
De Torcedor pra Torcedor
Alguns dias antes da estreia do Coritiba no Campeonato Brasileiro houve uma reunião entre o Superintendente de Futebol do clube, Felipe Ximenes, o craque Alex e cerca de 80 torcedores.
Os assuntos discutidos neste encontro já foram alvos de inúmeros posts, seja neste mesmo portal, seja nas mais diversas redes sociais, sendo de conhecimento público, portanto.
Da reunião surgiu um movimento que foi denominado "Revolução Verde" - o que causou e ainda vem causando um tremendo alvoroço nestes mesmos canais de interatividade.
Talvez por não ter sido suficientemente explicado no que consiste a tal "Revolução", um fenômeno até mesmo involuntário surgiu entre os torcedores Coritibanos: seu "entrincheiramento".
De um lado os "revolucionários", de outro aqueles que acham que qualquer iniciativa desta natureza é pura perda de tempo, massa de manobra, cortina de fumaça e por aí vai, os chamados "cornetas". .
Vou expressar o que eu entendo pelo tal movimento, não sem antes tecer uma breve contextualização da história recente da torcida Coxa-Branca.
É fato incontestável que o Coritiba começou seu processo de transição da gestão amadora para a profissional com o então presidente Giovani Gionédis. Naquela época o clube, envolto em penhoras e dívidas infindáveis (não que elas tenham deixado de existir), via-se na iminência de perder seu centro de treinamento, o que obrigou o presidente a se desfazer de jogadores importantes da equipe - desaguando no rebaixamento de 2005.
Por ter sido a primeira oportunidade em que os torcedores viram o clube ser rebaixado dentro das quatro linhas, somado a algumas atitudes pouco educadas do presidente da época, surgiu uma grande aversão ao dirigente, culminando, inclusive, com uma passeata para a sua destituição - o que não veio a ocorrer.
Todavia, se aquele movimento não atingiu seu objetivo imediato, sem dúvida serviu para tirar a torcida Coxa-Branca de um certo estado letárgico que até então se encontrava. Os acontecimentos se seguiram, o clube voltou à elite do futebol brasileiro e aquele presidente saiu de cena.
Em 2009 novo rebaixamento e com ele a barbárie. Sem dúvida aquele episódio não é motivo de orgulho para nenhum torcedor Alviverde, pois o nome da instituição restou manchado por conta de uma selvageria que não caracteriza a torcida Coxa-Branca. Punido e tentando se reerguer, os verdadeiros torcedores do clube abraçaram seu estádio e, embora muita gente tenha abandonado o quadro associativo, alguns milhares de aficcionados se propuseram a apoiar o time em todas as partidas disputadas em solo catarinense e posteriormente no próprio estádio Alviverde. Uma nova prova de que alguns torcedores jamais abandonariam ou se acomodariam com a situação negativa que o clube viesse a enfrentar.
Neste período surgiu o Green Hell - talvez o primeiro movimento nascido nas redes sociais, organizado por torcedores que verdadeiramente se dispuseram a "por a mão na massa".
A força de mobilização deste movimento crescia a cada edição, transformando o Couto Pereira num palco iluminado que arrancava elogios até dos mais céticos cronistas e o temor de jogadores experientes que não escondiam a pressão que sentiam no estádio Coxa-Branca.
Sobreveio a absurda proibição da utilização de materiais pirotécnicos dentro dos estádios e este movimento viu sua última edição na final da Copa do Brasil de 2012, com o polêmico Green Hell Tecnológico - uma tentativa de trazer para dentro do estádio alternativas não vedadas em lei.
Eis que agora temos a "Revolução Verde".
Seu objetivo precípuo é o apoio à instituição Coritiba Foot Ball Club, assim como os demais também apregoavam. Mas como isso funcionará na prática?
