
De Torcedor pra Torcedor
Da liderança do Campeonato Brasileiro à fuga de qualquer possibilidade de rebaixamento.
De um calendário recheado com Copa do Brasil e Sulamericana (uma das competições ficaria pelo caminho, pois excludentes) a noventa minutos de um adeus melancólico e vexatório do torneio internacional.
De uma expectativa gigantesca da torcida pelo retorno do craque Alex e um ano vencedor à frustração de ver em campo alguns atletas que guardam uma galáxia de distância do camisa 10 quando o assunto se refere à capacidade técnica.
A exceção fica por conta do Tetracampeonato estadual. Sim, é uma marca importante, faz o torcedor feliz, especialmente quando conquistado diante de seu mais tradicional rival.
Diante de um quadro tão desanimador, tenta-se buscar respostas para o fracasso do planejamento de 2013, muito embora é bom que se diga que o ano não acabou.
Vejo que três fatores foram determinantes para o Coritiba entrar numa espiral descendente.
O ineficiente trabalho de montagem do elenco para esta temporada; a inexplicável quantidade de lesões dos atletas e a má utilização das categorias de base do clube.
Mesmo dispondo de um dos maiores .
Verificando a página do site oficial que apresenta os atletas que compõem o elenco Coxa-Branca, é possível verificar os nomes de doze jogadores para o setor ofensivo, doze. Ei-los: Anderson Aquino, Anderson Costa (Bartola), Arthur, Bill, Deivid, Geraldo, Jânio, Júlio César, Keirrison, Maykon, Rafhael Lucas e Vitor Junior.
Analisando caso a caso, vê-se que Anderson Aquino teve um papel importante na campanha de 2011, especialmente na Copa do Brasil, quando marcou o gol decisivo na semifinal contra o Ceará. Entrou em declínio, houve uma tentativa de negociação com o Botafogo passou por cirurgia, recuperou-se, voltou a campo e em poucos minutos sentiu uma nova lesão.
Anderson Costa é uma aposta. Jovem jogador que poderá no futuro brilhar com a camisa Coxa-Branca.
Arthur é outra promessa do clube. Recebeu diversas oportunidade na equipe principal e, embora tenha marcado o gol da vitória contra o Galo na estreia do Brasileirão, não conseguiu se firmar, mostrando-se na prática como somente mais uma aposta para o futuro.
Bill é um jogador de recursos técnicos muito limitados, quase ausentes até. Ganhou o carinho de boa parte dos torcedores na temporada de 2011 pela sua voluntariedade e correria. Marcou vários gols num time que tinha do meio-campo para frente a seguinte formação: Leandro Donizete, Léo Gago, Marcos Aurélio, Davi, Rafinha e ele próprio... Rodou por alguns clubes, não se firmou em nenhum deles, pediu uma oportunidade ao Coritiba e, recontratado, mostra-se longe, muito longe de ser a solução.
Deivid foi o principal nome que livrou o Coritiba do rebaixamento em 2012. Quando chegou, marcou gols decisivos como aquele em Araraquara/SP contra o Palmeiras, numa verdadeira decisão. É o único atacante que alia experiência (não sendo uma mera aposta de futuro) e qualidade técnica. Infelizmente sofreu uma série de lesões, a mais recente muito séria que o afastou de várias partidas. A esperança é que retorne (como já era esperado) na partida contra o Flamengo na próxima semana.
Geraldo é um caso à parte. Trata-se de outro jovem jogador que se utiliza da velocidade para produzir. Mostra-se um atleta importante taticamente naqueles momentos em que a equipe já construiu o placar e precisa de alguém que puxe os contra ataques. Conta com o carinho da torcida, pois mostra-se um verdadeiro talismã em atleTibas. Lesionou-se e também desfalcou a equipe em vários jogos.
Jânio é um atacante oriundo das categorias de base, cujo nome a maioria da torcida jamais tinha ouvido falar. Na falta de outras opções foi lançado na equipe titular nas últimas partidas e, se não encantou, também não foi o pior homem em campo. É um garoto que tem bom potencial, que pode se firmar.
