e nos ampararmos numa ponta de esperança, qualquer ela que seja.
Nossas preocupações maiores ficam a cargo do trauma que a violência deixou nas milhares de crianças, senhoras, senhores, pais de família, pessoas de bem que, atônitas, choravam não tanto pelo rebaixamento, mas pela agressão estúpida e desmedida dirigida à honra (além da integridade física, por certo) de toda a coletividade Alviverde, e também da falta de uma nova ordem, de uma nova perspectiva diretiva que porventura pudesse surgir no clube!
Tentando fazer uma análise um pouco mais pontual acerca dos temas que circundam o presente, mas, especialmente, o futuro do Coritiba, começo abordando a hipocrisia instaurada na mídia brasileira.
Se tem uma coisa ainda mais lamentável do que a barbárie praticada pelos acéfalos 'torcedores', é a forma como os desdobramentos desta insanidade está sendo conduzida por autoridades desportivas e canais de comunicação.
Parece que o que houve no Couto Pereira foi um fato isolado capaz de inaugurar uma comoção de proporções mundiais, ou como se algo parecido, ou até mesmo pior, nunca tivera acontecido no Paraná, no Brasil ou no resto do planeta.
Vejamos o caso dos adversários locais, por exemplo. A história dá conta de mostrar que o Coritiba sempre foi o clube a ser batido em terras paranaenses. Não haveria nada de errado, se as coisas se resolvessem somente dentro de campo, como o foi até este domingo. Agora, alguns bestiais torcedores rivais, tão bestiais quanto os vândalos vestidos de verde e branco, clamam por 'justiça', como se fossem 'anjos de candura'! Já li frases do tipo: "VIVA O COXA "VCS SÃO A VERGONHA NACIONAL" CONSEGUIRAM SER NOTICIÁRIO MUNDIAL. TEM QUE SOFRER PUNIÇÕES SEVERAS"!, como se nossos adversários tivessem alguma legitimidade para querer atirar a primeira pedra (com o perdão do trocadilho) - PURA HIPOCRISIA.
Em termos locais, esta transformação de todos em verdadeiros juízes até se justifica, pois os rivais estão diante de uma oportunidade ímpar: ver o fim do Coritiba fora de campo, e, por conseguinte, livrarem-se da condição de coadjuvantes do futebol paranaense, até porque dentro das das quatro linhas, os números falam por si mesmos.
O que surpreende, no entanto, é o esforço nacional para extirpar o clube do Alto da Gloria da face da terra. Quando pensávamos que as imagens que assistimos no domingo eram as maiores provas da total degradação de conceitos, vemos que a hipocrisia generalizada pode ser ainda mais nefasta.
Não seria irresponsável em querer tentar desviar o foco das responsabilidades de cada um. Além de inevitável, que se punam os verdadeiros culpados, na exata medida de suas culpabilidades.
O que não dá para aceitar é quererem transformar a instituição Coritiba Foot Ball Club em bode expiatório, em 'exemplo' para o mundo! Não coaduno e não admito impunidade, mas exijo, como cidadão, que as garantias constituicionais do devido processo legal, da ampla defesa, do contraditório e tantos outros mais sejam respeitados.
O Coritiba não será julgado pela mídia, como pretendem, até porque não foi ele (Coritiba), nem a sua verdadeira torcida que cometeram os atos de selvageria. Que se investigue, identifique, processe e puna exemplarmente cada um dos marginais que adentraram ao gramado do estádio Couto Pereira e promoveram a desordem!
Ao Coritiba que sejam aplicadas as penas da lei vigente, sem 'interpretações' analógicas mirabolantes, inovadoras ou únicas. Não assistiremos calados a composição do Tribunal de Exceção que querem instituir para julgá-lo, como se esta instituição representasse todos os 'males do mundo'!
Querem pré-julgar o clube? Questiono: por que a Rede Globo de Televisão não dispensa um espaço sequer em sua programação para 'informar' seus telespectadores que três pessoas morreram nas comemorações do título brasileiro conquistado pelo Flamengo? Dois pesos e uma medida? Por que?
Por que o STJD e seu procurador-geral (que deveria se considerar suspeito para conduzir esta denúncia que certamente virá, porquanto torcedor do C. A. Paranaense) sequer cogitam a mesma punição exemplar ao time da Gávea - o queridinho desta mesma rede de TV?
A barbárie no Couto Pereira, se chocante, principalmente por ter sido dentro do estádio, teve como desfecho um saldo menos trágico do que aquele que decorreu das brigas ocorridas no, pasmem, Leblon, onde TRÊS VIDAS SE PERDERAM.
Não vou ser 'advogado do diabo', nem tampouco pretendo 'aliviar a barra' do time que torço, mas não vou admitir calado que a guilhotina seja preparada somente para o pescoço do Coritiba, como que se cortando a sua garganta, acabariam-se todos os problemas de violência no esporte.
Sou absolutamente a favor da apuração de todos os fatos, da investigação correta das falhas de segurança, da apreciação das provas que porventura possam existir a favor do CLUBE. Sendo medida de justiça, que se imponham penalidades, mas que estas não sejam aplicadas somente ao clube paranaense, deixando impunes todos aqueles que, tal qual ocorrera no estádio coritibano, promoveram, promovem ou ainda promoverão cenas deploráveis e repugnates.
A hipocrisia, como dito, é ainda mais nefasta que a violência aqui verificada.
Espero que acima dos desatinos promovidos pelos 'deuses da justiça desportiva' deste país, a Constituição da República não seja rasgada, ceifando do clube a possibilidade de um julgamento verdadeiramente jurídico, afastando-o do sensacionalismo hipócrita e conveniente promovido por toda uma mídia ávida pelo sangue alheio.
União, trabalho e muitos sócios = Coritiba forte e vencedor!
Saudações Alviverdes,
Percy Goralewski
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