Apoio irrestrito ao grupo de jogadores, seja comparecendo em treinos para demonstrar aos atletas que a intenção é buscar o título da competição que o Coritiba venha a disputar, independente de qual seja, seja durante as partidas, quando se busca o crescimento cada vez maior do público no estádio, sobretudo que este público cante, apoie e vibre ao lado dos jogadores Coritibanos a cada jogada, até que haja o apito final do árbitro.
O que se propõe é uma "nova forma" de torcer: transmitir toda a força para aqueles que vierem vestir a centenária camisa verde e branca daqui por diante. Ponto. Nada além disso.
Não há nenhuma orientação ou menção à isenção de cobranças, estímulo à condição de "chapa branca", "vaquinhas de presépio" ou seja lá o termo que queiram utilizar para "batizar" o movimento.
Ao contrário do que possa parecer, os próprios atletas poderão (e deverão) ser cobrados - é o ônus da profissão que escolheram. É assim em todos os clubes, não seria diferente no Coritiba. O ponto chave é a observância da forma e o momento para que tal cobrança ocorra e, neste aspecto, o consenso é que uma vaia durante os minutos em que estejam desempenhando a prática esportiva de nada serve para melhorar seus rendimentos.
Acabou a partida, quer aplaudir? Aplauda! Quer vaiar? Vaie! Quer demonstrar sua insatisfação? O faça! Aliás, ninguém é obrigado a adotar essa nova forma de apoiar a equipe nos dias de jogos ou até mesmo de treinos.
Por falar em cobranças - para deixar bem claro que quando se fala em apoio incondicional refere-se aos momentos das disputas ou aqueles de preparação que as antecedem, destaque-se a possibilidade dos torcedores encaminharem as considerações que entendam pertinentes ao Superintendente de Futebol do clube.
É ônus do cargo de Felipe Ximenes ser cobrado pelos torcedores do Coritiba acerca da montagem de um elenco equilibrado e comprometido, dentro dos limites que o clube dispõe e como tal, deve ser o principal canal de reinvidicações. É assim no Coritiba, será assim em qualquer clube em que ele venha a trabalhar. Ninguém precisa se sentir "desconfortável" ou "constrangido" em lhe encaminhar um e-mail buscando explicações, fazendo críticas ou até mesmo tentando uma conversa pessoal se for o caso.
Em suma: apoio incondicional aos atletas (e comissão técnica) durante os treinamentos e 90 minutos das partidas; cobranças, aplausos ou qualquer manifestação ordeira nos demais momentos; cobrança ao profissional remunerado para a montagem da equipe, assim como ao próprio treinador, tudo em prol de vermos um Coritiba cada vez mais temido e respeitado (especialmente quando atuar em seu território).
A fórmula não é "mágica", não é "nova", não é tão "revolucionária" assim. O que ela requer, no entanto, é a participação daqueles que optem por segui-la, cantando os 90 minutos do jogo, chova ou faça sol, independente do local do estádio onde estejam.
É preciso que aqueles entrincheirados se movam uns na direção dos outros. É preciso que os pré conceitos de parte a parte sejam extirpados. Quem apoia não é "conivente"; quem critica não é "corneta". Não é tão difícil assim!
O Coritiba será muito maior se estes dois lados, baseado no respeito mútuo, saibam coexistir, somando forças. O "Exército Alviverde" será verdadeiramente forte quando observarmos que, com críticas/cobranças, mas também com apoio incondicional nos momentos mais necessários é que a instituição continuará caminhando na direção dos grandes feitos que todos queremos.
Meu lado "revolucionário" conclama: TODOS ao Alto da Glória na próxima quinta-feira. Vamos transformar o Couto Pereira num lugar insuportável para o time das Laranjeiras.
Meu lado "corneta" pede: Marquinhos Santos: não esqueça dos garotos da base, em especial do Zé Rafael e do Luizinho - eles, assim como já demonstraram, poderão ser gratas surpresas nesta busca de um equilíbrio maior do time Coxa-Branca.
União, trabalho e muitos sócios = Coritiba forte e vencedor!
Saudações Alviverdes,
Percy Goralewski
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