Júlio César foi a grande esperança de Felipe Ximenes para o ataque Alviverde em 2013. Experiência não lhe falta. No entanto, fato é que mesmo tendo inúmeras oportunidades na equipe titular não conseguiu se encaixar e deslanchar. Mesmo experiente, é possível notar que a ansiedade foi sua principal adversária. Marcou quatro gols contra o Rio Branco em Paranaguá e na comemoração fez o sinal característico do "sai urucubaca", ela não saiu, infelizmente.
Keirrison é um jogador de altíssima capacidade de finalização. Provou isso ao ser artilheiro do Campeonato Brasileiro em 2008. Quem sabe não desaprende. A lamentar as sucessivas cirurgias em seus joelhos e a tentativa obstinada em voltar a jogar e marcar gols. Não está recuperado totalmente, sendo, então, mais uma opção com a qual não se pode contar de forma decisiva em 2013.
Maykon, tal qual Anderson Costa e Arthur, é outra aposta de futuro.
Rafhael Lucas é um jovem talento das categorias de base, começou a temporada atuando nas partidas pelo Campeonato Paranaense, quando lesionou gravemente o joelho. Outro desfalque, outra opção que não se perfaz.
Com a saída de Rafinha, veio o meia-atacante Vitor Junior. Sem dúvida uma boa contratação por guardar muitas semelhanças com o atleta que veio substituir. Rápido, envolvente e que com o passar do tempo será cada vez mais titular.
Em suma, dos doze atacantes, o Coritiba pode contar de verdade no dia de hoje somente com Vitor Junior. Enquanto Deivid não retornar do departamento médico e readquirir ritmo de jogo, as alternativas restantes para fazer dupla com Vitor Junior se revezarão, como já o vem sendo feito, renovando-se, rodada após rodada, somente a expectativa que alguém aproveite a oportunidade e balance as redes adversárias.
Sem marcar gols, o ataque Coxa-Branca é o verdadeiro Calcanhar de Aquiles em 2013. Erros em profusão no momento de avaliar e contratar ao menos mais um atacante que verdadeiramente se apresentasse como opção.
Somado à má formação do elenco, especialmente em seu setor ofensivo, o número absurdo de lesões foi determinante na quebra da "espinha dorsal" da equipe que, mesmo com as dificuldades técnicas de sua formação, estava encaixada e liderou a competição nas primeiras dez rodadas.
A preparação física Alviverde é tema recorrente nas discussões e, pelo fato da maioria dos torcedores não possuírem conhecimento técnico a respeito do assunto (sou um entre eles) tudo que se disser não passará de conjectura, até porque os nomes que compõem o departamento de fisiologia e o departamento médico do clube são absolutamente conceituados.
Entretanto, por se enfrentar quase que por três temporadas consecutivas uma quantidade muito grande de lesões - o que vem sendo determinante na queda de rendimento, surgem contrapontos que afirmam que a pré-temporada realizada na cidade de Foz do Iguaçu pode estar contribuindo negativamente na preparação, por se tratar de um clima bastante quente e úmido.
Como disse, não sou especialista, mas considero necessário que seja feita uma nova avaliação quanto aos critérios utilizados, contrapondo-os com aqueles adotados por outros profissionais para que se possa avaliar o que pode ser feito de diferente.
Uma coisa é certa: o desgastante calendário do futebol brasileiro o é para todas as equipes. Todas elas sofrem com os desfalques por lesões, mas certamente nenhuma delas com mais intensidade que o Coritiba - um sinal evidente de que algo deve ser corrigido para a próxima temporada.
Por fim, a má utilização das categorias de base do clube contribui para que se gaste mais e de forma desnecessária.
