
De Torcedor pra Torcedor
O dilúvio no Couto Pereira e a despedida do Olímpico foram assuntos que rechearam as manchetes sobre os estádios pelo Brasil neste começo de semana.
Não é preciso fazer muito esforço para saber que a quantidade de água que atingiu a capital paranaense no último domingo, aliada à interrupção do fornecimento de energia elétrica ao estádio Coritibano, foi o prato cheio para que novos e alguns maliciosos comentários sobre o maior estádio do Estado do Paraná viessem novamente à tona, numa tentativa de desmerecê-lo.
Recalques ou mágoas à parte, é preciso verificar o que o episódio deixa de lição para a tomada de atitudes que possam melhorar as condições do estádio. Sem energia elétrica um grave problema ficou evidente dentro e fora das quatro linhas. Com o restabelecimento desta rapidamente o problema se desfez. Para não ficar refém do serviço prestado pela Copel, que o clube estude a viabilidade de instalar um grupo gerador a fim de evitar que tais alagamentos tomem conta novamente de suas instalações, evitando o falatório de quem deveria se preocupar com a injeção de dinheiro público em obra particular aqui mesmo em Curitiba.
Contando com um clima totalmente oposto àquele que pairou sobre Curitiba, a torcida do Grêmio, entre orgulho e tristeza, despediu-se do seu antigo estádio, após tantas páginas de sua história escritas no estádio Olímpico de Porto Alegre.
Foram cenas realmente emotivas e que me fizeram projetar uma hipotética despedida do Monumental Couto Pereira.
Confesso que não sei explicar como me portaria nesta hipotética despedida. Uma coisa é certa: meus olhos não ficariam "secos" por muito tempo.
Contudo, afastando o aspecto emocional da despedida real da torcida do Grêmio ou da despedida hipotética da torcida do Coritiba, importa abordar o aspecto patrimonial que atinge o primeiro e poderia atingir o segundo clube.
Tendo tido a oportunidade de tomar conhecimento de parte do contrato firmado entre o Grêmio e a OAS, confesso que fiquei bastante surpreso com alguma de suas cláusulas. A surpresa se deu pela aceitação das mesmas por parte do time gaúcho.
Com a proximidade da famigerada Copa do Mundo no Brasil e com a sedimentação da nova ordem do futebol moderno, é evidente que os clubes precisam encontrar alternativas para evoluir, especialmente no campo patrimonial.
Para tanto há somente duas formas: ou sacrifica seu próprio patrimônio (entregando ao investidor para que este erga um novo estádio - ficando ao final da operação com a área da antiga praça esportiva, bem como com o direito de exploração da nova casa por um espaço de tempo predefinido) ou se esbalda com a farra do dinheiro público, em meio a negociações sem escrúpulos.
Há exemplos para ambos os casos: no primeiro o Grêmio e Palmeiras e, no segundo, A. Paranaense e Corinthians.
Para uma melhor compreensão acerca da modalidade privada na busca de um novo estádio, imprescindível a leitura deste texto que, embora longo, esmiuça detalhadamente os pontos mais polêmicos da negociação havida entre Grêmio e OAS.
Caso queira entender os pormenores da modalidade pública na busca por patrimônio particular, os conceitos de legalidade, ética e vergonha na cara exprimem maiores explicações que qualquer texto escrito.
E o que isso tem a ver com o Coritiba? Tudo.
Como clube que busca se posicionar entre os mais organizados do país, o Coritiba não pode se dar ao luxo de não acompanhar esta nova era. É imprescindível que busque uma alternativa para modernizar seu estádio ou aliená-lo para o recebimento de um "zero quilômetro", sem que tantas cláusulas façam a instituição sangrar por décadas. Se assim não agir, certamente as décadas vindouras o deixarão "comendo poeira".
Entre entregar a terceiros seu patrimônio erguido com muito suor ou rasgar qualquer norma ética ou moral, uma terceira hipótese surge como alternativa: a reconstrução do próprio estádio localizado no Alto da Glória.
Desde já é preciso ressaltar: não tenho conhecimento de nenhuma informação neste sentido, mas a reconstrução do setor da Rua Mauá leva-me a crer que a remodelação do próprio estádio Couto Pereira seria a solução mais adequada e a menos onerosa.
Evidente que, SE esta foi a decisão do grupo gestor Alviverde, haverá a necessidade de parcerias com investidores para a reconstrução do estádio em quatro ou mais etapas. O clube por si só não terá condições de readequar seu estádio contando com as verbas que recebe de patrocínio ou do quadro associativo que insiste em não passar da casa dos trinta mil.
Aliás, creio que uma parcela ínfima dos torcedores ainda não associados se sensibilizaria com um também hipotético projeto de reconstrução do estádio com recursos provenientes do sacrifício pessoal de cada um de seus torcedores. Os mais abnegados abraçariam a causa, os demais esperariam as coisas acontecerem para depois contribuírem, à semelhança da máxima: "montem um time campeão, que a torcida paga", como se a realidade financeira que permeia o futebol ainda a contemplasse.
Em meio a esta terceira via caminha o Coritiba. O anúncio da "nova reta da Mauá" causou alvoroço. Alguns torceram o nariz e outros entenderam o espírito da coisa.
Penso que este é o melhor caminho a ser seguido (SE este realmente foi o escolhido), nem que leve um tempo bem maior e muito sacrifício para a remodelação daquilo que já é patrimônio da coletividade Coxa-Branca.
Entre ver seu clube passar a contar com um patrimônio novo, mas imaterial por décadas; escolher a imoralidade para o crescimento a qualquer custo, mesmo que com sacrifício alheio e coletivo ou passar por um longo período de reconstrução sustentável, qual o melhor caminho a seguir?
União, trabalho e muitos sócios = Coritiba forte e vencedor!
Saudações Alviverdes,
Percy Goralewski
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