
De Torcedor pra Torcedor
Na noite fria e chuvosa de 24 de julho de 2007, 5.233 torcedores pagaram ingresso para ajudar o Coritiba a alcançar uma histórica virada contra a Ponte Preta, no Couto Pereira, em partida válida pela segunda divisão do Campeonato Brasileiro.
Na noite de ontem, 13.775 torcedores fizeram o mesmo e acompanharam uma nova vitória Coxa-Branca frente à macaca no mesmo estádio, agora pela primeira divisão do Campeonato Brasileiro. A chuva desta vez foi de gols: 5x3 para o time do Alto da Glória.
Naquele ano o público pagante médio do Coritiba foi de 17.377, enquanto que a deste ano foi de 17.458 até aqui.
À primeira vista, a tendência é afirmar que os números se assemelham, especialmente no que se refere à média de público pagante. No entanto, alguns outros apontamentos precisam ser analisados.
Em 2007 o Coritiba teve alguns excelentes públicos (pagantes) nas partidas disputadas no Alto da Glória: 32.604 torcedores em 03 de novembro no empate em 2x2 contra o Vitória; 32.786 torcedores em 12 de outubro na vitória por 1x0 diante do Criciúma e o maior daquela competição: 38.689 em 16 de novembro na derrota por 2x3 diante do Marília.
Na atual temporada estes foram os públicos (pagantes) do Verdão: 13.775 torcedores em 31 de julho na vitória por 5x3 diante da Ponte Preta; 15.981 torcedores em 26 de maio na vitória por 2x1 diante do Atlético/MG; 16.420 torcedores em 28 de julho no empate em 1x1 diante do Vitória; 17.306 torcedores em 06 de junho na vitória por 2x1 diante do Fluminense; 19.902 torcedores em 14 de julho na vitória por 1x0 diante do Atlético/PR e 21.364 torcedores em 09 de junho na vitória por 1x0 diante do Náutico.
As diferenças, então, começam a se acentuar. A diferença entre os melhores públicos pagantes de 2007 e 2013 é de expressivos 17. 325 torcedores.
E não param por aí.
Se em 2007 o objetivo era deixar a maldita segunda divisão para trás e voltar a integrar a elite do futebol brasileiro, agora a briga é pelo título do Brasileirão.
Além disso, por estar numa situação totalmente desconfortável (a segundona), o comportamento dos torcedores era muito mais intenso na busca de alcançar o objetivo. Em todos os setores do estádio era possível ouvir o "Ah, vamos subir Coxaaaa", agora, como na partida de ontem, praticamente os ocupantes do setor da arquibancada é que buscaram entoar seus cânticos enquanto os demais setores preferiam assistir a partida.
Sou associado do setor Mauá e posso atestar: à exceção de alguns momentos de pressão do Coritiba dentro das quatro linhas, quando alguns se animavam a cantar, a impressão que tinha era de que estava numa verdadeira geladeira (e não me refiro ao clima típico do inverno curitibano).
Como se isso não fosse suficiente para evidenciar que a torcida esá devendo, há o "simples" fato de que aquele sonho antigo da torcida se materializou: o retorno do Menino de Ouro, Alex - fato que por si só deveria lotar o Couto Pereira.
Confesso que não consigo aceitar o patético público pagante da noite de ontem. Estamos diante talvez de uma única chance de disputar ponto a ponto a liderança de um campeonato (que poderá nos dar o direito de bordar uma segunda estrela dourada na camisa) e tantas e tantas pessoas simplesmente preferem manter suas nádegas no sofá por pura incredulidade ou desinteresse.
Estão esperando mais o quê? Que cheguem as 32ª, 33ª, 34ª rodadas para verem se o time manteve sozinho o mesmo rendimento para correr até a Central de Sócios e, numa atitude absolutamente conveniente, tentar se associar para acompanhar o "filet mignon"?!
Pode-se argumentar quanto ao preço absurdo dos ingressos avulsos. Eu concordo, são absurdos. No entanto, há planos de associação razoáveis colocados à disposição dos torcedores, tem havido diversas ações por parte do Departamento de Marketing do clube na tentativa de sensibilizar estes mesmos torcedores e, acreditem: nem mesmo os reiterados apelos do craque Alex (aquele jogador que até pouco tempo não passava de um sonho) têm sido capazes de despertar aqueles que insistem em permanecer letárgicos.
As exceções correm por conta daqueles torcedores que, por sua condição individual e familiar, não reúnem possibilidades financeiras para se juntar a essa jornada por conta de seus salários incapazes de garantir seu lazer (direito previsto na nossa Constituição, inclusive) ou daqueles torcedores que residam em locais diversos de Curitiba e Região Metropolitana (não sendo poucos aqueles que mesmo impedidos geograficamente de freqüentar o estádio, contribuem com o clube na condição de associados).
Não adianta, não há conquista sem sacrifício (seria mesmo um sacrifício ir ao Couto Pereira para ver Alex e Cia disputar rodada após rodada o título do Brasileirão?), sem que cada qual verdadeiramente passe a acreditar que a sua participação em maior ou menor escala poderá ser o diferencial entre "ficar pelo caminho" ou "explodir de alegria" pela tão sonhada conquista.
Parece-me no mínimo injusto cobrar de jogadores e comissão técnica um melhor desempenho num estádio com tantos espaços vazios e calados. É indiscutível que o apoio aos atletas, como aquele de 2007, ajuda por demais para que cada um se doe e se esforce ainda mais dentro das quatro linhas.
Não será com omissão, preguiça, desinteresse em boa parte da competição por pura conveniência ou transferência de responsabilidades que o sonho do Bicampeonato Brasileiro se materializará!
Então, TODOS ao Couto (dispostos TAMBÉM a cantar sem parar).
Em 2007 a realidade era esta (quanto avanço, quanta diferença) e o estádio pulsava assim:
União, trabalho e muitos sócios = Coritiba forte e vencedor!
Saudações Alviverdes,
Percy Goralewski
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