No elenco profissional há quinze atletas formados no Alto da Glória, salvo engano: Vaná, Samuel, Rafael Martins (goleiros); Bonfim, Luccas Claro (zagueiros); Abner (lateral esquerdo); Alex, Dudu, Zé Rafael, Luizinho, Thiago Primão (meias); Marcos Paulo, Willian (volantes); Jânio, Keirrison e Rafhael Lucas (atacantes). Vinicius, Emerson Santos e Geraldo, embora jovens, não são oriundos da base Alviverde.
É um número expressivo, inegavelmente. Porém, à exceção dos goleiros, de Alex (por razões óbvias), Willian (que já é um "veterano") e Keirrison (pelas razões já expostas), quais atletas tiveram verdadeiramente uma sequência, mesmo que no campeonato estadual, que fosse?
O caso emblemático é o de Zé Rafael. Um talentoso meia que praticamente virou a partida diante do Arapongas em pleno Couto Pereira e que nunca foi utilizado por Marquinhos Santos como homem de confiança, sendo quase sempre preterido pelo "esforçado" Lincoln.
O jogo contra o Criciúma, por exemplo, foi ainda mais curioso. Se numa ordem normal de "prioridade" para entrar na equipe Zé Rafael tinha tudo para iniciar a partida em solo catarinense, eis que inexplicavelmente Marquinhos Santos escalou o também jovem (e até desconhecido) Vinicius como titular no meio-campo.
O que dizer do lateral esquerdo Abner? Destaque e nome certo nas convocações das seleções brasileiras de base, alvo da cobiça de vários clubes europeus, o atleta parece não "estar pronto" somente para jogar no Coritiba. Como comparativo vem um questionamento: qual é o tamanho da experiência do lateral Diogo contratado para a posição?
Não há dúvida que se tem que ter muito cuidado com o lançamento dos atletas lapidados no Alto da Glória. Não se pode atribuir a eles, de uma vez só, a incumbência de suportar a pressão que a mais tradicional camisa do futebol paranaense naturalmente produz. No entanto, o que chama a atenção é que há um investimento cada vez maior do clube nas categorias de base, as equipes menores volta e meia fazem grandes campanhas nos torneios que disputam e o aproveitamento destes jovens na equipe principal fica em segundo plano quando concorrem com atletas igualmente jovens (e também apostas) que veem de fora.
Com as recentes mudanças no departamento de futebol do clube espero sinceramente que este "cuidado excessivo" com os garotos formados no Alto da Glória não continue caminhando lado-a-lado com as apostas que são contratadas. Jovem por jovem, aposta por aposta, os garotos da casa não comprometem os cofres, pelo contrário.
Como disse, o ano não acabou. Há muito trabalho pela frente. Passada parte da turbulência da última terça-feira, é preciso que se confie no trabalho do jovem Andre Mazzuco, que a escolha do novo treinador seja criteriosa e que os atletas se mobilizem novamente.
Três objetivos bem definidos: 1) Alcançar cinco vitórias o mais rapidamente possível no Campeonato Brasileiro e, a partir desta pontuação, no jogo-a-jogo, pontuar cada vez mais; 2) Não perder o clássico (uma derrota poderá piorar ainda mais o ambiente no Alto da Glória) e 3) Reorganizar a equipe para a partida de volta da Copa Sulamericana. É possível reverter o placar, para tanto há que se trabalhar com muito afinco até lá.
Não poderia deixar de fazê-lo: Jorginho (ex-Portuguesa e ex-cap) é minha sugestão para o comando técnico Coxa-Branca. Trata-se de um treinador relativamente "barato", pulso firme, sabe fazer muito bem a leitura tática das partidas e contribui eficazmente na montagem de equipes competitivas. Só para lembrar, teria sido campeão brasileiro pelo Palmeiras em 2009 não fosse a diretoria do time paulista entender que a foto do título ficaria mais pomposa com a presença de Muricy Ramalho. Foi demitido e o Flamengo agradeceu.
União, trabalho e muitos sócios = Coritiba forte e vencedor!
Saudações Alviverdes,
Percy Goralewski
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