
De Torcedor pra Torcedor
Quase tudo o que penso sobre o jogo (não é clássico) contra o Paraná Clube já foi escrito ou falado. Uma derrota que não estava nos planos, mas que pode ser classificada como sintomática.
Muito se fala da inexperiência de Marquinhos Santos, tanto quanto de sua suposta incapacidade de montar uma equipe competitiva com as peças que tem nas mãos.
Tais desconfianças, iniciadas pela falta de uma apresentação verdadeiramente convincente, encontraram seu ápice na derrota para um adversário que no ano passado encontrava-se na segunda divisão estadual.
Antes de ajudar a jogá-lo na fogueira, creio que uma análise mais global precisa ser feita.
É de conhecimento público que, diante das dificuldades enfrentadas nas competições nacionais, uma tendência que sempre foi defendida é de que os clubes da capital deveriam fazer do estadual um laboratório. Não concordo com a generalização do termo, quando passa a impressão de um certo desdém diante da possibilidade de conquista, contudo, entendo que esta competição serve justamente para que se possa verificar quem tem ou não condições de encarar desafios maiores.
É o que o treinador Alviverde vem fazendo. O evidente não encaixe da equipe é fruto destas variações.
Engana-se porém, quem imagina ser este o único componente das preocupações Alviverdes.
Após uma expectativa muito grande para a temporada 2013, iniciada com o anúncio do retorno do craque Alex ainda no ano passado, era quase senso comum que o Coritiba passaria por cima de todos no campeonato estadual. Digo isso porque, como torcedor, foi impossível pensar diferente.
Esse o primeiro fator que, do lado de fora das quatro linhas, gerou uma grande decepção até o momento em meio aos torcedores.
Internamente, as persistentes lesões de atletas nos quais a torcida deposita suas fichas, como Vitor Ferraz, Emerson, Bottinelli, os desfalques de jogadores considerados titulares para a temporada, como Rafinha e Deivid e a reposição deficitária destes mesmos titulares mostram-se como um panorama altamente preocupante.
Soma-se a isto a presença de atletas de questionável qualidade técnica, como Patric, Eltinho, Chico, Junior Urso, Robinho, Arthur e o inconstante Júlio César. Estes, mesmo com dificuldades, até se compatibilizam ao nível técnico do campeonato estadual, mas o que esperar para as competições nacionais que se avizinham?
Ainda mais complicado que a (in)capacidade técnica de determinados atletas, é a falta de vibração que marcou praticamente todas as partidas da equipe em 2013. E que não se confunda vontade com vibração.
Ao final do jogo de domingo várias foram as cenas de jogadores adversários ajoelhados, se abraçando, comemorando efusivamente a conquista dos três pontos, sobretudo a vitória contra o Coritiba em seus domínios.
A vibração que sobrou para os atletas adversários, faltou para boa parte dos jogadores Alviverdes, mesmo que estes, a cada trinta dias, têm muitos mais motivos para sorrir e se motivar.
Isto é inconcebível. O Coritiba não ganhará jogando no piloto automático ou somente na excepcional qualidade técnica de Alex.
A derrota para os tricolores foi sintomática, como dito. Houve lances que, além de vibração e disposição, não se viu atitude, pelo contrário: a omissão se fez presente ou por falta de capacidade técnica ou por falta de coragem. Refiro-me, como exemplo, ao lateral Patric que, em mais de uma oportunidade, tinha uma avenida pela frente, mas, por omissão, tocava de lado ou para trás, numa clara demonstração de insegurança.
Aí é o seguinte: pra vestir a camisa do Coritiba, além de uma mínima capacidade técnica, é preciso ter coragem.
E o que dizer da atitude absolutamente irracional do zagueiro Pereira? Um jogador tão experiente quanto ele não pode ser líder somente nas palavras ou nos bastidores. Essencialmente dentro das quatro linhas é que sua experiência tem que falar mais alto, mormente nos momentos de maior dificuldade.
Ao empatar o jogo, Alex trouxe o estádio novamente para o lado Alviverde. A virada era questão de tempo. Eis que o zagueirão tratou de facilitar a vida do adversário, uma atitude lamentável e que deve ser fortemente cobrada pela diretoria.
Nesta dinâmica, como computar somente a Marquinhos Santos o resultado desfavorável?
Seu erro foi a não recomposição da zaga. Audácia não pode ser confundida com desnecessária vulnerabilidade, muito embora o erro que originou o terceiro gol rival foi de responsabilidade individual de Willian.
Erros e acertos fazem parte do jogo e as lições ficam, no entanto, é preciso que se verifique o porquê o treinador não recompôs seu sistema defensivo. Entenderei se foi por sua convicção. Se atendeu ao pedido dos atletas passou a caminhar por trilha tortuosa.
Marquinhos Santos tem todas as boas referências de um atleta consagrado como Alex. Penso que no trabalho da semana, suas conversas com os jogadores mais experientes do elenco ajudem na escolha da melhor formação e estratégia. Esta flexibilização, aliás, é digna de aplausos, visto que foge daquela postura autoritária que marca a profissão, mas no dia do jogo, no momento de tomada de decisões é a convicção do treinador que deve imperar – é o ônus do cargo e dele não pode se afastar.
Analisar o todo depois do resultado é fácil. Conjecturas mil surgem ao lado das explicações para este indigesto fracasso.
O que fica de aprendizado é que importa. É preciso que Marquinhos Santos comece a montar a equipe com a formação que entende mais adequada para o momento, preparando terreno para os reforços que lhes serão entregues pelo departamento médico; que os jogadores entendam de uma vez por todas que só com a expectativa criada, com a força da camisa ou no talento do Alex não chegarão a lugar algum (talvez sirva para alcançar o tetracampeonato, mas não servirá para as competições que estão para começar); que o departamento de futebol reavalie seus critérios de contratação e/ou dilação de contratos e que, num contexto geral, esta derrota sirva como um chacoalhão generalizado, ligando toda a máquina Alviverde em 380 Volts.
Como reflexão do quanto é indigesta a derrota em casa para o Paraná Clube é bom que se perceba que até agora a Nike não ganhou da Kanxa...
O tamanho de cada um pode ser aferido com uma comparação tão simplista como essa.
União, trabalho e muitos sócios = Coritiba forte e vencedor!
Saudações Alviverdes,
Percy Goralewski
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